Um beijo, gordo! O Brasil perdeu uma de suas figuras mais engraçadas, simpáticas, inteligentes e talentosas, o ator, diretor, jornalista, escritor, humorista, músico e apresentador Jô Soares, um homem múltiplo e inesquecível

Publicação: 06/08/2022 09:30

Um país inteiro está de luto pela morte de uma unanimidade. Querido por todas as alas, dono de um carisma e talento singulares, com uma longa carreira construída em diversas áreas e especialmente na TV, no teatro, na literatura, José Eugênio Soares, o Jô Soares, faleceu na madrugada de sexta-feira. Ele tinha 84 anos e estava internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde o fim do mês passado para tratar uma pneumonia. Velório e enterro foram restritos a amigos e familiares.

Ator, diretor, jornalista, escritor, humorista, músico, apresentador… entre outras potencialidades, Jô Soares foi um homem múltiplo. Ele ficou conhecido por sempre carregar o humor em suas atividades artísticas. "Viva você, meu Bitiko, Bolota, Miudeza, Bichinho, Porcaria, Gorducho. Você é orgulho pra todo mundo que compartilhou de alguma forma a vida com você. Agradeço aos senhores Tempo e Espaço, por terem me dado a sorte de deixar nossas vidas se cruzarem. Obrigada pelas risadas de dar asma, por nossas casas do meu jeito, pelas viagens aos lugares mais chiques e mais mequetrefes, pela quantidade de filmes, que você achava uma sorte eu não lembrar pra ver de novo, e pela quantidade indecente de sorvete que a gente tomou assistindo", escreveu a esposa, Flávia Pedra.

O artista foi casado três vezes: com Teresa Austregésilo (com quem teve seu único filho, Rafael, que era autista e morreu em 2014, aos 50 anos), Silvia Bandeira e Flávia Pedra.

Jô nasceu no Rio de Janeiro em 16 de janeiro de 1938. Aos 12 anos, o menino foi estudar na Suíça, por onde ficou por cinco anos e onde começou a se interessar por teatro, cinema e literatura. Quando a família precisou voltar ao Brasil, Jô sabia que era a carreira artística que gostaria de seguir.

No início da carreira, fez os filmes musicais Rei do movimento (1954), De pernas pro ar (1956) e Pé na tábua (1957). Em 1958, estreou na televisão no programa Noite de Gala, exibido pela TV Rio. Também teve passagem pela TV Tupi e pela TV Record. Um dos grandes destaques na época foi A Família Trapo, exibido entre 1967 e 1971, em que ele escrevia o roteiro e tinha um personagem. Atuou em 22 filmes.

Na TV Globo, ele estreou em 1970 com o programa Faça humor, não faça guerra. Após 17 anos na emissora, ele migrou para o SBT, onde comandou o talk show Jô Soares onze e meia, por 11 anos. Após esse período, ele retornou para a TV Globo, onde comandou o Programa do Jô, exibido entre 2000 e 2016. Nos talk shows, tinha bordões inesquecíveis, como "Não querendo te interromper, e já interrompendo...", durante as entrevistas, e o célebre "Beijo do Gordo!", forma como ele se despedia do público  

LIVROS

Jô também escreveu para jornais e revistas e é autor de cinco livros: O astronauta sem regime (1983), O Xangô de Baker Street (1995), O homem que matou Getúlio Vargas (1998), Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (2005) e As esganadas (2011).

Em 2018, ao falar com o Correio Braziliense do primeiro volume da autobiografia O livro de Jô, então recém-lançada, o humorista estava prestes a completar 80 anos. Na época, ele já anunciava que haveria um segundo volume da autobiografia e cogitava um terceiro, embora achasse exagero.

Acreditava que dois volumes eram suficientes para contar as mais de seis décadas de carreira. “É uma coisa louca. Tô louco pra fazer 80 porque 79 não é um número redondo. Não consigo ter uma idade cronológica. Eu tenho que estar bem de saúde, de cabeça e de físico”, contou. Quando aceitou o desafio do editor Luiz Schwarcz para escrever a autobiografia, Jô pediu também que não o fizesse de próprio punho e convocou o jornalista Matinas Suzuki para ajudá-lo na tarefa de contar a própria vida.

Na obra, ao falar do Brasil e da carreira, disse: “Continuo sendo um grande observador do nosso país. Acho que, no sentido de comentário público, eu já fiz o que queria fazer. Uma vez o Silvio Santos me perguntou o que dava mais trabalho de tudo que eu fazia. Eu disse: a página da Veja, uma obrigação semanal, toda semana tenho que sentar e escrever. Ele disse ‘aquilo que dá trabalho? Eu leio aquilo em dois minutos!’. Eu disse: ‘é, por isso é que dá trabalho’. Então hoje prefiro ficar assistindo. Se, em algum momento, eu achar que posso fazer uma diferença além da que eu, modestamente, já fiz, pode ser. Mas vou fazer oitentinha.”