Uma produtiva viagem interior O músico pernambucano lança o EP de estreia, (In)produtivo, com canções cheias de reflexões do período de isolamento social e evidenciando um certo existencialismo

João Rêgo
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Publicação: 01/11/2021 03:00

“O corpo cheio do whisky vazio” é um dos belos versos que ilustra a canção Esparsa, a primeira do EP (In)produtivo, do músico pernambucano Marcelo Cavalcante. E não há jogo de palavras melhor para captar a aura do disco, fruto das reflexões do músico no isolamento social da pandemia. “O disco é uma viagem para dentro, evidenciando um certo existencialismo, na procura necessária de se conhecer. Fui nas profundezas, nas feridas, como uma sessão de terapia em alguns momentos, buscando minha verdade interior e construindo um cenário onde consegui ser mais ‘produtivo’, mantendo um processo com mais equilíbrio e saúde mental.”

A faixa de abertura dá o tom do que vem a seguir, em concisos, mas prazerosos, 12 minutos. A duração é dividida em cinco faixas autorais, sendo uma delas, Esparsa, em parceria com o prolífico  compositor Juliano Holanda, que estreou como single em abril deste ano, e No quê da vida, segundo single, que saiu em setembro. O EP, o primeiro de Marcelo Cavalcante, já se encontra disponível em todas as plataformas digitais.

Cantor e violonista, Marcelo é recifense radicado em Olinda e envolvido com a cultura popular de Pernambuco, onde já acompanhou artistas como Mestre Ferrugem, Dona Cila do Coco e Dona Glorinha do Coco. Lançou-se em carreira solo, com o frevo Alto do Bonsucesso, que saiu no Carnaval de 2019. Na mesma época, Marcelo montou, junto com Juvenil Silva, Marília Parente e Feiticeiro Julião, o grupo Avoada, de música folk regional, com letras que falam do momento atual do país.

Em dezembro de 2019, o músico disponibilizou o compacto O lobo de seu ego infernal, com duas canções e direção musical de Thiago Gadelha, produtor da Toca do Lobo Records. Criou o Samba do Carcará, projeto que mistura música brasileira com a temática da resistência política. Já na quarentena, lançou o single Enfermo. O seu currículo ainda inclui a trilha do espetáculo Vento forte para água, bolha e sabão, com direção musical de Samuel Lira.  

Em (In)produtivo, mais do que a composição lírica autoral, o músico cria uma ambiência sonora específica e complexa para o tom que pretende assumir. Inspirado nas cantorias setentistas, principalmente do Nordeste brasileiro e com sambistas contemporâneos do Sudeste do país, o EP traz elementos tradicionais da MPB e do choro, como cavaquinho, mas com arranjos que apontam para uma linguagem mais pop. É essa miscelânea que toma conta de músicas como Esqueça a luz acesa, Jovem aprendiz, Enfermo, No quê da vida e a já citada faixa de abertura.

No disco, Marcelo assumiu o arranjo, violão, voz, guitarra, cavaquinho e contrabaixo. A assinatura da capa ficou por conta de um dos seus parceiros musicais, Juvenil Silva.