Baile do Menino Deus pelas ruas do Recife Espetáculo natalino será apresentado em forma de telefilme pelo segundo ano seguido, por causa da pandemia, porém renovado em seus temas e estética

JOÃO RÊGO
joao.rego@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 08/12/2021 03:01

O Baile do Menino Deus chega ao público neste ano em novo formato, com transmissão gratuita para todo o Brasil, no site e canal do YouTube do evento, a partir do dia 23 de dezembro, às 20h. A estratégia segue a tônica do ano passado, quando a peça foi transformada em um telefilme devido às limitações impostas pela pandemia. A 18º edição vai além e ressignifica a estrutura do auto para homenagear as ruas do Recife.

Com produção da Relicário, de Carla Valença, criação e direção geral de Ronaldo Correia de Brito, direção para o cinema da pernambucana Tuca Siqueira, direção de fotografia de Beto Martins, assistência de Amanda Menelau e Tomás Brandão, o Baile se tornou uma verdadeira obra cinematográfica.

“Chegou um momento que nos perguntávamos o que fazer diante de tantas dúvidas. Então tivemos que decidir. Conversamos com os órgão do governo e optamos por um filme outra vez. Um filme não pode se repetir, tem que ser inédito, e aí veio a ideia do Ronaldo Correia de Brito de fazer o roteiro por um caminho muito diferente do ano passado”, explica Carla Valença.

Outra novidade são os artistas envolvidos, como o paraibano Chico César e Lia de Itamaracá, que atuaram como solistas. Além deles, o elenco é composto por vendedores ambulantes, uma cigana vivida por Gabi da Pele Preta, Romã Romã por Silvério Pessoa, o Jaraguá pelo músico mineiro Maurício Tizumba, o Anjo por Lucas dos Prazeres, o Boi pelo famoso forrozeiro Flávio Leandro e por Carlos Filho. Com a diminuição de músicos para se adaptar ao formato, novos arranjos foram pensados e uma nova orquestra foi dirigida por Rafael Marques.

A dramaturgia foi reescrita e traz elementos contemporâneos como o Hip Hop de Okado do Canal. Com sua trupe de 16 dançarinos, ele chega ao Teatro Santa Isabel à procura do Menino que acaba de nascer, junto com crianças e dois Mateus (Arilson Lopes e Sóstenes Vidal).

“Ninguém podia fazer o mesmo filme. A saída era fazer uma coisa totalmente diferente. Falei com Carla [Valença] e disse para mudar tudo, porque eu sou uma pessoa muito inquieta e gosto de mexer mesmo naquilo que está dando certo. Até por isso eu trabalho com pessoas jovens, que sempre são mais corajosas. Enfim, eu decidi mexer em toda dramaturgia do espetáculo, fazer sem orquestra com 21 músicos e sem coro adulto. Eu mudei de uma forma para que José e Maria ganharam protagonismo, em um tipo de dramaturgia que as cenas aconteceram dentro do Recife, nas ruas e nas praças”, explica Ronaldo Correia de Brito.

NAZARÉ DA MATA

Nesta edição, a trama que acompanha o nascimento de Jesus teve algumas modificações. Maria (Isadora Melo) mora na cidade de Nazaré, que não fica na Galiléia palestina, mas na zona canavieira da Mata Norte de Pernambuco, e tem o sonho de cursar uma faculdade. José (Márcio Fecher) trabalha como carpinteiro em uma das muitas fábricas de móveis da região, que fabricam os conhecidos “móveis de Gravatá”. Maria está grávida e vem com José ao Recife comprar enxoval para o bebê. Descem do ônibus em um terminal na Rua do Sol, que olha para o Capibaribe e a Rua da Aurora. O casal vai ao Mercado de São José, anda pelas ruas das Calçadas, Direita e São José do Ribamar.

Maria sente as dores do parto e é amparada por José. Em contraponto, dois Mateus e cinco crianças procuram a casa onde irá nascer um Menino Deus. “Nesta edição Maria teve o seu filho e, junto com o marido José, se encontra em situação de rua, ao abrigo do alpendre da casa de espetáculos. Quando, depois de rezas e peripécias, os Mateus e as crianças conseguem abrir a porta da casa/teatro, José, Maria e o Menino, que antes estavam “invisíveis”, se revelam. Imaginados pelos Mateus e as crianças como os donos da casa, mas sem atinar com o significado que lhes é atribuído, o casal e a criança participam de um jogo em que são levados ao palco do teatro por seres encantados, comuns à tradição dos índios Pankararus”, escreve Ronaldo Correia de Brito.

“Eu comecei por em diálogo a dramaturgia encantadora do baile com um certo neo realismo atual. Mantém a essência do baile, as ideias, mas o formato é de cinema, com o mesmo textos e vocações, mas inteiramente novo”, ele completa.

"Ninguém podia fazer o mesmo filme. A saída era realizar uma coisa totalmente diferente. Eu disse para mudar tudo, porque gosto de mexer mesmo naquilo que está dando certo”

Ronaldo Correia de Brito, diretor geral