Pernambuco sempre em alta O cinema pernambucano tem papel de destaque na tradicional Mostra de Tiradentes, que finaliza a 25a edição neste sábado, com grade de filmes disponível on-line

JOÃO RÊGO
joao.rego@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 29/01/2022 03:00

Um dos festivais mais interessantes no circuito da sétima arte brasileira, a Mostra de Cinema de Tiradentes realiza a 25º edição desde a última sexta-feira, em formato online. O encerramento será neste sábado. A programação está disponível gratuitamente no site mostratiradentes.com.br, com exibição de 169 filmes de 21 estados brasileiros em pré-estreias e mostras temáticas - muitos deles seguem em cartaz - e participação de 119 convidados no centro do 25º Seminário do Cinema Brasileiro, com debates, rodas de conversa, oficinas, performance audiovisual, lançamento de livros e exposição virtual.

Nesta edição, o homenageado é o cineasta Adirley Queirós, diretor dos filmes Branco sai, preto fica (2014), e Era uma vez em Brasília (2017). A coordenação curatorial do evento é assinada pelo crítico Francis Vogner dos Reis, que divide com a pesquisadora Lila Foster a seleção de longas-metragens. A curadoria de curtas foi feita por Camila Vieira, Tatiana Carvalho Costa e pelo pernambucano Felipe André Silva.  

Pernambuco marca presença importante em Tiradentes. São nove filmes, em vários formatos e temáticas. Estão presentes desde nomes como Lírio Ferreira, Hilton Lacerda, Jura Capela e Renata Pinheiro, a cineastas novos e promissores, como Fábio Leal, Tiago Calmon, Lucas Andrade e Ayla de Oliveira.

Ainda em exibição neste sábado, Um certo mal-estar, de Calmon, apresenta-se como um filme de quarentena. Com a premissa “um homem toma café da manhã durante a pandemia da Covid-19”, o curta propõe um recorte experimental de imagens de noticiários, carregados pelo contraste da situação pandêmica e a violência do discurso bolsonarista.

Outra obra que traz a pandemia como pano de fundo é o longa Seguindo todos os protocolos, estreia de Fábio Leal no formato. Um dos melhores filmes lançados no festival, o trabalho acompanha a jornada de Chico, que cumpre corretamente todos os protocolos contra o vírus, o que não impede seu desejo de se relacionar sexualmente com outros homens.

Já os curtas Sad Faggots + Angry Dykes Club, de Viq Viç Vic, e Viver distrai, de Ayla de Oliveira, propõem um caminho experimental para traduzir em imagens a potência de corpos dissidentes.

Outra presença marcante é a de documentários. Um deles, Cabocolino, de João Marcelo, retrata a luta de Seu João de Cordeira, um agricultor aposentado de 78 anos, artista popular que tenta manter viva a tradição do Bloco de Caboclinhos do Sítio Melancia, no Agreste de Pernambuco.  

Grade, do pernambucano Lucas Andrade, acompanha as experiências diárias e os sonhos dos moradores da APAC de São João del Rei (MG), um tipo específico de reclusão de liberdade, na qual os apenados assumem a manutenção do espaço, o controle das próprias atividades e de sua segurança.

Também bastante aguardado, Cafi, de Lírio Ferreira e Natara Ney, documenta a obra do fotógrafo recifense Carlos Filho, o Cafi, que durante mais de 40 anos se dedicou a registrar grande parte dos acontecimentos da dança, teatro e da música popular brasileira. É de sua autoria a foto que estampa a capa do disco Clube da Esquina e tantas outras memoráveis na discografia brasileira. Ainda da autoria de Lírio, este em parceria com Hilton Lacerda, o festival disponibiliza Cartola - Música para os olhos (2006). Na linha da música, Manguebit, de Jura Capela, é mais uma obra a documentar um dos mais icônicos movimentos da nossa cultura.

Para finalizar, Carro rei, novo filme da cineasta Renata Pinheiro, ganha uma exibição especial na mostra neste sábado. O filme, que deve estrear em março nos cinemas, foi o grande vencedor do 49º Festival de Gramado, levando os kikitos de melhor filme, a trilha sonora, direção de arte, desenho de som e ator, para Matheus Nachtergaele.