Robótica cada vez mais relevante nas cirurgias Máquinas tornam mais eficiente uma gama maior de procedimentos

Publicação: 22/09/2018 03:00

Depois de muito se frustrar com as dietas, a analista de sistema Míriam Agra, 38 anos, começou a buscar outras formas de emagrecer. Até então arredia a métodos mais invasivos, ela fez várias pesquisas e pela primeira vez considerou fazer uma cirurgia. Profissional da área de tecnologia, Míriam encontrou na robótica outra dimensão das operações bariátricas. Comumente associado às cirurgias urológicas, os robôs são utilizados em uma gama de procedimentos de distintas áreas.

No Hospital Esperança Recife, que chegou à marca de 500 cirurgias robóticas e é considerado o maior em número de intervenções do gênero no Norte-Nordeste, a urologia corresponde por 63% do uso dos robôs. A tecnologia permite reduzir as chances de impotência e incontinência urinária. Porém, explica a coordenadora de enfermagem do centro cirúrgico do Esperança, Bárbara Carvalho, a robótica também pode ser utilizada para cirurgias oncológicas, gerais, torácicas, colorretais, ginecológicas e bariátricas.

“Essa tecnologia é a evolução da cirurgia por vídeo, pois oferece visão tridimensional de alta definição, corrige tremores do médico, e tem um movimento muito preciso das pinças, acessando estruturas que a mão humana não conseguiria. O risco de sangrar, de lesar, é minimizado”, afirma Bárbara. O Esperança usa o robô desde abril de 2016. Começou com quatro procedimentos por mês. Hoje, mantém uma média de 20 a 25 cirurgias robóticas por mês. O segundo tipo mais realizado é a bariátrica.

Para o cirurgião bariátrico Walter França, que realiza operações para obesidade há mais de duas décadas, as vantagens da robótica estão em duas esferas. Ao mesmo tempo em que proporciona melhor ergonomia para o médico, permite um procedimento mais refinado para o paciente. “São detalhes que interferem até no trauma sob a parede abdominal. Consequentemente, o paciente sente menor dor. Qualquer microtremor humano é filtrado”, explica Walter França.

Segundo ele, as angulações permitidas pela máquina tornam mais eficientes as cirurgias. “Uma das vantagens, por exemplo, é para os superobesos, onde a dificuldade de acesso na videolaparoscopia é muito maior do que na robótica. Para casos mais complicados, a robótica fica na vantagem.” Walter já realizou cerca de 30 cirurgias robóticas desde a implementação do programa no Esperança. “O paciente tem recuperação mais rápida, menos tempo de internação, menor risco de infecção. É realmente uma tecnologia que faz a diferença e veio para ficar. Em breve, vamos iniciar também um projeto para cirurgia de cabeça e pescoço”, complementou Bárbara Carvalho.

A cirurgia de Míriam foi realizada em junho deste ano. Com pouco mais de dois meses, ela conseguiu perder 17kg. “Parece que eu não tinha feito cirurgia, não senti nada de dor. O pós-operatório foi tranquilo. Com 15 dias, já fazia caminhadas de uma hora. Com 45 dias, fui liberada para a academia. Hoje, estou com uma vida ativa”, conta a analista de sistemas.

O uso da robótica como é feito hoje, no qual o médico opera o console (uma espécie de painel) corresponderia à chamada cirurgia 3.0, explica Walter França, no que se refere ao desenvolvimento técnico da medicina. Já se fala, entretanto, de procedimentos que no futuro possam ser realizados completamente por robô. Seria a cirurgia 4.0. “O 1.0 é a cirurgia aberta, 2.0 é a cirurgia por vídeo”, diz o médico. No próximo dia 5 de outubro, essa evolução cirúrgica será assunto de conferência no simpósio de cirurgia bariátrica da Rede D’Or São Luiz.