TUMORES » Testada vacina com DNA do zika

Publicação: 22/09/2018 03:00

O zika vírus é temido pela capacidade de exterminar células neurais, característica que pode causar microcefalia e outras más-formações cerebrais em fetos de gestantes infectadas. Pesquisadores internacionais transformaram esse mecanismo negativo em vantagem no tratamento de tumores cerebrais. Eles retardaram o desenvolvimento do glioblastoma, um câncer severo e incurável, usando uma vacina, em ratos, cuja fórmula tem parte do genoma do zika. Os resultados foram animadores e sinalizam que a abordagem pode ser preventiva e também usada para aumentar a sobrevida de paciente oncológicos.

O glioblastoma é um câncer cerebral que, quase sempre, retorna após a retirada cirúrgica e outros tipos de terapia. Especialistas explicam que uma das principais razões para a recorrência rápida e inevitável desse carcinoma é a presença de células-tronco residuais de glioblastoma após as intervenções. “As células-tronco cancerígenas são resistentes à terapia atual, incluindo radiação e quimioterapia. Assim, o desenvolvimento de uma terapia eficaz para eliminá-las é algo urgentemente necessário”, detalha ao Correio Braziliense/Diario Pei-Yong Shi, virologista do Departamento de Medicina da Universidade do Texas (EUA), e líder do estudo, publicado na revista mBio.

Como o zika infecta células progenitoras de neurônios em cérebros fetais, Pei-Yong Shi e a equipe decidiram testar se o patógeno poderia ser usado para infectar e matar seletivamente as células-tronco de glioblastoma que contribuem para a recorrência do câncer. “Fizemos a conexão de que, talvez, esse vírus também pudesse infectar as células de glioblastoma  porque elas têm propriedades similares às células-tronco neurais”, conta o cientista.

O primeiro passo foi determinar se existia uma maneira segura de usar o vírus zika para atacar apenas as células cancerígenas, ou seja, sem atingir células neurais saudáveis. Para isso, eles desenvolveram uma vacina com uma parte do vírus, chamada de ZIKV-LAV. A estratégia é parecida com a usada, por exemplo, em vacinas contra a dengue e febre atenuada, que usam o vírus atenuado para induzir a produção de anticorpos.

Quando a equipe injetou ZIKV-LAV no cérebro de camundongos, não foram observados efeitos negativos. Os animais responderam normalmente em testes de ansiedade e função motora. Em uma segunda etapa, os pesquisadores implantaram células de glioblastoma humano nos ratos que receberam a vacina ZIKV-LAV. Dessa vez, os roedores apresentaram atraso significativo no desenvolvimento do tumor. Além disso,  houve prolongamento do tempo médio de sobrevivência dos roedores para cerca de 50 dias, contra 30 dias em camundongos que  receberam as células de glioblastoma humano, mas não foram vacinados. O aumento é de 66%.