100 ANOS RáDIO CLUBE » A propaganda no rádio na época da Fratelli Vita Apogeu da propaganda nas emissoras de rádio foi na década de 1940, seguindo até 1960; a partir de então, com a chegada da TV, muitos anunciantes migraram, gerando impacto nos negócios

Silvia Bessa

Publicação: 17/12/2018 03:00

No nº 51 da Rua Direita, Lelino inventou certo dia de testar o microfone que havia voltado do conserto. Trabalhava em uma loja do comércio do centro popular do Recife. Sem pensar muito, soltou uma frase aleatória, brincando com o principal produto das prateleiras de onde trabalhava: “Tecidos a pontapés, tecidos a vassouradas”. Seu Mota, o dono, percebeu que estava diante de um vendedor nato. Decidiu que a sobrinha, Eurides, passaria a escrever os textos e Lelino Manzela os leria: “Você vai ficar aí”, avisou seu Mota. Atendeu, mas Lelino teve depois a inspiração de procurar emissoras de rádio para tentar a sorte no ramo. Deu certo. Na Rádio Clube, a PRA-8, a pioneira, conta que chegou a responder por 80% do faturamento da emissora.

“Eu faturava tanto que tinha uma comissão maior que a das agências”, relata Lelino, em depoimento histórico para o livro de outro radialista das décadas de Ouro do Rádio no estado, Jorge José de Santana (autor de O Rádio Pernambucano por quem o viu crescer, FacForm 2009), concedido em 2007 poucos meses antes de morrer. Para as agências, o percentual era de 20%; para Lelino a comissão chegava a 30%. A confiança no trabalho do vendedor que virou radialista pode ser creditada a Ewerton Visco, então diretor da Clube. “Nunca me preocupei com salário porque meu faturamento era alto. Se existe uma pessoa que não tem queixa do rádio, essa pessoa é Lelino Manzela”, diz Lelino.

Em A História da propaganda do Brasil (T.A Queiroz/São Paulo, 1990), Renato Castelo Branco lembra que passagens desta espécie fazem parte da cultura brasileira e radiofônicas. “Recorrer à voz, à música e ao canto para vender produtos é um recurso muito antigo, herança dos arautos. Entre nós, foram os pregões dos mascates – cantados e/ou gritados – os primeiros meios para apregoar mercadorias”, lembra ele. Isso em 1543.

Em 1940 se deu o apogeu da propaganda no rádio. O interesse dos comerciantes e industriais pelo equipamento como “vendedor” de produtos exigiu qualidade das publicidades. No Brasil, muitas marcas ficaram conhecidas pelo “telefone sem fio”, o rádio.

Uma pesquisa do professor de Mogi das Cruzes José Gomes Júnior, mestre em comunicação social, para a Intercom, elencou as marcas nacionais que se expandiram com a ajuda das rádios. No Brasil, nos anos de 1950 e 1960, destacaram-se os cremes dental Eucalol, o Melhoral e as lojas Pernambucanas com seus cobertores. Nos anos de 1970, era a vez da Pepsi-Cola, Duchas Corona e do Guaraná Antarctica. Vinte anos depois, apostavam em publicidade a Varig, C&A Modas e a Cerveja Brahma, entre outros.

Em Pernambuco e na Rádio Clube, destaca-se a Fratelli Vita, que produzia refrigerantes nos sabores de ameixa, pera, cereja, limão e guaraná. A marca registrada da Fratelli Vita era uma garrafinha de vidro e acabou se tornando presença constante nas mesas das famílias do estado. A Fratelli Vita era patrocinadora de programas e eventos. Além dela, a General Eletric, multinacional de eletrodomésticos; as Casas José Araújo, leitarias, biotônicos e instituições bancáriasos. Assim, as emissoras deixaram de ser culturais e educacionais para se tornarem negócios.