A trajetória de poder de Roberto Marinho A biografia Roberto Marinho - O poder está no ar lança luz no tempo em que o carioca não gozava dos prestígios adquiridos ao comandar um dos maiores conglomerados de mídia da América Latina

EMANNUEL BENTO
emannuel.bento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 01/07/2019 03:00

Roberto Marinho iniciou sua carreira profissional como repórter e secretário particular de seu pai, Irineu, dono do jornal O Globo. A ocupação não durou muito tempo. Dias após a fundação do veículo, Irineu sofreu ataque cardíaco. Aos 21 anos, o jovem carioca não se considerava experiente para assumir a direção da empresa e passou a responsabilidade para Euclydes de Mattos, que veio a falecer em 1931. Então com 26 anos, Roberto teve de assumir o cargo às vésperas da ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas. Era um cenário fértil para a atuação de um empresário que se angariou de épocas conturbadas nas instituições para alavancar seu negócio. Uma característica que marcaria sua imagem pública até a atualidade.

As gerações nascidas após a década de 1970 já conheceram Marinho como um dos homens mais influentes do Brasil, uma espécie de autoridade do “quarto poder”. A biografia Roberto Marinho - O poder está no ar (Nova Fronteira), do jornalista capixaba Leonencio Nossa, lança luz justamente nesse tempo em que o carioca não gozava dos prestígios que adquiriu ao comandar um dos maiores conglomerados de mídia da América Latina, revelando curiosidades formidáveis no meio de informações históricas significativas.

Autor de livros como Viagens com o presidente, em parceria com Eduardo Scolese (Editora Record, 2006) e O rio - Uma viagem pela alma do Amazonas (Record, 2011), Leonencio Nossa começou a idealizar a biografia de Marinho após ler o livro Chatô, o Rei do Brasil. A proposta original era englobar um período que compreendia a criação da TV Globo, em 1965, até a sua morte. Durante a apuração, o jornalista compreendeu que era preciso ir até as raízes do empresário. O poder está no ar se tornou uma primeira parte que compreende seu nascimento até a criação do Jornal Nacional, em 1964. A segunda e última edição será lançada no segundo semestre de 2020.

Para entender os primórdios da carreira de Roberto é impossível não falar de seu pai, Irineu Marinho, que acumulou desafetos da elite carioca por idealizar um veículo voltado aos subúrbios. O fato de sua mãe ter sido uma negra era um dos alvos de crítica dos concorrentes. Roberto, inclusive, foi o filho que mais herdou os traços afrodescendentes, algo que sempre lidou com certo desconsolo. “Roberto chegou ao poder pendendo para as demandas do brasileiro médio. Ele não tinha influência da elite mais intelectualizada ou cultural, teve dificuldade para alcançar esses setores. Seu poder se expande de forma mais ampla com a criação do Jornal Nacional, que encerra essa primeira parte”, diz Leonencio, em entrevista ao Viver.

“Sempre trabalhei com o triângulo do testemunho pessoal, documento e minha própria impressão da história”, continua o autor. “Falar do comecinho do século 20, no entanto, foi difícil, porque tive que deixar de falar com pessoas importantes que viveram com Roberto. Para minha surpresa, consegui testemunhos de pessoas que já estavam na casa dos 90 anos e conviveram com ele na década de 1940, sobretudo na época do Estado Novo. Entender alguns personagens secundários que circundam o Marinho é também entender a conjuntura, análises econômicas, políticas e sociológicas da época, pois eram pessoas que faziam ligações de empresas com o poder público”, continua o autor.