Gravidade zero, humor dez Os pernambucanos Rodrigo César, na direção, e Fabiana Karla, na atuação, entregam risos e reflexões em Lucicreide vai pra Marte, primeiro filme brasileiro gravado na Nasa e com direito a cena sem dublê em avião que simula gravidade zero

EMANNUEL BENTO
emannuel.bento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 04/03/2021 03:00

“Lucicreide goes to Mars, take one!”. Quando ouvia essa frase, seguida pelo estalo da claquete que anunciava o início das filmagens dentro de uma instalação da Nasa, nos Estados Unidos, a pernambucana Fabiana Karla sentia a dimensão do longa-metragem Lucicreide vai pra Marte, uma coprodução entre a All Screens Films, Fox, Telecine e Globo que estreia hoje nos cinemas brasileiros. A personagem, uma empregada doméstica que ganhou a vida em esquetes humorísticos do Zorra total, agora chega à telona com uma comédia dirigida pelo também pernambucano Rodrigo César (Tá puxado, A presepada e Banana da terra). As locações do filme vão de Olinda, terra natal do diretor, até a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, em Washington.

O filme tem como ponto de partida a solidão da protagonista, que foi deixada pelo marido, precisa criar cinco filhos hiperativos e ainda enfrenta a chegada da sogra. Diante desse contexto, com cenas gravadas em Pernambuco, ela acaba se juntando, por engano, a um grupo de candidatos para uma viagem sem volta a Marte. Antes, precisa passar por uma série de testes na Nasa. Entre os desafios, está um avião que simula a gravidade zero. A aeronave, dedicada ao treinamento de astronautas, partiu de Las Vegas e fez acrobacias sobre o deserto de Nevada, criando sequências reais de flutuação na gravidade.

“Eu realmente fiquei em êxtase. A Lucicreide com aquele lencinho, com uma vassoura na mão, dentro da Nasa”, diz Fabiana Karla, em entrevista ao Viver por videoconferência, quando admitiu que estava se “sentindo em casa por falar com o Diario”. “O filme é um divisor de águas na minha carreira. Quando subimos no avião de gravidade zero, parecia uma eternidade. Eu fui protegida pela coragem da Lucicreide. Eu não sei se faria isso em outro contexto. Vivemos uma aventura real, pois queríamos compartilhar justamente essas experiências com o filme.”

Rodrigo César conta que a ideia para o filme surgiu de forma muito orgânica. “Eu já era fã da Fabiana há muito tempo. A convidei para um almoço no Rio, quando começamos a conversar e surgiu o projeto. Ela me desafiou de cara: ‘vamos fazer um cenário diferente, e se ela for para a Lua? É melhor ir para Marte ‘. O filme partiu de uma vontade que a gente tinha de se desafiar, sair da zona de conforto e entregar essa experiência inusitada”, explica. “O pernambucano tem essa coisa de ser o maior, em ser pioneiro em muitos aspectos. E para isso pegamos uma personagem tão comum. É uma homenagem sincera a quem pode estar bem na sua, ou na casa ao lado.”

Fabiana Karla, que cresceu na Zona Oeste do Recife, relembra que sempre teve um olhar muito particular para o humor, ainda na infância. “Fossem grupos artísticos do interior, como o Coronel Ludugero, interpretado por Luiz Jacinto, em Caruaru, ou olhando para o povo. Tinham aqueles programas na TV com mulheres fazendo denúncias sobre o saneamento básico. Eu achava engraçado aquele jeito, ao mesmo tempo que o protesto era muito honesto e real. Também é um pouco da minha avó, as minhas tias, que ficavam irritadas, tinham calor, chupavam manga. A Lucicreide é um pouco de tudo isso que o meu olhar alcançou”, diz a atriz.

Por ser uma personagem criada para o antigo Zorra total - que num olhar retrospectivo, trouxe várias visões estereotipadas de diversos segmentos sociais -, Lucicreide precisou de uma roupagem mais crível e humanizada para o cinema. Parte desse esforço está na direção de arte de sua casa em Olinda. “A arte foi muito generosa e me permitiu dar pitacos. Eu queria uma casa real, onde você pudesse entrar e ver os pratos para lavar. Qual a grade, as cores, os cheiros, os potes? A gente deu vida a um ambiente em que você pudesse passar o dedo e sentir tudo limpo. Com muita simplicidade, mas com muito amor.”

O elenco de Lucicreide vai pra Marte conta ainda com Adriana Birolli (Luana), Cacau Hygino (Padre João), Ceronha Pontes (Rosa), Lucy Ramos (Comandante Lee), Bianca Joy (Débora), Renato Chocair (Arnaldo) e Isio Ghelman (Watson). A comédia tem produção de Fabiana Karla, Rodrigo César e Tom Nogueira e distribuição da Downtown Filmes e Paris Filmes.