DIARIO + SAúDE » Internet muda a lógica da consulta Um em cada quatro usuários da rede mundial de computadores busca todos os dias informações sobre saúde. São os chamados pacientes 3.0

Publicação: 12/09/2018 03:00

Eles não esperam mais. A internet e as novas tecnologias transformaram o perfil do paciente. Se antes eles dependiam do profissional de saúde para tirar todas as dúvidas, hoje já chegam ao consultório com possibilidades de diagnóstico apuradas, munidos de dados para discutir a própria saúde. Um em cada quatro usuários da rede mundial busca todos os dias informações sobre saúde. É o chamado paciente 3.0, a pessoa que está mudando a lógica da saúde, forçando uma transformação tanto dos profissionais quanto das clínicas e hospitais.

De acordo com uma pesquisa da plataforma Doctoralia, 92% das pessoas têm o hábito de procurar informações sobre saúde pela internet, das quais 27% usam esse meio para tratar de assuntos urgentes e 37% para buscar dúvidas após o diagnóstico médico. A maior parte deles são mulheres entre 25 e 34 anos, profissionais ativas e moradoras dos centros urbanos. Na ótica do diretor do Cedepe Business School, João Paulo Gomes, não dá mais para encarar as tecnologias como adversárias.

“O desafio do próprio médico, do profissional em saúde, é baixar a guarda e entender que essa não é uma luta pessoal. As tecnologias já estão postas, não vão deixar de ser utilizadas. É preciso entender que a saúde não é mais só o exame clínico, o processo de anamnese, perpassa por uma experiência que é gestão, contato com o paciente, humanização”, explica João Paulo Gomes. Segundo ele, o ideal é que, em vez de apenas reclamar dessa busca desenfreada por informação por parte dos pacientes, o profissional de saúde possa produzir ele mesmo informações de qualidade para alimentar a rede.

Essa é uma tendência que tem ganhado força no Brasil, analisa o Country Manager da Doctoralia no Brasil, Carlos Lopes. De acordo com ele, 22% dos brasileiros buscam corriqueiramente informações de saúde na internet. “Desde 2017, quando expandimos nossas operações no país, aumentamos em 54% o número de usuários únicos mensais”, comenta. A Doctoralia é uma plataforma que atua em duas frentes: permite ao profissional de saúde criar um perfil para abrir uma agenda para marcação de consultas online e, ao mesmo tempo, cria uma espécie de fórum virtual, o “pergunte ao especialista”, para que ele possa responder gratuitamente perguntas sobre saúde da população em geral.

A dinâmica de funcionamento é a mesma dos sites de hospedagem e delivery de alimentos online. O paciente pode agendar consultas sem precisar ligar para o consultório. Ao final da consulta, pode avaliar o profissional. As avaliações, que passam por triagem, são disponibilizadas no site, criando uma espécie de ranking de qualidade. Só podem participar profissionais de saúde geridos por conselhos, cujo registro possa ser verificado pelos funcionários da plataforma.

No Brasil, cerca de 30% das consultas são marcadas depois das 19h e 44% das primeiras chamadas telefônicas para os consultórios são perdidas. “Percebemos que o profissional de saúde continua se importando com a reputação dele. A diferença é que ela não é formada mais só no boca a boca”, explica Carlos. No estado, a plataforma tem 256 mil usuários e 18 mil profissionais. As especialidades com mais profissionais são clínica médica, pediatria e odontologia.

Percebendo que o paciente está cada vez mais exigente, o especialista em cirurgia de joelho Leonardo Monteiro, 37 anos, é um dos que ingressaram na plataforma. “Já usava o whatsapp para marcação de consulta no consultório e agreguei essa ferramenta. Ainda que hoje 80% das consultas ainda sejam marcadas da forma tradicional, a tendência é que a comodidade leve as pessoas a fazerem isso pela internet com maior frequência”, diz. Para ele, ferramentas como essa permitem a criação de um currículo virtual.

A jornalista Aldira Alves Porto, 62, pode se considerar uma paciente 3.0. Daquelas que pesquisam sobre as doenças antes de ir ao consultório, ela marca consultas online há seis meses. “Você entende que um profissional que usa essas ferramentas está mais informado, à frente dos outros”, afirmou.