O Abelardo Barbosa dos bastidores Chacrinha - O Velho Guerreiro estreia hoje nos cinemas e narra a trajetória do comunicador pernambucano que peitou a censura e triunfou na TV

Publicação: 08/11/2018 03:00

Foi Fernanda Montenegro, quando Andrucha Waddington lhe disse que não estava conseguindo o ator para fazer Chacrinha - O musical, quem soprou no ouvido do genro. “Meu filho, tem de ser Stepan.” Convidado, Stepan Nercessian retrucou que não sabia cantar nem dançar, mas isso nunca foi um empecilho. Fez Chacrinha tão lindamente, apagando-se no personagem, que o filho do biografado lhe confessou: “Tenho ido ao teatro todo dia, mas não para ver o musical. Para reencontrar meu pai.”

Mais um capítulo desse revival de Abelardo Barbosa se completa hoje, com a estreia do filme de Andrucha Waddington com Stepan Nercessian: Chacrinha - O Velho Guerreiro. A dupla que fez o ícone da TV no palco não está transpondo o musical para o cinema. O filme, proposto ao diretor pelos produtores, é mais sobre o Chacrinha dos bastidores. Como ele criou seu personagem, levou-o para a televisão, peitou a censura, foi chutado da Globo e voltou triunfalmente. De cara, Andrucha disse que não queria, nem faria um filme chapa-branca. Mas há quem, na crítica, o acuse de haver amaciado com a emissora. “Imagina, o Chacrinha diz que ali tem mais cacique que índio. E o filme é sobre relações, incluindo a dele com o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), que era de amor e ódio.”

Chacrinha teve um affair com Clara Nunes? A sugestão é mais que evidente, mas Andrucha nunca os mostra na cama. E o reencontro, depois que ela já ficou famosa, é belo. A Clara Nunes da ficção elogia a dedicação da mulher de Chacrinha na vida, e Carla Ribas, que faz o papel, é tão magnífica quanto Stepan. Como um cara feio, brega virou o maior ícone brasileiro do século 20 (segundo Andrucha)? Talvez porque Chacrinha, o homem, a lenda, fosse impossível de enquadrar. Tinha aquela família disfuncional. Tudo conspirava contra. Ele virou o jogo. O filme é sobre amores. Termina onde começa o musical.

FORA DOS PALCOS
“Procuramos um recorte realista para chegar ao material do filme: pela dramaturgia, buscamos passar pelos bastidores de aspectos profissionais, e contar quem era Abelardo fora dos palcos. Todos conhecem o palhaço, mas poucos sabem do homem por trás deste personagem. Tudo em cena serve à história”, comenta o diretor Andrucha Waddington. Para o filme, além de Stepan, ele contou com o talento de Eduardo Sterblitch, ambos na pele do Velhos Guerreiro, um pernambucano, ex-estudante de medicina, que veio a se afirmar, na realidade, como locutor de rádio.

“O desafio era enorme. Tínhamos que fazer uma viagem no tempo e falar de um personagem que é conhecido por um público que, hoje, tem 40, 45 anos. Mas, igualmente, tínhamos que apresentar para um público que tem abaixo de 40 anos e não conheceu o Chacrinha. São pessoas que podem até ter ouvido falar mas não entendem a dimensão do fenômeno Chacrinha e da proporção que ele tinha na cultura nacional”, ressalta Waddington, que em dois momentos teve o cinema servindo a personalidades musicais como Maria Bethânia (Pedrinha de Aruanda) e Gilberto Gil (Viva São João!).

Cinebiografias

Não se trata de coincidência: nos próximos dias e meses, os cinéfilos terão pela frente cinebiografias que, de um modo ou de outro, partilharam de momentos marcantes no palco do programa de auditório comandado por José Abelardo Barbosa. Dentro de três semanas, um dos habitués no palco do Cassino do Chacrinha também ocupará as telas. Com o longa Minha fama de mau (dirigido por Lui Farias), o Tremendão Erasmo Carlos terá seu talento retratado nos cinemas pelo ator Chay Suede. Centrado nos desdobramentos da eterna paixão dos brasileiros por figuras indissociáveis à Jovem Guarda, entre as quais Roberto Carlos (Gabriel Leone), Carlos Imperial (Bruno de Luca) e Wanderléa (Malu Rodrigues), Minha fama de mau promete demonstrar o apego de Erasmo, ainda tateando as primeiras notas com o violão, a ícones que nunca deixou de celebrar: Chuck Berry
e Elvis Presley.

Em cartaz em alguns cinemas brasileiros, mas não ainda em Pernambuco, My name is now, Elza Soares, documentário criado por Elizabete Martins Campos, mostra outra realidade da diva Elza Soares, outrora uma figura emblemática nas animadas tardes de sábado do Cassino do Chacrinha. “O filme é visceral, orgânico e experimental como a própria voz da Elza Soares. Destaco como traços dela presentes na obra, a força criativa, vontade de vencer e capacidade de dar a volta por cima”, observa a realizadora.