Desigualdade aumenta obesidade na América Latina Nações Unidas alerta que problema econômico não tem efeito apenas no crescimento da fome

Publicação: 10/11/2018 03:00

Longe de diminuir, a fome e a obesidade estão aumentando na América Latina, em particular na Venezuela, Argentina e Bolívia. Em 2017 havia 39,3 milhões de pessoas subalimentadas e 3,6 milhões se incorporaram à epidemia de obesidade, alertaram as Nações Unidas. 

“Pelo terceiro ano consecutivo temos que dar más notícias: aumentaram as cifras da fome na América Latina e Caribe”, chegando a 39,3 milhões na América Latina, disse o diretor regional da FAO, Julio Berdegué, na apresentação do Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional 2018, elaborado por quatro agências da ONU.

Um total de 7,9% da população da região e do Caribe se encontra em situação de insegurança alimentar grave, o que significa 47,1 milhões de pessoas - das quais 29 milhões estão na América do Sul -, quase cinco milhões a mais que no triênio anterior, alerta o relatório. Enquanto isso, a "epidemia" de obesidade continua incontrolável: 104,7 milhões de adultos na região são obesos, quase um quarto da população.

“Não há razões técnicas, nem materiais” para este aumento da fome e desnutrição, lembrou Berdegué. Os mais pobres são as principais vítimas tanto da desnutrição como da obesidade, em particular as mulheres, os indígenas, os afrodescendentes e as populações rurais.

Em dez países, 20% das crianças mais pobres sofrem três vezes mais com a desnutrição crônica que as 20% mais ricas. "Estamos condenado-os a um futuro tremendamente difícil", afirmou Berdegué. Na Bolívia, por exemplo, 25% das crianças quéchua e 23% das aimará sofrem de subalimentação crônica.

Venezuela lidera 
Com 600 mil pessoas a mais de 2014 a 2015, Venezuela lidera o crescimento no número de pessoas subalimentadas, com 3,7 milhões (11,7% da população), seguida por Argentina e Bolívia, onde o aumento foi de 0,1% em ambos os países. Só Haiti, México, Colômbia e República Dominicana reduziram a fome desde 2014.

Outros onze países seguem sem mudanças, entre eles Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras e Peru. Só Brasil, Cuba e Uruguai têm porcentagens de fome inferiores a 2,5% de sua população. Elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), e pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA), o informe aponta as mudanças sofridas pelos sistemas alimentares da região.