ESPECIAL GENERAL ABREU E LIMA » O Compêndio da História do Brasil e suas polêmicas Abreu e Lima escreveu um livro sobre a história do país em ordem cronológica

Monique Santana de Oliveira Sousa
moniquesousa.ial@gmail.com

Publicação: 24/08/2019 03:00

O século XIX é marcado pelas transformações políticas e sociais na América Latina. Era o momento de construção da nação em que vários escritores públicos, letrados patriotas, escreviam como se consolidaria a nação ou como se esperava que ela fosse. Tais questões eram colocadas não só na imprensa periódica, mas também nos livros e revistas. Abreu e Lima é um desses indivíduos que escreviam, e a escrita naquele momento tinha função eminentemente política: luta por legitimidade da opinião pública, atritos entre partidos políticos, construção e ressignificação de conceitos. Nesse sentido, a imprensa, a literatura e a História traziam uma linguagem política da representação nacional.

Em 1838 foi criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro partindo da preocupação de se formular a história da nação, fabricar símbolos e inventar o patriotismo. A elaboração da história nacional, ressaltando sua gênese, ideais, cultura e o passado glorioso, se configurava como algo necessário para legitimar, contribuir no imaginário e na construção do sentimento patriótico. Além de pensar uma história sobre si, ou seja, como seria escrita a história do Brasil, pensava-se também no outro, tanto na ideia do que se tinha de nações vizinhas como a ideia que se tinha de Portugal. Ao contrário da escrita da história da América Hispânica, em que a metrópole era colocada em oposição e a construção da nação começa a partir de uma ruptura, no Brasil, nos primeiros momentos, a relação com Portugal era reconhecida como continuidade ao desenvolvimento da nação brasileira. A colonização era apontada como processo civilizatório necessário para se alcançar a consolidação do Estado-Nação.

O General Abreu e Lima, desde que voltou para o Rio de Janeiro em 1832, um ano após a abdicação de Dom Pedro I, dedicava-se à escrita política/histórica de forma crítica e polêmica. Quando o IHGB foi fundado, Abreu e Lima foi convidado a integrar o corpo de membros fundadores, o que em primeira instância foi recusado. Porém em 1839 ele começa a participar do Instituto Histórico como Membro Honorário. O IHGB direcionava seus membros a pesquisarem e escreverem sobre a nossa história. Em 1840 lançaram um concurso para a escrita da história do Brasil: “Como se deve escrever a história do Brasil”. Apesar do Instituto afirmar que o ideal seria que um brasileiro escrevesse sobre a história do Brasil, o vencedor foi o alemão Karl F. Von Martius, que era sócio correspondente. Seu artigo sobre como deveria ser escrita a história do Brasil foi publicado no ano seguinte na revista do Instituto.

Na ocasião, o General Abreu e Lima também escreveu para o concurso, O Compêndio da História do Brasil desde o seu descobrimento até o majestoso ato de coroação e sagração do Sr. D. Pedro II. Um livro escrito em dois volumes, que contava a história nacional em ordem cronológica desde a chegada dos portugueses em 1500 até os dias atuais. Segundo ele, era uma obra original. Todavia, o Instituto recusou o trabalho de Abreu e Lima afirmando que seus escritos não serviriam nem mesmo para instrução elementar. Seu trabalho também recebeu críticas de Adolpho Varnhagen, que o acusava de plágio.

Pouco tempo depois o Compêndio foi publicado e direcionado a estudantes do Colégio Pedro II no intuito de contribuir na formação da educação nacional. Em defesa das críticas de Francisco Adolpho Varnhagen e Januário da Cunha Barbosa, membros do IHGB, Abreu e Lima publicou em 1844 a obra: “Resposta do General J. I. de Abreu e Lima ao Cônego Januário da Cunha Barbosa ou Análise do primeiro juízo de Francisco Adolpho Varnhagen acerca do Compêndio da História do Brasil”. Além do texto crítico, solicitou a sua retirada como membro do Instituto.

O Compêndio circulou não apenas no Rio de Janeiro. Em Pernambuco sua obra também foi divulgada, inclusive pelo jornal Diario de Pernambuco, que escreveu artigos elogiando suas obras ou publicando alguns trechos. Em 1844, Abreu e Lima deixou as intrigas políticas do Rio de Janeiro e retornou a Pernambuco. Ainda na função de escritor-historiador, publicou em 1845 o livro Sinopse ou dedução cronológica dos fatos mais notáveis da história do Brasil e História Universal.