"Sempre falo sobre cultura, porque salva vidas"

Publicação: 22/02/2020 03:00

Entrevista - Rayssa Dias // MC

Você desde cedo tinha interesse por brega, mas em uma pegada mais romântica. Muitos MCs passaram por essa transição do românico ao bregafunk. Como foi isso para você?

Eu sempre me envolvia muito com a galera da música, porque gostava de cantar. Mas só parei e pensei “poxa, quero ser cantora”, quando surgiram oportunidades de participar de bandas. Mas, nesse meio, notei que as mulheres eram todas tratadas de forma diferente. Então, sabia que ia cantar, mas não exatamente como seria isso. Sempre tive muitas inquietações que começaram a partir de atitudes machistas em casas de shows e espaços de música. O bregafunk começou para mim nesse contexto, quando fiz a música Fica na tua, com Lady Lay, em 2018. Foi quando comecei a ver que tinha necessidade de ter MCs mulheres no bregafunk.

O meio do MC ainda é muito masculino. Tem existido alguma abertura no bregafunk?
Acho que hoje em dia, por ter muita gente batendo na tecla do feminismo e ocupação de espaços, os próprios homens estão tendo mais cautela. O bregafunk está evoluindo junto disso. Mas é uma coisa que requer tempo. Também está tendo uma ocupação forte de um público LGBT, que eu tenho uma boa relação.

Você está em fase de produção do primeiro disco. Como está sendo o processo?
Eu tô tendo muita ajuda da Aqualtune, minha produtora. É um trabalho que não dá pra fazer só, principalmente trabalhando com outras coisas, como eu. Mas tô querendo lançar ainda neste ano. É um processo que requer muita grana e tô na fase de produzir mais algumas letras antes de gravar. Vai ser um disco também de bregafunk.

Alas mais conservadoras criticam o bregafunk com as acusações de ter pouco conteúdo ou reflexão. Mas você tem uma pegada engajada e de crítica social muito forte. De que forma isso surgiu no teu trabalho?
Existem muitas coisas que acontecem ao nosso redor, que quando é criança você começa a se perguntar “como essa pessoa da minha comunidade morreu” ou “por que aquela pessoa entrou no mundo do crime?”. Então sempre tive interesse em pensar nisso. Desde os 13 anos, eu trabalho em escola, estagiando como auxiliar de sala. Eu fiz um curso técnico de administração, mas quis sair dessa área administrativa porque sofri muito preconceito para ser contratada, por conta do meu cabelo e coisas assim. É um mercado de trabalho muito difícil. Agora estou voltando para o curso de serviço social e trabalho em um colégio como educadora social para crianças e adolescente de 6 a 17 anos. Eu dou aula sobre protagonismo, ciências humanas, sempre falo muito sobre cultura, porque cultura salva vidas.