Sai Ben, entra Bob Após 20 anos explorando o repertório de Jorge Ben Jor, Los Sebosos Postizos estreiam no Recife o projeto de tributo a Bob Marley

EMANNUEL BENTO
emannuel.bento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 13/12/2019 03:00

A criação de um alter ego pode ter várias finalidades para um artista. Trazer outra faceta estética, contar nova narrativa ou simplesmente tocar projetos com mais irreverência e sem o peso do nome original. Tudo isso pode ser mencionado no projeto Los Sebosos Postizos, criado pela banda pernambucana Nação Zumbi no início dos anos 2000, nas vésperas do lançamento do álbum Rádio S.Amb.A. - o primeiro após a morte de Chico Science. A ideia era homenagear Jorge Ben Jor, dono de um dos repertórios mais poderosos da música nacional. Eis que, 20 anos depois, os Sebosos se reinventam para explorar a obra de Bob Marley & The Wailers, precursores do reggae.

Jorge Du Peixe (vocal), Lúcio Maia (guitarra), Dengue (baixo), Da Lua (percussão) e Samuca (que assume a bateria pela primeira vez no grupo) integram a formação, junto com o tecladista Carlos Trilha e o guitarrista Pedro Baby. Após passar por São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, a nova fase do projeto fará primeiro show no Recife hoje, a partir das 21h, no Baile Perfumado, no bairro do Prado, Zona Oeste da capital. A banda olindense Academia da Berlinda também se apresentará no evento, com show que encerra a turnê nacional Nada sem ela.

“A ideia de tocar Bob Marley é antiga. É uma obra extensa, então é um desafio para a gente. Vamos trazer suas músicas para a nossa perspectiva sonora”, explica Jorge du Peixe, em entrevista ao Viver. “O bom dos Sebosos é que não precisamos tocar igual, mas sim fazer novas versões. O rastafári do The Wailers foi alterado para ser mais aceito na América, então não dá para esperar algo totalmente reggae.”

O vocalista afirma que é difícil sintetizar como são as releituras justamente porque o reggae é um ritmo muito permissível. “A espinha dorsal do reggae sempre esteve presente na Nação Zumbi. É uma batida diferente, um riff inesperado. Os Wailers são muito tidos como rockers, embora tocassem reggae. Isso sem falar no potencial de revolução das letras.” Mas o que se pode dizer, em geral, é que as faixas lançadas entre 1974 (quando o grupo começa a assinar como Bob Marley & The Wailers) e 1980 vão ganhar vida com uma sonoridade mais próxima do rock experimental, que sempre marcou esses músicos pernambucanos.

O repertório contempla hinos do reggae como Is this love, Three little birds, Stir it up, Jamming e Redemption song, mas não deixa de lado faixas “menos óbvias”, mas que também não são “b-sides”. As façanhas que Bob Marley conseguiu ao se colocar como um músico cosmopolita da América Central se assemelham, aliás, com a própria criação da Nação Zumbi, com jovens visionários em um Recife empobrecido da década de 1990.

“A gente sempre ouviu muito reggae, desde a época de Chico. O dub, que é traço psicológico do reggae, deu origem a quase tudo o que vemos aí hoje: do hip hop ao dubstep”, diz Jorge. “Bob Marley & The Wailers tem uma música ultrassofisticada. Invadiu o mundo e hoje está aí. E tem aquela máxima, né: quem não gosta de reggae, bom sujeito não é.”

Serviço

Los Sebosos Postizos e Academia da Berlinda
Quando: hoje, às 21h
Onde: Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado)
Quanto: a partir de R$ 55