ORGULHO DE PERNAMBUCO 2018 » Um talento acadêmico formado na rede pública Ex-aluno do Ginásio Pernambucano e da UFPE, Walter Moraes fundou Programa de Pós-Graduação em Administração

Anamaria Nascimento
anamaria.nascimento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 08/12/2018 03:00

Educação ensino superior: Walter Moraes

O professor pernambucano Walter Moraes é fruto da educação pública. Orgulha-se de ter estudado no Colégio Pernambucano – hoje Ginásio Pernambucano – durante a adolescência. Tanto que mantém na sala do apartamento onde mora, em Casa Forte, um quadro com a imagem do icônico prédio vermelho às margens do Rio Capibaribe. Um dos criadores e primeiro coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração (Propad) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), comemorou 68 anos ao receber o prêmio Orgulho de Pernambuco na categoria Educação Ensino Superior.

Para chegar ao Colégio Pernambucano, Walter saía de Afogados, onde morava, para a escola na área central do Recife. Descia do ônibus nas proximidades do antigo Grande Hotel (atual Fórum Thomaz Aquino) e ia caminhando até a Rua da Aurora. “Iniciei meus estudos lá em 1961. Em 64, passando pela Praça da República, vi tanques, soldados e armas. Um militar me orientou a voltar para casa. Quando cheguei, vi meu pai rasgando um livro de Yuri Gagarin (cosmonauta russo). Ainda tenho esperança de encontrar esses textos”, recorda. O golpe militar de 1964 foi deflagrado na madrugada de 31 de março.

Das lembranças em família, Walter descreve com carinho o dia que o pai, o servidor público Severino Saraiva de Moraes, o levou ao trabalho. “Era para mostrar aos colegas o filho que havia sido aprovado em engenharia na UFPE”, conta. No período como universitário, conciliava as atividades do curso de engenharia mecânica com as funções como atleta do Sport. Foram 10 anos no time de basquete do clube. “Meu pai faleceu e eu larguei o esporte.”

Apesar de ter se formado em 1972 em engenharia mecânica, a paixão de Walter sempre esteve ligada à área de produção, área na qual dedicou os estudos futuros. Mestre em engenharia de produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (1975) e doutor em management sciences pela University of Manchester Institute of Science and Techonology (1988). “Sou resultado da educação pública. Claro que fiz a minha parte, mas sempre estudei, recebi bolsa e cresci pelo ensino estadual e federal. Posso dizer que tirei bom proveito das ofertas públicas da educação”, ressalta.

Em Santa Catarina, durante o mestrado, Walter lecionava estatística para turmas com cerca de 40 alunos da graduação em economia. “Eu nem era tão mais velho (em relação aos estudantes), mas nós da pós-graduação usávamos barba para marcar a diferença. Apenas anos depois, descobri que os alunos brincavam com o meu sotaque”, diz. No Sul, o pernambucano aprendeu sobre pontualidade. “Eles eram muito corretos com o horário. Quando eu chegava à universidade, mais da metade da turma já estava na sala de aula”, lembra.

Questões linguísticas voltaram a marcar a trajetória do engenheiro quando foi fazer o doutorado na Inglaterra. “Meu orientador era excelente e muito exigente. Tive muita dificuldade de relacionamento com ele no começo. Conversando com uma nigeriana que também era orientada por esse professor, ela me disse que muitas vezes saía da universidade para ir à igreja chorar. Vi que não era só comigo e as coisas foram melhorando com o tempo”, conta.

Os filhos ainda eram pequenos quando a família foi morar em Manchester. “Morávamos em uma cidade com uma cultura industrial muito forte. Foi onde surgiu o primeiro sindicato do mundo. Considero a minha passagem pela Inglaterra mais como uma experiência de vida do que de conhecimento acadêmico”, avalia.

Quando se mudou para a Europa, com a esposa, a relações públicas Marise Moraes, o caçula, José Fernando, tinha menos de um ano. Hoje, aos 36 anos, ele é professor na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e doutor em educação física. O filho do meio, Diego, tem 38 anos e é advogado. O primogênito Rodrigo, de 43 anos, é administrador. “A minha formação foi fundamental também para a dos meninos. Todos falam inglês muito bem, por exemplo”, diz com orgulho.