Muita estrada até o disco de estreia Com várias composições gravadas por outros artistas e trajetória em diversas partes do mundo, a caruaruense Isabela Moraes lança o primeiro álbum

EMANNUEL BENTO
emannuel.bento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 25/05/2020 03:00

Mesmo em tempos conturbados para a cultura devido ao coronavírus, a cena musical autoral pernambucana produz. E um álbum foi lançado na última sexta-feira. Estamos vivos é a estreia da caruaruense Isabela Moraes, que até então realizava shows e aparecia nos bastidores assinando diversas composições. Suas músicas já foram gravadas por nomes como Almério e a paulistana Mariana Aydar. Ao longo dos anos, a artista teve a iniciativa de assumir o papel de cantora, selecionando canções que apresentavam uma boa resposta do público em apresentações ao vivo. Por ter esperado tanto pelo lançamento de estúdio, ela optou por não adiar o calendário dos lançamentos na pandemia. Além do disco, foram lançados os singles Ao redor do sol e Tempo de esperas, que ganhou um clipe gravado durante a quarentena.

Cantadas com sua voz forte, as composições ganharam timbres brasileiros, violões virtuosos próximos do folk, guitarras distorcidas que se aproximam do rock e sintetizadores que dão uma certa contemporaneidade, consolidando uma sonoridade próxima do que já vem sendo feito nessa cena autoral de Pernambuco. Estamos vivos foi lançado com o selo paulista Deck. O projeto teve produção assinada por Rafael Ramos e Juliano Holanda, que tem um vasto histórico na função de produtor. Marcelo Jeneci (sintetizadores, acordeon e piano elétrico), Rapha B (bateria), Rogê Victor (baixo), Gilú Amaral (percussão), Lui Coimbra (violoncelo) e Juliano Holanda (guitarra e violão) completam a lista de instrumentistas. Até chegar nessa formação, no entanto, foi um longo período percorrido.

“Eu escrevo desde criança. Por muito tempo, meu maior desejo era que as pessoas gravassem as minhas músicas. A intérprete foi nascendo ao longo dos anos, quando pude participar de festivais e ganhar autonomia no palco”, conta Isabela. Aos 18 anos, ela entrou em um estúdio para gravar um compilado de canções que resultou no demo Agora nunca mais (1998), porém não teve autonomia na produção. O projeto reuniu canções criadas durante um período no Oriente Médio, quando tocava em um hotel nos Emirados Árabes. Dez anos depois, durante uma sessão de ensaio com amigos no Ipsep, subúrbio da Zona Sul do Recife, nasceu o Bandeira em Marte (2008).

Isabela Moraes foi a São Paulo, onde morou no bairro da Penha, Zona Leste, na casa da família de uma amiga. “Eles eram muito fãs de Milton Nascimento, acabei estudando muito a obra dele. Eu sou de Caruaru, então aquela cidade gigantesca provocou um disparate sobre minha percepção de mundo. O Estamos vivos já começou a nascer naquele momento. Comecei a fazer shows com as canções, gestando o álbum”, explica a cantora, que retornou para Pernambuco há dois anos e começou a trabalhar com a Atos Produções.

“Almério já falava que seria ótimo se o Juliano Holanda produzisse um disco meu, mas eu achava isso muito distante. Isso mudou quando voltei para o Recife. Conversamos e surgiu a possibilidade de cantarmos em uma conferência do evento Rio 2C, no Rio de Janeiro. Foi lá que a Deck viu o show e fez o convite para a gravação”, conta. Juliano despontou como produtor do disco, que já tinha um repertório basicamente pronto. “Estava tudo intuitivamente aceso em mim, pois testei tudo com as reações dos públicos. Passei por muitas calçadas, bares, ensaios e cantei muito na noite.”

São reflexões sobre existência, vivências, empatia e celebração que aparecem nas temáticas das canções. “Quem disse que pobre sofre mais / Não sabe nem bem o que ele diz / Na vida para ser bem mais feliz / precisa de pouco para viver”, canta Isabela em Quem disse?, um dos destaques do álbum.  “A temática gira em torno do agora, de perceber o outro, o ser humano como ele é. Em um momento em que a arte vem sendo importante ferramenta de elevação de ânimo, acho que sobre humanidade é importante, pois mostra que a fragilidade não nos torna imperfeitos”, finaliza.