DIARIO + EDUCAÇÃO » Alisson, o menino que ousou ser mais Ele poderia ter tido uma vida limitada pela paralisia cerebral, mas escreveu um livro, fez o roteiro de um curta-metragem e planeja novos saltos

DIOGO CAVALCANTE
diogo.couto@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 18/10/2019 03:00

Alisson Gabriel dos Santos Silva tem 13 anos, mas já carrega toda uma história de superação. Portador de paralisia cerebral, chegou a ser desenganado pelos médicos. Mas o apoio incondicional de sua mãe e da escola em que estuda atestam: não existem limites ou barreiras quando há estímulo ao desenvolvimento. Ele já roteirizou um curta-metragem e publicou um livro, mas quer continuar indo além.

“A dificuldade é grande, mas hoje as pessoas estão com a mente mais aberta. Ele não consegue pegar em um lápis ou caneta. Dê um computador ou um tablet e ele vai longe”, orgulha-se a técnica de enfermagem Andréa Carneiro, 44, mãe do adolescente. “Uma vez, uma fonoaudióloga disse que o Alisson ia ficar a vida toda sem falar, só apontando. Mas ele fala, pede as coisas. Com dificuldade, sim, mas é só você parar e prestar atenção que você entende”, recorda.

A luta começou assim que o menino nasceu. “Ele é prematuro e percebi que não se movimentava. A gente deixava ele de um jeito e assim ficava. Quando fui a uma neurologista, realizamos alguns exames e descobrimos que ele tinha paralisia cerebral, isso com uns sete meses de vida”, relembra. O diagnóstico não foi uma sentença: “A médica me contou que era possível melhorar a parte motora, com muita fisioterapia. E foi quando o levei à AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente). Foram cinco anos de reabilitação que realmente ajudaram.”

Depois da parte física, era hora de cuidar da educação de Alisson. “Eu não tinha coragem de colocá-lo em uma escola”, admite Andréa. O medo de ver o filho maltratado foi grande, especialmente pela visão que se tinha da rede pública de ensino. Por um tempo, ele chegou a ficar em uma escola privada, sem recursos especiais necessários.

Um dia, a mãe passava em frente à Escola Municipal Severina Lira, na Tamarineira, e resolveu se informar. “Expliquei a situação e a diretora disse que ia tentar uma vaga, porque já tinha passado a época de matrícula. Dois dias depois, ela me ligou informando que conseguiu o encaixe. E foi aí que ele deslanchou de vez”, comenta.

Das atividades de educação especial veio o livro Ben, o super cão mutante. Na história, um homem encontra um osso e se transforma em um cachorro com superpoderes. “A antiga professora dele, Jane, dizia que Alisson tinha uma mente muito aberta. Eu me surpreendi quando soube que tinha produzido um livrinho. No fim do ano letivo, juntou a escola inteira para lançar. Ele estava radiante”, conta.

Neste ano a criança foi para a Escola Municipal Professora Almerinda Umbelino, no Vasco da Gama, Zona Norte do Recife. Foi lá que ele criou o curta-metragem baseado em seu livro e se apaixonou por mais outra área. “Ele já adorava história, geografia, tecnologia. Em maio, se encantou pela robótica. Participou do campeonato municipal e só não conseguiu ir para a etapa regional por causa de dez pontos. Foi um desempenho incrível. Esse é Alisson. Onde ele vai, vamos todos atrás”, emociona-se Andréa.

Alisson é um dos 4.249 alunos com necessidades especiais matriculados na rede pública recifense. Os números são 60% maiores que os vistos há sete anos (2.661 em 2012). Atualmente, todas as escolas do município estão aptas a receber estudantes com necessidades especiais. Recursos como transporte inclusivo, software Livox, comunicação facilitada e teclados TiX ajudam na inclusão educativa.