Um novo olhar sobre os procedimentos estéticos Antes vistos só como questão de vaidade, cirurgias e tratamentos estão sendo incorporados aos cuidados de saúde rotineiros

texto: Alice de Souza
alice.souza@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 13/07/2019 03:00

O primeiro procedimento estético da empresária e advogada Amanda Machado foi feito aos 18 anos. Logo ao completar a maioridade, ela realizou uma lipoaspiração para modelar o corpo em algo que a incomodava. Essa foi a primeira de uma série de intervenções estéticas pelas quais Amanda se submeteu nos últimos 12 anos. Cuidar da beleza faz parte da rotina dela e inclui ainda visitas frequentes ao dermatologista. Aos 30 anos, Amanda é reflexo da mudança na relação entre as gerações e os tratamentos estéticos. Se antes eram vistos como receio ou reparação tardia, agora eles são, cada vez mais, incorporados ao cotidiano como métodos preventivos e de cuidado da saúde.

Uma pesquisa realizada pela farmacêutica Allergan com 14,5 mil consumidores e 1,3 mil médicos em 18 países mostrou que o uso de plataformas digitais e a adesão dos chamados millennials, nascidos entre 1981 e 1996, aos tratamentos estão impulsionando a categoria de estética médica no mundo. No Brasil, o Allergan 360° Aesthetics Report entrevistou 611 pessoas e revelou que 81% dão valor à aparência como fator que contribui para o sucesso em todos os aspectos, o que faz com que 86% dos médicos acreditem num aumento no número de pacientes atendidos pelos próximos 12 meses.

“Percebemos que as pessoas estão mais à vontade em admitir que desejam procedimentos estéticos. Realizamos uma pesquisa no ano passado e cerca de 50% dos entrevistados no Brasil queriam fazer tratamentos. Neste novo levantamento, o percentual subiu a 73%”, explica a diretora da Allergan, Cecília Gurgel. Outro dado mostrado pela pesquisa é que o conceito de beleza foi ampliado em relação ao passado, o que influencia na forma como as pessoas buscam os procedimentos estéticos. “Magreza e peso são palavras que deixaram de ser mencionadas. As pessoas de 21 a 35 anos chegam a mencionar as curvas como definição de beleza”, acrescenta Cecília.

Na visão da dermatologista membro da Academia Americana de Dermatologia Ligia Colucci, os interessados por tratamentos estéticos hoje buscam mais naturalidade nos resultados. “As pessoas procuram estar bem na fase da vida em que se encontram. O tratamento deixou de ser algo pontual para fazer parte da rotina de cuidados. A consulta é como uma consultoria”, diz. Para o cirurgião plástico e pesquisador do laboratório de Biologia Celular e Tecidual do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) Ricardo Boggio, os tratamentos têm sido cada vez mais vistos como questão de saúde. “Quando se fala em procedimento estético, o paciente precisa ir ao consultório, ser avaliado, como numa rotina médica comum, para construir um plano de tratamento”, ressalta.

Segundo eles, pessoas com menos de 30 anos têm procurado cada vez mais cedo os consultórios. “Aqueles com mais de 50 geralmente são os que fizeram intervenções demais. Os que têm de 30 a 50 anos fazem parte do grupo que tem medo. Já os de menos de 30 chegam sabendo o que querem”, diz. Nesse aspecto, o papel dos profissionais é dosar a expectativa e a realidade. “É preciso desconstruir imagens prontas, explicar a necessidade real de um procedimento, fazer a pessoa refletir sobre os objetivos e motivações, para traçar um diagnóstico”, acrescenta Boggio.

Amanda Machado acredita que a própria relação dela com a estética mudou. “Eu nunca tive medo de fazer os procedimentos ou de as pessoas saberem que eu fiz. Com a maturidade, a questão do empoderamento feminino, comecei a me reconhecer de outra forma como mulher”, diz. No caso da estudante de administração Larissa Alvarenga, 22 anos, os cuidados com a estética começaram também na adolescência, mas ainda não se estenderam para procedimentos cirúrgicos. “Passo protetor solar sempre, frequento o dermatologista. Desde que comecei a me maquiar, tenho esse cuidado. Sempre busquei também muita informação, pesquisei na internet sobre olheiras, sobre outros procedimentos. Penso sempre no futuro.”

Saiba mais
  • 73% das pessoas têm interesse em investir em tratamentos estéticos nos próximos 12 meses
  • 50% era esse percentual no ano passado
  • 83% das pessoas estão dispostas a investir na aparência
  • 71% das pessoas têm interesse em fazer uma consulta com um profissional
No Brasil
  • 51% das pessoas estão insatisfeitas com o formato do próprio corpo
No mundo...
  • 69% das pessoas acreditam que melhorar a aparência é importante para as atividades diárias
  • 64% dizem que estar em forma e saudáveis, na moda e com a beleza em dia contribui para a confiança
3 principais consensos sobre beleza no mundo
  • 57% das pessoas acreditam que existe solução para resolver questões com o próprio corpo
  • 55% estão preocupados com a naturalidade dos resultados dos procedimentos estéticos
  • 54% afirmam que continuarão tentando atingir o seu ideal de corpo