Conhecimento para fora dos muros da universidade

DANILO LIMA
danilo.lima@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 18/09/2021 06:30

A preocupação social nas teorias freirianas já é conhecida, porém nem todos sabem do legado material de uma forte convicção do educador: a de que universidades deveriam produzir não apenas para si mesmas, mas em prol da sociedade. Esse ideal fez com que ele fosse um dos criadores, na década de 1960, de um órgão para administrar atividades de extensão acadêmica e ajudar a consolidar veículos de comunicação democráticos como a TVU e a Rádio Universitária.

Embora o conceito de extensão já existisse, essas ações eram em geral realizadas esporadicamente e até mesmo alheias às instituições universitárias. Foi através da interação entre a comunidade acadêmica, encabeçada por Paulo Freire, e o Movimento de Cultura Popular que se materializou o Serviço de Extensão Cultural (SEC) na Universidade do Recife, como era conhecida na época a UFPE. A iniciativa foi pioneira nacionalmente. Logo o Serviço se transformou no Departamento de Extensões Culturais, do qual Freire se tornou diretor em 1961, e evoluiu, na década de 1970, para a condição de Pró-reitoria de Extensão e Cultura (Proexc), ativa até hoje.

Para o atual pró-reitor da Proexc, Oussama Naouar, o enfoque dado pelas ideias de Freire à realidade do educando tornou a extensão não uma via de mão única, mas uma troca com a sociedade civil. “Não se trata só de uma perspectiva ‘jesuítica’ na qual a universidade pública levaria o conhecimento às populações vulneráveis. Trata-se de trabalhar a partir das relações sociais nas quais os educandos se encontram. É sobre reconfigurar uma forma de genealogia do conhecimento que dá espaço aos saberes populares, mas que também traz conhecimento crítico.”

Entre 1962 e 1964, Paulo Freire trabalhou para dar início à rádio Universitária AM 820 KHz, que em 1979 ganharia um braço para a banda de faixas FM. Denominada na fundação de Rádio Universidade, ela trazia grade com programas de música popular e clássica, jornalismo, ensino à distância de idiomas e preparatório para o vestibular. Com o golpe militar de 1964, parte da programação foi acusada de subversão e teve que ser excluída, especialmente programas relacionados a movimentos sociais e alfabetização. Como homenagem a seu idealizador, a Universitária AM foi renomeada em 2018 como Rádio Universitária Paulo Freire e se tornou uma rádio-escola anexa à reitoria da UFPE dedicada aos estudantes.

Em 1968, o Departamento de Extensão alcançou novo pioneirismo com a fundação da TV Universitária, a primeira emissora de TV educativa do Brasil. O canal 11 foi inaugurado no dia 22 de novembro daquele ano e logo se consolidou como precursor do sistema brasileiro de comunicação pública. Ao contrário da visão alienante da mídia em geral, Freire idealizou a TVU como forma de integrar a população distante da academia e sem acesso ao material escrito por ela, visto que o analfabetismo atingia cerca de 50% da população na época.