Rádio Clube, patrimônio nosso Primeiro veículo de radiodifusão fundado no Brasil, em 1919, a Rádio Clube AM 720 é oficialmente um Patrimônio Cultural Imaterial do Recife

EMANNUEL BENTO
emannuel.bento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 29/07/2021 03:00

A Rádio Clube AM 720 agora é oficialmente um Patrimônio Cultural Imaterial do Recife. O novo título para a rádio, que integra o Grupo Diario de Pernambuco, é mais do que justo, visto que trata-se do primeiro veículo de radiodifusão fundado no Brasil, em 1919. O fato reitera o protagonismo de Pernambuco nos meios de comunicação, tendo ainda o jornal mais antigo em circulação na América Latina (o Diario) e a primeira TV fundada no Nordeste: a TV-Rádio Clube (1960-1980).

O projeto de lei nº 141/2019, para transformar a rádio em patrimônio, de autoria do vereador Chico Kiko (PP), foi sancionado ontem pelo prefeito do Recife. João Campos (PSB) assinou o documento durante entrevista ao vivo ao programa Manhã na Clube, apresentado pelo jornalista Rhaldney Santos. A publicação no Diário Oficial sairá hoje.

“Uma rádio mais que centenária, sendo pioneira na América Latina e no Hemisfério Sul. Tem história, compromisso com a nossa cidade, com o nosso estado, com a transmissão da verdade e com os valores democráticos”, disse Campos. “A Rádio Clube com certeza dá sua contribuição para o que acreditamos ser importante para a nossa cidade e para o nosso país.”

O vereador Chico Kiko afirmou que teve a ideia para o projeto por sempre ter considerado a Rádio Clube um veículo importante para o estado. “Observei que ela ainda não tinha uma homenagem dessa ordem partindo da Câmara. Eu queria que a aprovação do projeto de lei ocorresse no dia do centenário, em 2019, porém o processo acabou sendo mais lento. Só agora tivemos a oportunidade de aprovar merecidamente. É uma rádio centenária e que merece muito mais.”

A HISTÓRIA

Foi em 6 de abril de 1919 que o grupo de Amadores de Telegrafia Sem Fio, a TSF, se reuniu para registrar a fundação oficial da rádio. Liderados por Augusto Joaquim Pereira, eles praticavam a telegrafia sem fio por hobby, em uma fase ainda experimental, e acabaram sendo protagonistas de uma revolução no mundo da comunicação. Documentos oficiais e publicações em jornais da época comprovam esse vanguardismo. Já no dia 7 de abril, o Jornal do Recife publicou uma matéria sob o título “Rádio Club”, anunciando o fato histórico.

Cabe lembrar que, naquela época, ainda não se pensava em radiodifusão propriamente dita. Só em 2 de novembro de 1920 que foi inaugurada a primeira estação de radiodifusão nos Estados Unidos, a KDKA da Westinghouse, conforme afirma Oscar Dubeux Pinto. A Clube só faz a primeira transmissão em 17 de outubro de 1922, após reorganização, objetivando usar a radiodifusão por meio de um pequeno transmissor de 10 watts de potência. Em fevereiro de 1923, já ouvia-se a transmissão em alguns bairros do Recife.

Contudo, o papel da Clube muitas vezes é minimizado na historiografia produzida no Sueste. Isso porque a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi fundada em 20 de abril de 1923, dois meses depois da transmissão da Rádio Clube. Muitos pesquisadores creditam o pioneirismo à emissora carioca, que em 7 de setembro de 1923 teria realizado a primeira transmissão radiofônica. Os registros fazem referência ao discurso do presidente da República Epitácio Pessoa, feita do Corcovado, tendo ao lado o príncipe Alberto da Bélgica

LEGADO

Para além de qualquer controvérsia, é inegável a relevância da Rádio Clube para a história cultural e política de Pernambuco. O mestre Nelson Ferreira, por exemplo, foi diretor artístico e de programação por quatro décadas. O cronista, repórter e compositor Antônio Maria, e o pioneiro locutor Abílio de Castro são outros nomes que colocaram a rádio em sintonia com a nossa cultura. Foi nela que Chacrinha, Chico Anísio, Lúcio Mauro, Arlete Salles, Capiba, Claudionor Germano e Geraldo Freire iniciaram as carreiras. Intelectuais como Renato Phaelante, Valdemar de Oliveira e Luiz Maranhão também se projetaram através dela. O próprio Luiz Gonzaga ajudou a propagar a Clube pelo país.

A Rádio Clube também foi pioneira no teleteatro, a exemplo da opereta A rosa vermelha (1932), de Valdemar de Oliveira e Samuel Campelo. Nos esportes, foi nesse veículo que se deu a primeira transmissão radiofônica do Norte/Nordeste de jogos de futebol. O locutor Abílio de Castro fez história transmitindo um clássico entre as seleções de Pernambuco e Paraíba na Ilha do Retiro.  

Em Pernambuco, os programas políticos também chegaram às ondas da Clube. A primeira iniciativa foi de Agamenon Magalhães, interventor do Estado Novo em Pernambuco, que chegou a fazer duas transmissões por dia na Rádio Clube, em seu programa Conversa com o Ouvinte. Também foi dela o primeiro radiojornalista de Pernambuco, Mário Libânio. São, enfim, muitas marcas de pioneirismo e serviços prestados para Pernambuco e todo o Nordeste do Brasil.