O tambor de 88 teclas de Amaro Em pocket show intimista exibido hoje, o pernambucano Amaro Freitas mostra toda sua genialidade e versatilidade no piano e apresenta nova música, Batucada

JULIANA AGUIAR
juliana.aguiar@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 30/10/2020 03:00

Ver uma apresentação de Amaro Freitas é experienciar um movimento único das teclas sob os dedos e repensar o piano. Ele une as composições milimetricamente lapidadas e ensaiadas com os improvisos do palco. O músico pernambucano, conhecido por transpor ritmos nordestinos como frevo, baião, maracatu e maxixe para a linguagem do jazz, participa hoje, às 20h, da programação virtual do Festival Arte Como Respiro, do Itaú Cultural. A mostra é fruto do edital de emergência lançado diante da crise que atingiu em cheio a cena artística na pandemia. Foram escalados 15 artistas, com pocket shows gratuitos até domingo. Os vídeos ficam disponíveis por 24 horas.

Em formato intimista, será possível ver bem a interação do artista com o instrumento. “Eu gosto de pensar o piano como se fosse um tambor de 88 teclas, com várias possibilidades e combinações. E me permitir improvisar.” A performance foi gravada no Estúdio Carranca, no Recife. No repertório, três canções autorais: Trupé, Afrocatu e Batucada, as duas primeiras do disco Rasif (2018) e a última antecipando um novo projeto, previsto para 2021.

O processo de concepção musical requer longo período de maturação. “A música precisa de tempo, e a minha cabeça também. É saber que ela nunca vai ser igual, e esse é o momento de crescimento do som, assim como a vida, e os dias que sempre são diferentes. É preciso sair da zona de conforto para chegar em um outro lugar.”

A pandemia iniciou sem que a turnê de Rasif - seu segundo álbum, lançado dois anos após a estreia com Sangue negro - fosse encerrada. Mas a retomada já está prevista e, na sequência, Amaro pretende lançar o novo disco. Uma prévia já poderá ser sentida em Batucada, single que antecipa as referências do próximo projeto, que faz um resgate da conexão com a ancestralidade. “O álbum terá temas e signos que remetem à Africa e à grandeza do povo negro, do nordestino e da nossa cultura. Quero voltar e entender a história do Brasil ancestral, que nos foi contada através do crivo branco, colocando o negro em posição inferior, sem reis, referências ou grandes líderes.”

“O trabalho inicia com Batucada, um samba de roda, que reflete sobre o início dos encontros no Rio de Janeiro e na Bahia, de pessoas que viviam em situação de opressão e se reuniam em torno do ritmo como escape”, adianta. O disco é fruto do edital da Natura, no qual Amaro foi o único pernambucano contemplado.