DIARIO + SAúDE » A revolução da medicina hiperbárica A oxigenoterapia hiperbárica ajuda na cicatrização de ferimentos. O serviço pode ser encontrado na Unidade de Apoio ao Diabético (UNIAD), no Pina

Publicação: 12/09/2018 03:00

Há dois meses a professora Lourdes Gomes, de 63 anos, recebeu a difícil notícia de que seu pé direito deveria ser amputado. Por ser diabética, um furo de um prego provocou uma inflamação de difícil cicatrização. Preocupada e em busca de um diagnóstico mais seguro, ela chegou até a Unidade de Apoio ao Diabético (UNIAD), localizada no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. Lá ela descobriu a oxigenoterapia hiperbárica e em poucas semanas já estava vendo os primeiros sinais de cicatrização.

“Não conhecia esse tipo de tratamento. Se fosse mais difundido, mais pessoas teriam sua liberdade de volta. Eu estava dependente até para tomar banho e agora já consigo sair sozinha de casa. Recuperei minha autonomia mais rápido que espetava”, comentou Lourdes. A oxigenoterapia hiperbárica é um procedimento médico de inalação de 100% de oxigênio puro dentro de câmaras hiperbáricas. A medicina hiperbárica é um ramo da medicina ocupacional. O termo hiperbarismo quer dizer aumento de pressão, então transformamos um ambiente com pressão acima da atmosférica, que é uma espécie de caldeira cilíndrica, fechada com janelas de acrílico onde é possível insuflar O2.

As principais demandas que a UNIAD recebe para realizar a oxigenoterapia hiperbárica são insuficiência arterial e pé diabético, que são úlceras que ocorrem nos membros inferiores dos portadores da doença por falta de oxigênio no tecido. “Outros exemplos em que se recomenda o tratamento é no caso de cicatrização viciosa de cirurgias, degeneração radioterápica, uma gama grande de indicações. O denominador comum entre elas é justamente a falta de oxigenação. Então, damos um aporte muito grande de oxigênio através do ambiente hiperbárico”, esclarece o cirurgião vascular, Paulo Santos Pantoja, fundador da UNIAD, membro titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, especialista em cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira e membro efetivo da Sociedade Brasileira de Medicina Hiperbárica (SBMH).

Aumenta de 8 a 10 vezes o teor de oxigênio ofertado aos tecidos através do sangue. No caso mais frequentemente tratado pela clínica, o pé diabético recebe cerca de 30 sessões. Outras patologias, como edemas de face em até 10 sessões já pode ser visto o resultado. A câmara hiperbárica da UNIAD comporta até 15 pessoas. Por conta da pressurização e despressurização, a sensação de estar em uma câmara hiperbárica se assemelha à de uma decolagem e um pouso de avião. Por isso, a equipe de enfermagem indica aos pacientes algumas manobras, como tomar água para engolir abrindo a membrana do ouvido, encher a boca de ar tampando o nariz ou ainda simular a mastigação.

Entre as poucas contra-indicações para o tratamento está a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). “Em países como China e Alemanha, por exemplo, se faz cirurgias em ambientes hiperbáricos. Aqui no Brasil, por enquanto, nunca foi feito. Temos a única câmara do Recife, mas deveria ter bem mais. Ainda temos uma demanda reprimida grande por falta de conhecimento da própria classe médica e da sociedade. Isso não é ensinado nas escolas médicas. Existe ainda uma questão cultural esse método foi desenvolvido no Leste Europeu e para passar para o Ocidente e Américas teve barreira política”, comenta Pantoja.

“Mais de 1.500 pacientes já trataram pé diabético conosco. De todos esses casos, diminuímos cerca de 80% da necessidade de amputação adicionando a oxigenoterapia hiperbárica a todo o esquema terapêutico”, afirmou Pantoja. A clínica realiza uma média de 900 sessões por mês em 400 pacientes que recebem o tratamento diariamente. Em, média cada paciente utiliza quatro metros cúbicos de oxigênio. Cada sessão custa R$ 350 no atendimento particular, mas também há cobertura de planos de saúde.

“Um técnico de enfermagem acompanha os pacientes dentro da câmara e outro faz o monitoramento do lado de fora. Fazemos o acolhimento do paciente explicando todo o procedimento, tirando dúvidas. Como os pacientes estarão em uma atmosfera diferente, é importante equalizar o ouvido para não sentir desconforto”, comenta a enfermeira responsável pela Oxigenoterapia na UNIAD, Patrícia Vasconcelos. A hiperoxigenação do tecido facilita a circulação sanguínea acelerando a cicatrização.