PRIMEIRA INFàNCIA » Alimentação da mãe é Essencial Alimentação na gravidez, cuidado ou falta de cuidado e exposição a infecções podem programar o corpo da criança

Publicação: 01/06/2019 03:00

A técnica de enfermagem Daniele Lima, 37 anos, descobriu que estava grávida depois de uma década de tentativas, quando já havia desistido de ser mãe. A surpresa veio acompanhada de uma reorganização. Pensando desde cedo no futuro da filha, Manuelle, hoje com 5 meses, Daniele mudou a própria alimentação. Cortou frituras e industrializados. A mudança tem correlação com o histórico de hipertensão na família. Mesmo se não houvesse esse medo pregresso, ela faria o recomendado. O desenvolvimento de uma criança começa no momento da concepção e vai além da genética. Estudos científicos mostram que o ambiente e os acontecimentos com a mãe também podem atuar programando o corpo do bebê para se proteger ou não de doenças no futuro.

O cuidado com a saúde da criança deve começar logo que a gravidez é descoberta e se estender a uma mudança de hábitos de toda a família. Isso porque, ainda na fase de embrião, começam a ser formadas células nervosas que geram a estrutura básica do sistema nervoso do feto. É como se fossem formados alicerces para um prédio que será construído. Crianças submetidas a violências e negligências podem desenvolver um tipo de desregulação no sistema neuroendócrino conhecida como “estresse tóxico”.

O estresse tóxico eleva a frequência cardíaca e a pressão arterial. Em consequência, aumenta o risco para infecções, doenças cardíacas e psiquiátricas na criança. Um estudo realizado nos Estados Unidos diz que transtornos na infância podem elevar índices de depressão, suicídio e abuso de drogas no futuro. “Há estudos sobre a origem fetal das doenças crônicas no adulto, mostrando que a forma de se alimentar na gestação, o cuidado ou falta de cuidado e a exposição a infecções podem programar o corpo da criança. Não é um determinismo total, mas ocorre uma influência”, explica o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia.

O impacto também pode ser gerado na autonomia para realizar as atividades futuras. “A programação biológica inclui o que chamamos de funções executivas (capacidade de organização, planejamento e replanejamento). Aspectos que, às vezes, a criança nem precisa tanto naquela idade, mas que vai assegurar um adulto autônomo”, ressalta a doutora em saúde pública e professora da Universidade de São Paulo (USP) Anna Maria Chiesa. Crianças que sofreram traumas na infância têm risco quatro vezes maior de contrair infecções sexualmente transmissíveis e até 16 vezes maior de ter obesidade mórbida, estimam estudos científicos realizados nos Estados Unidos.