Teatros que contam a nossa história Livro Teatro em cena, que será lançado hoje, faz um apanhado tipológico de casas de espetáculos do estado, umas ainda existentes, outras demolidas

Publicação: 22/08/2019 03:00

Foi buscando sair da obviedade em seu trabalho de conclusão do curso de arquitetura na Universidade Católica de Pernambuco que a arquiteta Luiza Andrada decidiu desenvolver, em 2012, uma pesquisa com levantamento tipológico de edifícios e casas de espetáculos do Recife, sobretudo suas salas. Um tema pouco abordado na área. O resultado é um interessante apanhado histórico que identifica construções ainda existentes e outras demolidas, ao longo dos séculos 20 e 21 - um total de 44 teatros, sendo 29 de fato para exibição de espetáculos e 12 como espaço de apresentações artísticas dentro de outros edifícios - outros três (Ideal Cinema, Dramático e Faz que Olha) foram listados, mas não foi possível identificar as datas de construção por falta de registros. A relação contempla desde o mais antigo, o Teatro Apolo (1840), até a última edificação neste período, o Luiz Mendonça (2011).

Hoje, Teatro em cena - Edifícios e casas de espetáculos do Recife (Bureau de Cultura, 161 páginas) será lançado como livro, às 18h, na Livraria Jaqueira (Rua Antenor Navarro, 138, Jaqueira). Na ocasião, Luiza fará uma breve explanação da publicação, que teve orientação da professora e arquiteta Amélia Reynaldo e produção-executiva de Clarisse Fraga. A obra teve incentivo do Fundo de Incentivo à Cultura do Estado de Pernambuco (Funcultura). Os exemplares serão vendidos por R$ 30.

A obra apresenta as variações das edificações, hierarquias e sua relação com o contexto urbano, o período histórico e a sociedade que produziu esse patrimônio material. Além disso, destaca a carência de estudos mais aprofundados e específicos sobre essas edificações, mesmo sendo algumas delas protegidas por uma legislação que, na teoria, garante a preservação. “É notória a necessidade de difusão desse conhecimento dos prédios culturais da cidade. E o livro é uma forma de ampliar esse conhecimento e contribuir para a sua preservação e valorização”, avalia.

Durante a pesquisa, Luiza Andrada notou que o teatro sempre teve uma grande aceitação por parte do público do Recife desde as primeiras encenações ao ar livre - assim eram as primeiras manifestações teatrais em Pernambuco, pelas ruas mais antigas de Olinda e Recife. Apenas em 1722, a capital passou a contar com um teatro permanente, com a construção da Casa da Ópera, denominada depois de Teatro São Francisco, demolido em 1850.

Depois, com a chegada dos cinemas no Recife, em 1895, várias casas de espetáculo foram usadas nos primeiros anos para exibição cinematográfica, como o Teatro de Santa Isabel. Também houve a proliferação de cines-teatros, como o Pathé e o Royal, na Rua Nova, e o Polytheama, na Barão de São Borja. Em meados do século 20, muitas casas de espetáculos foram transformadas em cinemas e igrejas evangélicas. Os edifícios próprios para teatros implantados em lotes urbanos não foram mais construídos.

A ideia da autora foi fazer uma relação do contexto urbano no qual a sociedade recifense estava inserida no final do século 19 e início do 20, quando a cidade vivia um crescimento, uma efervescência social, política e intelectual, onde se buscavam novas formas e espaços de convivência que sofriam influência de aspectos culturais de países europeus, especialmente a França. A construção de teatros traria a modernidade desejada. “Ir a uma casa de espetáculos era um novo acontecimento social, um evento importante onde às pessoas podiam ver e ser vistas”, destaca Andrada.