A Elza Soares que há nas mulheres Musical em cartaz neste fim de semana no Teatro Guararapes traz a força e a superação de uma das artistas mais inspiradoras do país

EMANNUEL BENTO
emannuelbento@gmail.com

Publicação: 19/01/2019 03:00

Há quatro anos, uma das cantoras mais aclamadas da música brasileira voltou aos holofotes da mídia nacional e internacional ao lançar uma obra-prima contemporânea. O disco A mulher do fim do mundo fez o legado de Elza Soares ressoar para novas gerações, ganhando um forte tom político em tempos de extremismos e estimulando a criação de novas produções vinculadas à sua obra em outras linguagens artísticas. O musical Elza é um bom exemplo. Idealizado pela Sarau Agência, a partir de um convite da própria cantora, o espetáculo é interpretado por sete atrizes, todas negras, entre elas a baiana Larissa Luz. Neste final de semana, a peça chega ao Teatro Guararapes, em Olinda, com sessões neste sábado, às 20h, e domingo, às 18h.

Com exceção de Larissa, convidada pela produção, todas as atrizes participaram de uma série de testes para enfrentar o desafio de interpretar Soares da forma mais multifacetada possível. Janamô, Júlia Tizumba, Késia Estácio, Khrystal, Laís Lacorte e Verônica Bonfim foram as escolhidas. Frisando o cunho feminista que sempre atravessou a carreira da sambista, a banda do palco também é composta unicamente por mulheres. Pedro Luís, Larissa Luz e Antônia Adnet assinaram a direção musical com um repertório que inclui clássicos como A carne, O meu guri, Se acaso você chegasse e algumas canções inéditas para o espetáculo.

O texto de Vinicius Calderoni e a direção de Duda Maia fogem dos formatos convencionais de biografias musicais, com uma narrativa não necessariamente cronológica e um elenco de atrizes que intercalam as cenas o tempo todo. Embora a trajetória da homenageada tenha sido marcada por pobreza extrema, violência doméstica, preconceito e a perda precoce de filhos, o musical não faz tanto enfoque nos episódios dramáticos. Duda Maia conta que a ideia é delinear como sua vida é uma ode à superação, como a própria Elza sugeriu. “Ela nunca se colocou como vítima e sempre foi bem-humorada e determinada. Foi isso que percebemos nas conversas que tivemos com ela, além de escrituras e biografias que tivemos acesso. É uma mulher que passou por momentos duros, mas soube usá-los para mudar a realidade e criar arte”, diz a diretora.

“Não à toa que, justamente por isso, a carreira dela hoje tem uma fala totalmente política”, continua. “Elza não é mais uma cantora de entretenimento, mas sim uma voz ativa e política que representa as mulheres de uma forma muito especial. A peça tenta captar essa essência, trazendo a fala da mulher negra, sobretudo nesse momento que estamos vivendo de uma tentativa de rejeição de discursos da militância, que soa como um retrocesso. Buscamos alertar sobre isso, levantar reflexões sobre. As atrizes do elenco também são mulheres que sofreram para estar naquele palco hoje. Quem encabeça tudo isso é a Elza.”

Na narrativa, cada intérprete representa uma faceta diferente da sambista. Nesse sentido, Larissa Luz é a que mais se aproxima da cantora real, por conta de seu timbre vocal e aparência física. As outras seis fazem um misto de Soares com suas trajetórias pessoais, também marcadas pelo ativismo político. “A produção deixou as meninas à vontade para construir a Elza de cada uma. Todas trouxeram coisas particulares e pessoais. Eu optei por me aproximar mais da original, mas não deixei de ser eu também. Fui tentando achar uma motivação própria para cada gesto no palco, para entender de onde essas emoções dela partiam”, diz Larissa Luz.

“Acho que, no final das contas, acabamos mostrando que a homenageada é múltipla. Ela tem inúmeras características que perpassam por diversos aspectos da mulher brasileira. É como se nós estivéssemos instigando cada mulher a sentir a Elza que tem dentro si”, completa a cantora e atriz, que foi atração no festival Rec-Beat em 2018. Durante o processo de criação do musical, ela ainda assinou a canção inédita Rap da vila vintém, que integra o repertório. Desde o lançamento, em junho de 2018, o musical venceu diversas premiações, com destaque para o Prêmio Reverência (Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Autor) e Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (Melhor Dramaturgia).

Serviço

Musical Elza
Quando: sábado às 20h, domingo às 18h
Onde: Teatro Guararapes (Avenida Prof. Andrade Bezerra, S/N, Salgadinho, Olinda)
Quanto: Plateia Especial - R$ 100 e R$ 50 (meia), Plateia - R$ 90 e R$ 45 (meia), Balcão R$ 60 e R$ 30 (meia), à venda na bilheteria, no Ticketfolia e no site www.eventim.com
Informações: (81) 3182-8020