Novo longa com Regina Casé Atriz interpreta papel de empregada de um preso da Operação Lava-Jato em Três verões, longa de Sandra Kogut recém-disponibilizado no Telecine Play

Publicação: 21/09/2020 03:00

Diretora com mais prestígio do que prêmios, Sandra Kogut lança-se com Três verões na busca por um público mais amplo. O filme acaba de entrar no catálogo do Telecine Play. A temática escolhida já sugere a intenção: um encontro entre Operação Lava-Jato e corrupção brasileira, mais seus efeitos sobre pessoas de classes pobres. Digo “classes pobres” porque não se trata de operários, ou das pessoas uberizadas, os “por conta própria” da nova economia. Elas são representadas por Regina Casé, a caseira de um ricaço que, pouco após dar uma grande festa, é preso junto com a mulher. Este é o primeiro verão, o de 2015.

Ali, já pontifica Regina Casé, como Madá, a caseira da mansão, que de uma hora para outra se vê perdida, às voltas com os demais funcionários, com salários atrasados, questionamentos policiais etc. Casé é o caminho na busca desse público mais amplo, que aderiu com razoável intensidade ao Que horas ela volta? de Anna Muylaert, alguns anos atrás. Outros tempos e questões.

O segundo verão, de 2016, é marcado pela depressão. O negócio que Madá planejava vai para o buraco, envolvido nas tramoias do patrão, a crise na casa se aprofunda. Começa a surgir um personagem, Seu Lira (Rogério Froes), pai do dono da mansão. Antes um mero fantasma que passava por ali com ar meio demente, ele se torna o centro dos cuidados de Madá.

Passamos a saber, com o tempo, que suas divergências com o filho são muitas. Que a uma geração letrada sucedeu na família uma geração argentária. Seu Lira não gosta disso. Sente-se mais próximo da caseira do que se sentia da própria família. Ao mesmo tempo, Madá vai adquirindo uma nova percepção sobre os antigos patrões, inclusive sobre o fato de absorver seus valores. O lugar torna-se atração turística e Madá guia excursões de barco - aqui morava o fulano, que está preso, ali morava o sicrano, que fugiu. Maneiras de sobreviver, enfim.

O terceiro verão, de 2018, é o mais complicado, qualquer que seja o ponto de vista. Acentua-se a necessidade de viração para manter a casa. A ilha da fantasia de outrora vira ilha da fantasia do presente, quer dizer, aluga-se o lugar para filmes publicitários. (Folhapress)