Os riscos de quem tem aneurisma e não sabe Exames para diagnosticar a doença nem sempre são solicitados e o rompimento da artéria pode resultar em morte em 40% dos casos

Alice de Souza
alice.souza@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 15/09/2018 03:00

Ele é silencioso, normalmente não apresenta sintomas e pode passar uma vida inteira escondido. Mas quando resolve aparecer, traz prejuízos muita vezes irreversíveis. O aneurisma cerebral, dilatação na parede das artérias cerebrais, está presente em 1% a 6% da população. Nas Américas, estima-se que cerca de 2% a 3% das pessoas convivam com ele, que é uma das causas do Acidente Vascular Cerebral (AVC) Hemorrágico. A condição leva à morte imediata até 30% a 40% dos acometidos. Se for diagnosticado antes da hemorragia e tratado, as chances de cura são de 98%.

O aneurisma cerebral é uma lesão na parede das artérias intracranianas que se desenvolve ao longo da vida de alguns indivíduos. Em cerca de 15% dos casos, os pacientes com aneurisma têm histórico familiar da doença, sobretudo de parentes de primeiro grau, como pais e irmãos. “São formadas espécies de bolhas na artéria. Há o aneurisma congênito, pessoas que nascem com esse defeito na parede arterial e outros mais raros, causados por infecções e por traumas cerebrais”, explica o chefe do serviço de neurocirurgia do Real Hospital Português e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alex Caetano de Barros.

Doenças de base genética como doença do rim policístico ou displasia fibromuscular, em que há um defeito na formação do colágeno, aumentam as chances de desenvolvimento de aneurismas cerebrais. Eles são mais comuns em mulheres que em homens. “O aneurisma mais comum é o sacular, que forma como se fosse uma bolha e leva à fraqueza da camada muscular da artéria. Na maioria das vezes, ele vai passar de forma assintomática. Porém, em cerca de 10 a 15% dos casos, romperá”, afirma a neurologista coordenadora da equipe de neurologia do Hospital Santa Joana Recife, Renata Azevedo.

A ruptura é a forma de manifestação do aneurisma e quando ele tende a se transformar em um problema. Quando ela acontece, o paciente costuma sentir uma dor de cabeça que se inicia de maneira súbita e atinge a intensidade rapidamente. Em alguns casos, pode vir associada a rigidez no pescoço, náuseas, vômitos, crises convulsivas e dificuldades de falar ou compreender e de movimentar os membros.

“A hemorragia pode ser fatal em até 40% dos casos. Dos pacientes que chegam ao hospital, caso não sejam tratados, as chances de terem novos sangramentos e falecerem é de 60% a 70%”, detalha Alex Caetano. Em geral, 30% dos pacientes morrem imediatamente, 30% ficam com sequelas graves e outros 30% saem bem do quadro. Cerca de quatro em cada sete pacientes desenvolverão alguma disfunção neurológica, estima a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). “Os pacientes mais jovens têm mais chances de uma melhor evolução e também aqueles cujo sangramento seja menor e o atendimento seja rápido. O paciente que chega ao hospital já em coma tem risco maior de não evoluir com melhora”, acrescenta Renata Azevedo.

Aneurismas com mais de sete milímetros são mais propensos à ruptura. Também são fatores que podem contribuir: a localização do aneurisma no cérebro; o tabagismo, já que a nicotina favorece a degradação das proteínas das paredes arteriais; e a hipertensão arterial, pois o aumento da pressão sanguínea fragiliza a parede vascular. “A maior incidência de sangramento é entre os 40 e os 50 anos, mas existem casos raros em crianças e idosos. Quem tem aneurisma, quando faz algum tipo de esforço, aumenta a pressão e pode favorecer a ruptura”, diz Alex Caetano. Contudo, a ruptura também pode acontecer em momentos de repouso, lembra Renata Azevedo.

Exceto quando há um histórico familiar e uma preocupação prévia, o aneurisma só costuma ser descoberto de forma acidental, quando a pessoa faz exames como tomografia e ressonância magnética. O recomendado à população é procurar um neurologista e conversar com ele sobre a necessidade de uma investigação. O tratamento do aneurisma pode ser feito de duas formas: uma cirurgia ou através de um cateterismo. Cada caso definirá o método adotado pelo profissional.

Aneurisma cerebral
  • Aneurismas cerebrais são dilatações das paredes dos vasos cerebrais que fazem o sangue chegar do coração ao cérebro. Estes vasos são chamados artérias.
  • À medida que o aneurisma cresce, as paredes desses vasos vão ficando mais enfraquecidas e favorecem à ruptura do aneurisma.
  • O mecanismo é semelhante ao de uma bola de encher. Quanto mais soprar, mais fina fica a bola, até romper.
A ruptura do aneurisma…
Leva a um sangramento intracraniano. A chamada hemorragia subaracnóidea se apresenta, na maioria das vezes, com uma forte dor de cabeça de início súbito, descrita pelos pacientes como a pior que já sentiram.

Risco para ruptura de um aneurisma

Tamanho

  • Quanto maior o aneurisma, maior a possibilidade de sangramento.
  • 6% a 25% é o risco anual de ruptura dos aneurismas maiores de 2,5 cm de diâmetro
  • 1% é o risco anual de ruptura dos aneurismas menores de 1%
Localização
Os aneurismas localizados na parte posterior da circulação cerebral são mais propensos a sangrar que aneurismas localizados no segmento anterior

Uso de drogas lícitas e ilícita
Tabagismo, bebidas alcoólicas, cocaína e anfetaminas podem favorecer a ruptura

Fatores genéticos

Cerca de 15% do total de pacientes com aneurismas vão apresentar história positiva para outro caso de aneurisma na família

Hipertensão arterial
O aumento da pressão sanguínea também fragiliza a parede vascular, devido ao aumento do stress hemodinâmico.

Outros sintomas
  • Rigidez no pescoço
  • Crises epilépticas
  • Dificuldade de falar ou compreender
  • Dificuldade de movimentar braços e pernas
Outros tipos de aneurisma
  • Aorta, que é a principal artéria do coração (aneurisma da aorta abdominal ou aneurisma da aorta torácica)
  • Cérebro (aneurisma cerebral)
  • Na parte de trás do joelho (aneurisma da artéria poplítea)
  • Intestino (aneurisma da artéria mesentérica)
  • Artéria no baço (aneurisma da artéria esplênica)
Fonte: Portal Brasileiro da Neurocirurgia e Portal Minha Vida