O fino da MPB tocado há 50 anos MPB4 celebra a trajetória de sucessos que cruzaram gerações em show neste sábado no Teatro RioMar

ANDRÉ SANTA ROSA
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Publicação: 17/08/2019 12:00

Do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), em meio ao frenesi de 1964, um grupo de estudantes universitário decidiu criar uma banda. Aquiles, Magro, Ruy e Miltinho, mesmo contra o desejo dos familiares, mais afeitos a suas carreiras no ensino superior, montaram a MPB4. Ao longo de 50 anos de trajetória, o grupo se tornou um dos mais importantes da MPB, cruzou gerações e gravou grandes canções para públicos enormes. Neste sábado, celebra a memória com uma apresentação no Teatro RioMar, no Pina, às 21h. Os ingressos custam de R$ 50 a R$ 160.

O grupo carrega no nome a sigla da Música Popular Brasileira, que se tornou um termo com vida própria e acabou sendo usado como noção de gênero musical, englobando diversas sonoridades, estéticas e gerações. Em 2016, o grupo lançou o CD O sonho, a vida, a roda viva. No ano seguinte, lançou a versão ao vivo, gravada no Sesc Ginásio, no Rio de Janeiro. A banda volta a entrar em turnê para celebrar o lançamento do álbum em CD e em DVD, disponível agora nas plataformas digitais.

Em 50 anos, a formação do MPB4 foi alterada duas vezes. A primeira foi em 2004, quando Ruy Faria saiu por divergências. Ele faleceu no início de 2018, devido a uma pneumonia. A segunda foi o falecimento de Magro Whagabi, vítima de câncer, aos 68 anos. A atual formação do MPB4 é: Aquiles Reis (voz), Dalmo Medeiros (voz e viola), Miltinho (voz e violão) e Paulo Malaguti Pauleira (voz e teclado) - os dois últimos são responsáveis pela direção musical.

Milton Lima dos Santos Filho, o Miltinho, em entrevista ao Viver, conta os percalços que a banda enfrentou com a saída dos dois membros. “Foi muito traumático. A do Magro é mais traumática, porque ele era o arranjador do grupo, o diretor musical. Ele não só saiu da banda, saiu da vida. Ruy saiu inicialmente em 2004, quando a gente estava quase comemorando 40 anos. Foi um trauma também, porque foi uma coisa que não ficou muito clara, teve uma sensação estranha, um descontentamento. Já o Magro ficou com a gente até o fim. Chegou a fazer show em cadeira de rodas. Ele não reclamava de nada, subia no palco e se apresentava. Infelizmente, piorou depois de 2011”, conta o músico. “Quando ele faleceu, achamos que a banda não ia continuar. Ele era razão do MPB4 existir, era o maestro, deu o norte pra gente, descobriu o som.”

O MPB4 reformulou sua formação com dois nomes de peso: Dalmo e Paulo, ambos do grupo Céu da Boca. A banda presenciou diversos momentos da situação política no Brasil ao longo dos anos. “O MPB4 sempre foi um conjunto de resistência, um repórter da vida do brasileiro. Vivemos uma fase horrível da política brasileira, tivemos músicas censuradas, shows censurados. Não foi só uma censura artística, foi também econômica, já que proibiram a gente de trabalhar. Até que, em 1979, tivemos uma abertura, e com ela veio um sopro mais leve”, afirma o cantor. Ele também conta que é natural que algumas músicas voltem ao repertório, com mais intensidade política dado o momento político que vivemos.

O show passeia por vários núcleos, com canções da história do grupo e as diversas parcerias e os trabalhos recentes. No repertório, estarão canções como Milagres (Breno Ruiz e Paulo César Pinheiro), Desossado (João Bosco e Francisco Bosco), Ateu é tu (Rafael Altério e Celso Viáfora), Brasileia (Guinga e Thiago Amud), A ilha (Kleiton Ramil e Kledir Ramil) e A voz na distância (Paulo Malaguti Pauleira). Não ficam de fora clássicos como Roda viva (Chico Buarque), Cicatrizes (Miltinho e Paulo César Pinheiro), A lua (Renato Rocha), Partido alto (Chico Buarque) e Oração ao tempo (Caetano Veloso).