O homem que amava pequenas vidas Morreu ontem, aos 61 anos, o diretor de cinema carioca Chico Teixeira, que fez poucos, mas aclamados filmes, como Ausência e o premiado A casa de Alice

Publicação: 13/12/2019 03:00

Há tempos Chico Teixeira vinha lutando contra o câncer de pulmão. Seguia trabalhando - o projeto de um novo filme, Dolores, foi escrito durante o tratamento e deve ser finalizado em 2020. A doença o derrotou. Ele morreu ontem, aos 61 anos. Carioca, fez poucos filmes, mas bastaram para colocá-lo no rol dos melhores diretores de sua geração.

Ele começou no documentário, com Favelas, velhice. Obteve reconhecimento com Criaturas que nasciam em segredo e Carrego comigo. Como ficcionista, realizou A casa de Alice e Ausência. O documentário traçou um caminho - comprometimento com a realidade social e humana, um gosto pelo diferente. Criaturas aborda o mundo dos anões, procurando despi-los do folclore que tece tantas fantasias a seu respeito. Carrego é sobre gêmeos, e como eles também podem ser especiais, unidos por características comuns, mesmo quando separados.

Na ficção, Chico encontrou o tema da família. A casa de Alice passou no Panorama do Festival de Berlim, em 2007. Uma manicure, mãe de três filhos. Uma família disfuncional - o marido a trai, ela sai com outros homens, os filhos levam vidas ocultas. Em Ausência, o ângulo é o do filho, um garoto que trabalha na feira e se sente responsável pela família, após o abandono pelo pai. Serginho (Matheus Fagundes) tem 14 anos e fica dividido entre a namorada e a atração por um homem mais velho, o professor vivido por Irandhir Santos. Talvez busque nele um substituto para o pai, o homem maduro percebe as implicações afetivas e sexuais, assusta-se.

Chico amava as pequenas vidas, os solitários. Escrevia o roteiro, dirigia, montava. Dizia que cada etapa tinha seu encanto e suas dificuldades, mas o melhor de tudo era o trabalho com atores e atrizes. (AE)