O sincretismo religioso de Maria Bethânia
Documentário em estreia hoje no Cinema São Luiz mostra a relação da cantora com o catolicismo e o candomblé e sua ligação com a cidade de Santo Amaro
CAIO PONCIANO
caio.ponciano@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 14/02/2019 03:00
“Trabalhei o ano inteiro na estiva de São Paulo só pra passar fevereiro em Santo Amaro”, canta Maria Bethânia, no samba de roda Santo Amaro ê ê, sobre a Festa de Fevereiro, que ocorre entre 24 de janeiro e 2 de fevereiro, dia no qual Nossa Senhora da Purificação é celebrada na terra da cantora, no Recôncavo Baiano. Essa forte relação de Bethânia com Santo Amaro, o sincretismo religioso adotado por ela - que transita entre o catolicismo e o candomblé - e o vitorioso desfile da escola de samba Mangueira em sua homenagem, realizado em 2016, norteiam o documentário Fevereiros, dirigido por Marcio Debellian, que estreia hoje no Cinema São Luiz, no bairro da Boa Vista.
O cineasta já trabalhou com Bethânia nos documentários Palavra (En)cantada, sobre a relação entre poesia e música, e em O vento lá fora, onde ela e acadêmica Cleonice Berardinelli releem poemas de Fernando Pessoa. O recorte religioso A menina dos olhos de Oyá, escolhido pela escola de samba carioca, foi o que motivou Debellian a acompanhar de perto e registrar essa homenagem à cantora e à orixá Iansã. “Assim que tomei conhecimento desse enredo, sabia que seria algo grande e que merecia algum registro. Não tive tempo de captar recursos, apenas reuni, às pressas, uma verdadeira equipe de guerrilha para começar as filmagens”, conta. As gravações começaram em 2015, no barracão da escola de samba, quando o desfile estava sendo concebido.
Além de obviamente trazer depoimentos da Abelha Rainha da MPB, Fevereiros conta ainda com as participações dos irmãos dela, Caetano e Mabel Veloso, do carnavalesco Leandro Vieira, responsável pelo desfile da Mangueira, da porta-bandeira da Verde e Rosa Squel Jorgea, do historiador Luiz Antonio Simas e do cantor e compositor Chico Buarque. “Filmamos Bethânia e Mabel no quintal de Dona Canô (mãe da cantora). Caetano e Bethânia têm uma relação linda e, no filme, revelam laços espirituais muito bonitos. Chico e Bethânia se gostam muito e as cenas deles no filme rendem boas gargalhadas”, antecipa. “Tive uma preocupação de não ser invasivo. Eram momentos muito especiais para Bethânia, durante a festa do carnaval ou diante da santa em seu momento de fé. Queria que ela pudesse viver plenamente e se esquecesse de que havia uma câmera ali. Ela não tinha um compromisso de atuar no filme, simplesmente estava vivendo e me permitiu acompanhar isso, sabendo, claro, que eu respeitaria seu espaço.”
Fé e devoção sempre foram elementos fundamentais na vida e carreira de Maria Bethânia. Por este motivo, o sincretismo da santo-amarense se torna a principal abordagem do documentário. Por meio das crenças de Bethânia, devota de orixás e santos católicos, o diretor ressalta que Fevereiros apresenta um Brasil tolerante, que conjuga fé com fé, onde é possível cultuar santos de religiões que não são a sua. “Tudo em Santo Amaro se misturou de uma maneira que nenhuma fé se sobrepõe à outra ali, todas convivem bem. O Recôncavo é o lugar no Brasil que mais recebeu negros escravizados trazidos da África. A Bahia soube misturar as tradições africanas, indígenas e portuguesas e transformá-las em expressões originais brasileiras em relação à música, religião e festas populares”, explica.
Esses aspectos ditos pelo cineasta são apresentados no filme conforme nos aproximamos de Santo Amaro e acompanhamos a construção do carnaval da Mangueira. O longa já rodou 29 festivais de cinema pelo mundo, passando por países como Canadá, França, Rússia, Suíça, Espanha, Itália, Chile, Uruguai, Congo e Senegal, e também recebeu o prêmio de Melhor Filme no 10º IN-Edit Brasil e a Menção Honrosa do Júri na competitiva Ibero-americana do 36º Festival Internacional do Uruguai.
O cineasta já trabalhou com Bethânia nos documentários Palavra (En)cantada, sobre a relação entre poesia e música, e em O vento lá fora, onde ela e acadêmica Cleonice Berardinelli releem poemas de Fernando Pessoa. O recorte religioso A menina dos olhos de Oyá, escolhido pela escola de samba carioca, foi o que motivou Debellian a acompanhar de perto e registrar essa homenagem à cantora e à orixá Iansã. “Assim que tomei conhecimento desse enredo, sabia que seria algo grande e que merecia algum registro. Não tive tempo de captar recursos, apenas reuni, às pressas, uma verdadeira equipe de guerrilha para começar as filmagens”, conta. As gravações começaram em 2015, no barracão da escola de samba, quando o desfile estava sendo concebido.
Além de obviamente trazer depoimentos da Abelha Rainha da MPB, Fevereiros conta ainda com as participações dos irmãos dela, Caetano e Mabel Veloso, do carnavalesco Leandro Vieira, responsável pelo desfile da Mangueira, da porta-bandeira da Verde e Rosa Squel Jorgea, do historiador Luiz Antonio Simas e do cantor e compositor Chico Buarque. “Filmamos Bethânia e Mabel no quintal de Dona Canô (mãe da cantora). Caetano e Bethânia têm uma relação linda e, no filme, revelam laços espirituais muito bonitos. Chico e Bethânia se gostam muito e as cenas deles no filme rendem boas gargalhadas”, antecipa. “Tive uma preocupação de não ser invasivo. Eram momentos muito especiais para Bethânia, durante a festa do carnaval ou diante da santa em seu momento de fé. Queria que ela pudesse viver plenamente e se esquecesse de que havia uma câmera ali. Ela não tinha um compromisso de atuar no filme, simplesmente estava vivendo e me permitiu acompanhar isso, sabendo, claro, que eu respeitaria seu espaço.”
Fé e devoção sempre foram elementos fundamentais na vida e carreira de Maria Bethânia. Por este motivo, o sincretismo da santo-amarense se torna a principal abordagem do documentário. Por meio das crenças de Bethânia, devota de orixás e santos católicos, o diretor ressalta que Fevereiros apresenta um Brasil tolerante, que conjuga fé com fé, onde é possível cultuar santos de religiões que não são a sua. “Tudo em Santo Amaro se misturou de uma maneira que nenhuma fé se sobrepõe à outra ali, todas convivem bem. O Recôncavo é o lugar no Brasil que mais recebeu negros escravizados trazidos da África. A Bahia soube misturar as tradições africanas, indígenas e portuguesas e transformá-las em expressões originais brasileiras em relação à música, religião e festas populares”, explica.
Esses aspectos ditos pelo cineasta são apresentados no filme conforme nos aproximamos de Santo Amaro e acompanhamos a construção do carnaval da Mangueira. O longa já rodou 29 festivais de cinema pelo mundo, passando por países como Canadá, França, Rússia, Suíça, Espanha, Itália, Chile, Uruguai, Congo e Senegal, e também recebeu o prêmio de Melhor Filme no 10º IN-Edit Brasil e a Menção Honrosa do Júri na competitiva Ibero-americana do 36º Festival Internacional do Uruguai.