DIARIO + EDUCAÇÃO » "Pernambuco é um exemplo para o país"

Publicação: 18/10/2019 03:00

Um dos maiores nomes da educação brasileira, o recifense Mozart Neves Ramos defende que o Brasil deixe de olhar tanto para fora e aprenda com exemplos que já existem no país. Reconhecido internacionalmente, recebeu o título de Educador Internacional do Ano – IBC Cambridge. Conquistou os títulos de Cavaleiro da Ordem do Mérito da República Italiana e Personalidade das Artes, Ciências e Letras da França. É diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna e relator da Base Docente no Conselho Nacional de Educação.

Entrevista // Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna

Quais são os principais desafios da educação básica atualmente?
Olhando para os últimos 20 anos da educação básica, devemos reconhecer que o Brasil teve um grande progresso ao que se refere ao acesso. O país colocou praticamente todas as crianças nas escolas. No entanto, cerca de 1 milhão de adolescentes de 15 a 17 anos estão fora da escola, enquanto outros 2 milhões estão atrasados. Isso não acontece por falta de vaga. Elas existem, mas as escolas são pouco atrativas. Um grande desafio é colocar no mesmo nível quantidade e qualidade.

Como o Brasil está na educação em comparação com outros países?
Estamos estagnados nos anos finais (do ensino fundamental) e no ensino médio. Estagnação é retrocesso porque os outros países estão avançando. Com isso, estamos nos distanciando muito de países como Singapura e Coreia do Sul, que melhoram os resultados a cada ano.

Em seu discurso ao receber o título de professor emérito da UFPE, o senhor disse que não quer que o Brasil seja uma Coreia do Sul...
Certa vez, o ministro da Educação da Coreia do Sul me disse que, lá, se a criança dormir quatro horas tem alguma chance de futuro. Se dormir cinco, não. Não é essa infância e essa educação que acredito. Criança tem que brincar, tem o direito de ser uma criança.

Com quem o Brasil pode aprender?
Com o próprio Brasil. Há situações que mostram que o país sabe fazer uma educação melhor. O Ceará, por exemplo, que não é um estado rico, consegue alfabetizar muito bem as crianças. São práticas que devem ser levadas para todo o Brasil. No ensino médio, Pernambuco é um grande exemplo para o país. É preciso fortalecer o regime de colaboração entre os estados e municípios e identificar boas práticas com bons resultados e adotá-las.