O senhor das capas Pernambucano Alcides Burn completa 20 anos no ofício de produzir a identidade visuais de álbuns de bandas de heavy metal nacionais e estrangeiras

Publicação: 19/10/2019 03:00

Subversão de símbolos sacros, guerras, deuses nórdicos: desde os anos 1970, a cultura visual que permeia o heavy metal habita o repertório da cultura pop. São inúmeras as capas de álbuns icônicas, como Master of puppets, do Metallica (1986); Powerslave (1984) do Iron Maiden ou o disco homônimo do Black Sabbath (1970). No Recife, o capista Alcides Burn completa 20 anos no ramo, com um currículo de produções para bandas nacionais e internacionais.

O trabalho deu ao artista notoriedade no metal, chegando a curador do festival Abril Pro Rock. A partir da paixão de sua mãe, Alcides se tornou aficionado por música e filmes. Com a audição de trilhas sonoras e as troca de fitas cassetes com amigos, o artista foi formulando seu repertório. “Muitos amigos meus tinham banda na época e eu desenhava capa de EP ou demo. Nos anos 1990 meu tio me deu um computador. Aí começou de fato minha carreira de artista gráfico, porque estudei muito os programas ao ponto de me viciar em Photoshop (risos)”, explica.

Daí por diante, foi aprimorando sua técnica até criar uma assinatura, que são capas montadas a partir da colagem, geralmente de bancos de imagens gratuitos, com texturizações e elementos visuais violentos, típicos do heavy metal. O artista assina artes de bandas como Krisiun (Brasil), Funeratus (Brasil), Keep of Kalessin (Noruega), Acheron (EUA), Beneath the Flesh (EUA), Iconoclasm (Bégica) Neuroticos (Japão) e Blood Red Throne (Noruega).

Com um Jesus Cristo de Aleijadinho e uma capa com diagramação simples, Alcides mostra com orgulho o CD de The last prayer (2000), do Decomposed Gods. Foi seu primeiro trabalho, com muito menos elementos que os feitos hoje em dia, mas que transmitem o peso denso e atmosféricos que o gênero evoca. Hoje, as capas são exuberantes, com demônios, caveiras e outros ícones do horror e do metal. “Meu pai achava estranho eu passar a tarde mexendo em imagem de demônio. Na verdade ele achava que eu estava brincando no computador. Até que ele viu que chegava dinheiro. Entendeu como trabalho e passou a respeitar”, lembra.