Canal Diario (30/05)

Publicação: 30/05/2020 07:30

"Estou com muita sede de mostrar cada vez mais de mim, até mesmo como uma forma de carinho e gratidão”
Rafa Kalimann, ao lançar canal no YouTube com entrevistas

FOI BEM

O HBO Max estreou o streaming na quarta e, entre as produções, está o reality Legendary, que aborda competições de voguing e performances.

FOI MAL

A denúncia de chantagem de Anitta contra Léo Dias, do Fofocalizando, mostra o quão raso pode ser esse universo de babados e fofocas das celebridades.

Space Force // Série faz piada com poder e militarismo

O filme M.A.S.H. estreou há 50 anos. Seu autor, Robert Altman, morreu há mais de dez. Bem, Space force é o primeiro produto audiovisual (série, filme, novela, o que seja) de produção grande a manter uma relação tão desrespeitosa com as Forças Armadas. Devemos isso a Steve Carell, criador da série, e que depois de demonstrar que era também bom ator dramático volta a suas origens com esta série em que é acompanhado pelo cientista John Malkovich e um belo elenco de apoio.

Os anos 1970 deram início a uma era de admiração irrestrita ao militarismo no cinema americano. Foi logo depois de os EUA levarem aquele pega na Ásia: Vietnã, Camboja e tudo mais. Desde então bate-se continência em posição de sentido. Batemos todos, aliás. Ou batíamos até Carell ter a ideia de criar uma força espacial americana disposta a conquistar o espaço não para fins científicos, mas como ocupação e poder mesmo e de atribuir a si próprio, general Mark Naird, o cargo de líder dessa unidade, secundado pelos cientistas Adrian Mallory (Malkovich) e Chan Kaifang (Jimmy O. Yang).

Talvez o espectador brasileiro sinta um tanto familiar a antipatia e o menosprezo dos militares pelos cientistas, dos quais no entanto, não podem livrar-se (no campo espacial, em todo caso). O embate rende bons diálogos, diga-se. Mas não é o único: na fogueira de vaidades do militarismo, Naird tem de se entender com outro general de quatro estrelas, seu rival Kick Grabaston, que vive para atormentá-lo.

HBO // Ruffalo em sua melhor atuação

Na primeira cena do primeiro episódio de I know this much is true, Thomas, um dos irmãos gêmeos interpretados por Mark Ruffalo, está em uma biblioteca falando alto e chamando a atenção dos outros frequentadores. Até que, para horror de todos, tira uma navalha e decepa sua mão direita. É assim, com passagens angustiantes, que a história dessa ótima série dramática é contada. Talvez o momento não seja ideal para lançar um produto tão sinistro como esse, mas quem der uma chance ao primeiro episódio vai ficar interessado até o fim. A série é exibida aos domingos pela HBO, às 22h, e neste será exibido o quarto de seis capítulos.

O programa é muito bem produzido e mostra cuidado com o cenário, a música, ailuminação, todos sufocantes. De quebra, tem o melhor trabalho de Mark Ruffalo até agora, seja na TV, seja no cinema.

Tecnicamente apurada, This much... conta uma história triste e profunda sobre a batalha de um par de gêmeos idênticos que nasceram em uma família cheia de segredos. No presente, que na série é o fim dos anos 1990, aos 40 e poucos anos, Thomas é esquizofrênico, enquanto Dominick é um homem angustiado que se sente em eterna dívida com o irmão. A mãe dos dois (Melissa Leo, ótima) nunca revelou a identidade do pai. O padrasto controlador e abusivo pegava no pé de Thomas na infância, pois o considerava fraco.

Décadas depois, quando a trama se passa, Dominick tem vida estável comparada com a de seu irmão, que vive em uma instituição para doentes mentais. Até que acontece o incidente de abertura da série.

Depois de passar por um hospital, Thomas é levado para um manicômio judiciário e tirá-lo dali vira a obsessão de Dominick. A diferença entre Thomas e Dominick não está apenas no fato de o ator ter convencido os produtores da série a fazer um intervalo de sete semanas para poder engordar 13 quilos e voltar para interpretar o irmão esquizofrênico.

A atuação dele é tão primorosa que Thomas e Dominick têm vozes diferentes, expressões diversas, posturas próprias. Não há o menor risco de o espectador confundir um e outro, ou, mais grave ainda, perceber que os dois são interpretados pelo mesmo ator. Por mais que a minissérie seja sombria, testemunhar o enorme desafio encarado por Mark Ruffalo é um prazer.