Um folclore animado O longa-metragem pernambucano Além da lenda, em cartaz nos cinemas, narra o conflito dos personagens folclóricos que precisam impedir que o Halloween domine o livro das lendas do país

André Guerra
andre.guerra@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 09/08/2022 05:55

Apresentar as lendas do folclore brasileiro de forma lúdica e acessível é um dos vários fatores que fazem a diferença em Além da lenda. Desde 2018, a série animada expande seu universo iniciado na televisão, trazendo uma roupagem peculiar de figuras célebres da cultura popular. Agora transformada em filme e narrando o conflito dos personagens folclóricos que precisam lutar para impedir que o Halloween domine o livro das lendas do país, o projeto levanta sua bandeira de conscientização das crianças sobre a importância de preservar essas histórias que atravessam gerações - enquanto tenta cada vez formas diferentes de abranger o seu público infantil.  

A série, que contou com 13 episódios exibidos na TV Brasil e na TV Globo Nordeste, nasceu em 2015 quando o produtor e roteirista Ulisses Brandão, o diretor Marcos França e o roteirista Erickson Marinho sentiram a necessidade de mostrar o folclore de maneira diferente do que estavam acostumados a ver. Com a intenção de fugir da seriedade excessiva e abraçar as cores e a ludicidade, eles começaram a produzir a animação ao longo dos anos e, além da exibição na televisão em 2018, o projeto também se desdobrou em outras mídias, transformando-se em podcast, nove livros e redes sociais.

Em cartaz nos cinemas, Além da lenda - O filme, primeiro longa de animação produzido em Pernambuco, troca o que poderia ser um enredo didático e distanciado por uma trama cujo ponto de vista é o das próprias lendas brasileiras. Cuca, Curupira, Saci e tantos outros personagens conhecidos são caracterizados de modo vibrante e colorido, buscando uma aproximação com um público que pode ou não já ter tido contato com eles.  

Relembrando as obras que assistiam na infância e adolescência, os realizadores destacam a falta que lhes fez consumir conteúdo infantil brasileiro e regional, e falaram sobre o diferencial de, enquanto criança, reconhecer sua terra em meio à ficção. “A infância da minha geração foi muito marcada por conteúdo estrangeiro, em muitos casos ótimos trabalhos também, mas acho incrível poder proporcionar às crianças, em especial de Pernambuco, algo que foi produzido e pensado por pessoas da sua região, em que irão reconhecer sotaques, gestuais, expressões, cores e música”, comenta Ulisses Brandão, ao Viver.  

Com um humor irreverente e referências inúmeras à cultura pop também, o desenho, nessa transição para o cinema, precisou também se adequar ao espectador adulto. “Pensando a história para o cinema, é necessário um equilíbrio na linguagem e no roteiro do filme para que exista apelo também para o adulto, fazendo valer o ingresso que ele pagou”, reforça o produtor.  

As vozes dos atores Gabriel Leone e Hugo Bonemer - que também gravou a trilha original Nova história -, em conjunto com Anderson Macário, Gabriela Melo, Alex Lima e Mônica Feijó deram vida às versões desses protagonistas e, de acordo com os realizadores, trouxeram uma dimensão ainda maior ao texto. “Foi um privilégio imenso eles terem aceitado fazer parte porque, além da confiança que depositaram no projeto, fizeram um trabalho incrível. Quando vemos aquilo que escrevemos ganhando forma na tela, é uma alegria muito grande”, afirma.

Discutindo sobre o processo criativo, Erickson Marinho ressaltou a preocupação da equipe, composta por 40 profissionais, de trazer para Além da lenda - O filme um dinamismo característico das produções que fazem parte do cotidiano da criança contemporânea. Uma das principais ideias nesse sentido foi atribuir poderes aos personagens folclóricos a partir das suas características, algo que dialoga com o tipo de filme, série e desenho com o qual o espectador infantil está habituado.

“As crianças agora têm muito mais estímulos da tecnologia, do digital e muito mais referências na cabeça. O nosso trabalho com a série, e agora no filme, está sempre se atualizando no para tornar tudo cada vez mais dinâmico, com uma quantidade maior de piadas e referências e muita cor, mas tudo isso sem perder a essência do que queremos passar que é essa conexão e proximidade das lendas com o público”, completa o roteirista.