O rei das animações Filme mais assistido do mundo em 1994 e símbolo do renascimento da Disney, O Rei Leão estreia hoje nos cinemas

Publicação: 18/07/2019 03:00

O Rei Leão, aquele com o felino metido a Hamlet, completou 25 anos no mês passado. Para celebrar o feito, a Disney entrega uma refilmagem hi-tech, com personagens recriados digitalmente e um elenco de dubladores-cantores de grife, dessa que é uma das joias de sua coroa. Mas a nova versão, que estreia hoje, não vem sozinha. Vem na esteira de releituras de animações do estúdio, sobretudo daquelas feitas numa era de ouro da história do estúdio e que rendeu obras como A Pequena Sereia, A Bela e a Fera e Aladdin.

Foi uma época em que rosas encantadas, tapetes voadores e outras figuras fantásticas passaram a habitar o imaginário de boa parte dos que nasceram entre os anos 1980 e 1990 e que agora, adultos, voltam aos cinemas para assistir aos remakes. Joias reluzentes de um baú de animações, esses filmes integram uma era considerada a Renascença da Disney. Num intervalo de dez anos, de 1989 a 1999, o estúdio reinventou o gênero, colecionou prêmios, voou alto nas bilheterias e lançou filmes ainda adorados.

Mas o caminho até essa era de exuberância não foi fácil. Como diria o imperador de Mulan, de 1998, “a flor que desabrocha na adversidade é a mais rara e bela de todas”. Foi justamente em meio a problemas financeiros e criativos que os Walt Disney Animation Studios deram início à bem-sucedida década.

Filmes que a antecederam, como O caldeirão mágico, de 1985, foram rechaçados pela crítica e decepcionaram na bilheteria, mergulhando o departamento de animação da Disney em incertezas. Seus funcionários chegaram a ser realocados para um prédio fora do quartel-general do Mickey, uma decisão que visava privilegiar a produção de filmes com atores.

Mudanças na gestão, no entanto, desencadearam um dos períodos mais férteis da empresa. Buscando inspiração nos grandes musicais da Broadway, a Disney contratou Alan Menken e Howard Ashman, então novatos na cena teatral nova-iorquina, para compor a trilha de sua aposta para 1989, A Pequena Sereia.

O sucesso foi tremendo, seguido pela primeira animação indicada ao Oscar de melhor filme, A Bela e a Fera, e Aladdin, até chegar O Rei Leão, em 1994, considerado o ponto de virada da Renascença - depois dele, bilheterias e críticas foram ficando menores. De toda essa safra dourada, A Bela e a Fera foi refilmado, Aladdin está em cartaz, Mulan estreia no ano que vem e A Pequena Sereia, O Corcunda de Notre Dame e Hércules já estão na fila.

Se originalmente essas tramas foram concebidas num cenário problemático, elas agora renascem num contexto totalmente diferente. A Disney tem hoje nas mãos franquias lucrativas, como Star wars, os filmes de super-herói do chamado Universo Cinematográfico Marvel e Toy story, além de figurar entre as dez marcas mais valiosas do mundo, segundo a revista Forbes. Mesmo assim, volta ao passado e investe em obras à prova de fracasso.

Na visão de Jon Favreau, diretor do novo O Rei Leão, porém, a tendência não é orientada pelo departamento financeiro. “Eu acredito que sempre que uma tecnologia é criada, há uma chance de explorar histórias passadas para descobrir se continuam relevantes”, diz. “Faz parte da tradição cinematográfica.”

TECNOLOGIA
A novidade deste novo longa é sua tecnologia, já que, diferente de outras releituras, esta não é uma live-action, ou filme com atores de carne e osso. Ainda é animação, mas, em vez de desenho, tem imagens geradas por computador. A equipe desenvolveu novas técnicas para chegar aos efeitos. “Criamos um game de realidade virtual para múltiplos jogadores, no qual a equipe pôde entrar no mundo animado e, lá dentro, regular as câmeras”, explica o diretor. “Todos estávamos nesse ambiente virtual, tratando o longa como um live-action, porque ele tem uma estética jamais vista.”

Além do aspecto técnico, outro chamariz da refilmagem é o estrelado elenco de vozes, encabeçado por Beyoncé e Donald Glover, grifes que aumentam o alcance da estreia. “Eu acho incrível que a animação seja um dos tipos mais fortes de cinema atualmente”, diz Favreau. “Foi com a Renascença que elas passaram a ter apelo não apenas para crianças, mas para todo o público. E as histórias, as músicas e a arte envolvida nesses filmes elevaram o gênero a uma forma de arte relevante novamente.”

Sucesso
Em 1994, não teve igual: O Rei Leão foi o filme mais assistido no mundo inteiro. O êxito se estende em muitas das colocações ocupadas pela animação. Até hoje, é o 42º filme mais visto no mundo, ocupando a quarta posição entre animações mais assistidas nos Estados Unidos e ainda fica entre os 20 longas mais populares, em meio aos norte-a mericanos.

Surpresas
O novo O Rei Leão traz cenas idênticas da animação original lançada há 25 anos, mas, apesar disso, não é uma cópia refeita com animais reais - ou quase, já que tudo é digital. Há boas surpresas programadas. Não é spoiler, mas se você não quiser saber de nenhum detalhe sobre a nova versão - ou se nunca ouviu falar sobre as atrocidades de Scar e os conselhos que Simba recebe do pai - não leia o quadro abaixo.

As mudanças (pode conter spoilers!)

MUFASA

Um dos momentos mais tristes dos filmes Disney, a morte do rei no desenho começava com Scar levando Simba para um vale, falando sobre uma “surpresinha” de Mufasa. Desta vez, tio e sobrinho caminham pelo vale onde, segundo conta o vilão, todos os grandes leões aprenderam a rugir. Scar pede para que Simba continue a treinar, que só assim ele vai crescer e ficar poderoso igual ao pai, e sai de fininho para atrair a debandada de gnus. Outro momento diferente foi a forma como Scar mata o irmão. Na animação, ele agarra as patas de Mufasa, fala “vida longa ao rei” e depois solta o leão. Desta vez, como se já não bastasse a tragédia, ele ainda acerta três golpes no rosto do irmão antes de soltá-lo para a morte. A cena forte bate com a ideia da Disney de fazer uma versão mais realista do que o desenho.

TIMÃO E PUMBA
Os amigos viraram uma das referências do filme de 1994, e a versão realista deles continua sensacional. Quem está com o desenho fresco na memória vai lembrar algumas brincadeiras da recente adaptação que ligam diretamente ao passado, como Pumba falando a palavra “pum” e percebendo que Timão não o proibiu desta vez. Outras piadas também combinam muito bem, como a hula de Timão, que desta vez força um sotaque francês engraçado enquanto pumba fica parado com a boca aberta na hora de tentar chamar a atenção das hienas de Scar. O novo O Rei Leão ainda explora mais os amigos do javali e do suricato, não apenas com piadas certeiras, mas também dando destaque para uma versão em coral de The lions sleep tonight com outros animais da selva.

SCAR
Durante a rixa entre seu governo e as leoas, Scar tem como plano se casar com Sarabi para que, segundo ele, os outros animais comecem a respeitá-lo no novo cargo e ele possa ser um rei de verdade. Na primeira versão, o vilão pede apenas que a viúva de Mufasa consiga alguma presa para os animais famintos. Ainda assim, ambas as interpretações mostram Scar agredindo a leoa assim que ela fala que Scar não é “metade do rei que foi Mufasa”.

HIENAS
Kamari, Shenzi e Azizi tiveram papel fundamental em O Rei Leão original. Já no remake, o trio aparece mais dissolvido. Uma das mudanças é Shenzi, que se torna agora a líder incontestável do bando das hienas. Outro momento inédito é uma batalha entre Shenzi e Nala no ato final, para deixar ainda mais evidente que a hiena é uma guerreira corajosa e, como comandante de seu grupo, não fugiria da poderosa leoa.

NALA
Se no original Nala encontra Simba quando estava atrás de comida para o bando, desta vez ela simplesmente vai embora em busca de ajuda para destronar Scar e seu exército de hienas.

No novo O Rei Leão, Nala observa Scar e planeja sua fuga, se escondendo do vilão em um dos momentos mais tensos do filme. Por fim, quem a ajuda na jornada é o pássaro Zazu, que desta vez não é preso quando o tio de Simba toma o poder.

RAFIKI

Jon Favreau explorou mais o significado de ciclo sem fim com uma epifania de Rafiki sobre Simba estar vivo. Na animação de 1994, o sábio macaco era presenteado com o segredo pelo vento, quase uma visão mística e romântica de um sinal do salvador do reino. Já agora, um pedaço da juba de Simba entra em uma longa jornada: os fios de cabelo servem de material para o ninho das aves, passa pelo estômago de uma girafa ao se misturar com alimento, se transforma em dejeto, que é carregado por insetos até chegar às formigas, que carregam folhas e o pelo de Simba até onde está Rafiki.