Consciência para resistir Série documental "Resistência Negra" é lançada no Dia da Consciência Negra com reflexões de pessoas pretas sobre diversos temas

Allan Lopes

Publicação: 20/11/2023 03:00

“A felicidade do negro é uma felicidade guerreira”, bradou Gilberto Gil em “Zumbi” (1984). Filmada em um barracão de escola de samba, a série documental “Resistência Negra”, exclusiva do Globoplay, costura arte e dança para refletir como o movimento negro brasileiro persevera com alegria e valentia. A produção estreia hoje, no Dia da Consciência Negra, e terá cinco episódios que abordam aquilombamento, trabalho, política, cultura, religião e educação.

Rompendo com séculos de narrativa centrada na perspectiva branca, as vozes de pessoas pretas são majoritárias em “Resistência Negra”. Sueli Carneiro, Cida Bento, Lucimar Felisberto, Petrônio Domingues, entre outros intelectuais negros, contribuíram com depoimentos que elucidam o enredo sob a ótica dos reais protagonistas. Vez ou outra, eles são acompanhados por performances cênicas, que incluem a presença de uma criança, interpretada por Lua Miranda, e musicais entoados por Larissa Luz e Djonga.

“‘Resistência Negra’ veio com vários desafios de narrativa: entregar a informação sem didatismo, contar a nossa história, evitar o viés da dor e encantar. Todo mundo sabia da importância de informar e encantar. Mas, para além do encantamento e da informação, era importante imprimir ludicidade, e para isso acontecer, a presença da personagem mirim interpretada por Lua Miranda foi fundamental”, comenta a diretora geral Mayara Aguiar, que também dirige a novela “Elas por Elas”.

A representatividade não é meramente retórica. Idealizada pelo professor Ivanir dos Santos Babalaô, pós-doutor do programa de pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e fundador do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), “Resistência Negra” é um projeto que visa ocupar e reparar espaços, seja nos bastidores ou diante das lentes. “Já deu de sermos representados através das visões eurocêntricas da indústria do audiovisual. Em ‘Resistência Negra’, temos protagonismo preto dentro e fora da tela. São os nossos costumes, a nossa cultura. Algo ancestral. A forma coletiva de construção da série é o aquilombamento que está impreso na tela”, destaca Mayara.

A história de Emília do Patrocínio, Zumbi dos Palmares, Benedita da Silva, Carolina Maria de Jesus, André Rebouças, Francisco José do Nascimento (o Dragão do Mar) e de outras personalidades é revisitada para evidenciar as mudanças das narrativas ao longo dos anos. Por outro lado, nomes contemporâneos como Erica Malunguinho, Conceição Evaristo e Julio de Sá compartilham suas vivências e reforçam que a luta se mantém viva, ativa e continuará relevante para as futuras gerações.

Assim como as entrevistas, a trilha sonora desempenha um papel crucial na condução da série. Djonga e Larissa Luz emocionam o espectador quando cantam “Tributo a Martin Luther King”, de Wilson Simonal. Porém, o rapper mineiro acrescenta uma nova camada na performance impactante de “Fogo nos Racistas”. “O André Siqueira, nosso produtor musical, foi certeiro e captou a energia do projeto. Eu disse para ele que o ‘Resistência Negra’ era coração, portanto, as músicas precisariam pulsar o tempo inteiro. A trilha está o tempo todo incluída na trama da história que vem sendo contada. Cada momento musical é importante para a condução da história, do tema, da entrevista”, conta a diretora.