Apneia de sono pode elevar risco de Alzheimer Pesquisa indica relação entre problemas respiratórios no sono e acúmulo de proteína envolvida na enfermidade neurodegenerativa

Vilhena Soares
local@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 16/03/2019 03:00

Pessoas que sofrem com a apneia do sono podem ter um risco maior de serem acometidas pelo Alzheimer. É o que mostra um grupo de cientistas americanos em um estudo apresentado na 71ª Reunião Anual da Academia Americana de Neurologia, realizada na semana passada, na Filadélfia (EUA). A equipe analisou um grupo de mais de 200 idosos e observou forte relação entre indivíduos com problemas respiratórios no sono e acúmulo da proteína cerebral tau, um dos elementos envolvidos na enfermidade neurodegenerativa. Para os cientistas, o resultado do trabalho pode ajudar em estratégias de prevenção da demência mais incidente no mundo.

Os autores resolveram investigar o tema após evidências científicas recentes da associação entre o risco aumentado de demência e a perturbação do sono. Segundo os cientistas, isso ocorre principalmente na apneia obstrutiva do sono, um distúrbio potencialmente grave em que a respiração cessa repetidamente enquanto a pessoa dorme. “Estudos prospectivos em idosos com apneia demostraram uma associação entre ela e demência. Porém, não está claro como a apneia do sono pode levar ao desenvolvimento de demência e qual o tipo pode causar”, conta o brasileiro Diego Z. Carvalho, primeiro autor do estudo e pesquisador da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.

Carvalho explica que, na doença de Alzheimer, dois tipos de proteína tóxica se acumulam no cérebro: tau e beta-amiloide. Existem estudos demonstrando associação entre apneia de sono e aumento nos níveis de beta-amiloide, mas pouco se sabe sobre a tau. Para entender melhor essa relação, Carvalho e colegas usaram o Estudo de Envelhecimento da Clínica Mayo, instituição americana não governamental de pesquisa médica. Com base nos milhares de dados disponíveis, identificaram 288 pessoas com 65 anos ou mais que não tinham diagnóstico de demência. Após a seleção inicial, entrevistaram o(a) parceiro(a) desses indivíduos sobre  a ocorrência de apneia durante o sono.

Em uma segunda etapa, os 288 idosos foram submetidos a tomografias por emissão de pósitrons — exame de imagem extremamente detalhado — para a busca por sinais de acúmulo da proteína tóxica tau no córtex entorrinal, parte do cérebro em que essa molécula costuma se agrupar. Os investigadores constataram que 15% dos analisados tinham apneia do sono, conforme relato do(a) parceiro(a), e apresentavam, em média, nível 4,5% maior de proteína tau no córtex entorrinal.

Para reduzir o efeito de variáveis que pudessem interferir nos resultados, os pesquisadores controlaram outros fatores que afetam os níveis de tau no cérebro, como idade, sexo, educação, risco cardiovascular e outras queixas de sono. “Nossos resultados de pesquisa levantam a possibilidade de que a apneia do sono afeta o acúmulo de tau”, frisa Carvalho.

Ligação complexa

Os pesquisadores acreditam que mais estudos são necessários para decifrar a relação entre os dois problemas e apontam, entre as limitações da pesquisa, a falta de estudos do sono para confirmar a apneia e sua gravidade e a falta de informação sobre o tratamento da apneia do sono pelos participantes.