PRIMEIRA INFàNCIA » Receita para a primeira infância Especialistas afirmam que é por meio das trocas afetuosas que as crianças desenvolvem relações e aprendem a interagir

Publicação: 01/06/2019 03:00

Estímulos, cuidado e afeto. A tríade do que não pode faltar na primeira infância é a receita apontada por especialistas e em estudos científicos sobre a importância dos anos iniciais da vida de uma criança. É por meio das trocas afetuosas que ela desenvolve as relações, aprende a interagir, consegue se comunicar e fortalece a capacidade de empatia. Pesquisas comprovam que crianças que possuem vínculos afetivos na primeira infância são mais seguras e autônomas.

Moradoras do Bode, no Pina, Zona Sul do Recife, as donas de casa Thialen dos Santos e Monique Henrique recebem visitas de uma equipe de profissionais do Programa Primeira Infância no Sistema Único de Assistência Social (Suas). Desde quando foi implementada na capital pernambucana pela Prefeitura do Recife, em maio de 2018, a ação acompanhou 633 crianças, 129 gestantes, 745 famílias e realizou 6,7 mil visitas domiciliares. “Os educadores da primeira infância me ensinaram a me dedicar mais à minha filha, a ler livros, a ver histórias. Eles me orientam, e eu oriento a minha filha”, afirma Thialen, mãe de Laura Vitória, 1 ano, e vizinha de Monique, mãe de Luiz Henrique, 2 anos.

Coordenadora das visitas, a gerente de proteção social básica do Recife, Rosângela Fontes, explica que o programa tem o objetivo de apoiar as gestantes e famílias na preparação para o nascimento de um bebê, além de orientar mães, pais e responsáveis sobre os cuidados com crianças de até seis anos. “Conversamos sempre com um adulto responsável. Pode ser a mãe, o pai, uma avó, uma tia. Falamos da importância do afeto, do cuidado e ressaltamos a função protetiva da família com a criança para o seu desenvolvimento integral”, pontua.

Práticas como deixar que irmãos mais velhos, quando ainda são também crianças ou adolescentes, sejam os responsáveis pelo novo membro da família, são combatidas pelas equipes de proteção social. A psicanalista, doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo USP e diretora do Instituto Gerar, Vera Iaconelli, lembra que quem deve cuidar de crianças são adultos. “Por causa de problemas sociais maiores, ainda temos no Brasil, como também acontece em países com desigualdades graves, a prática de deixar uma criança cuidando de outra. Por mais e melhor que sejam cuidadosas ou treinadas, elas não têm maturidade para assumir essa responsabilidade. Além de ser um perigo permanente, é um prejuízo para a criança que cuida. Afinal, a criança responsável pelos cuidados acaba não sendo cuidada”, ressalta.