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Os corações que pulsam nos bonecos gigantes
Símbolos do carnaval viajaram desde a Europa até chegar em Pernambuco, mas só vão às ladeiras pelo esforço de anônimos
texto: Isabela Veríssimo
isabelaverissimo@diariodepernambuco.com.br
fotos: igo bione/dp
Publicação: 11/02/2017 03:00
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Rodrigo coleciona histórias curiosas com os bonecos |
Engana-se quem pensa que um boneco gigante é feito só de argila, gesso e fibra de vidro. São bem mais que três metros de altura originados na Europa, recriados com um sangue puramente pernambucano. Também é gigante a força dos manipuladores que abraçam Olinda de uma vez só. Anônimos aos olhos do folião, mas funcionando como o coração de um corpo que pulsa ao som do frevo. “Minha avó era estilista profissional de bonecos, via ela tirando as medidas e ficava doidinho no meio deles”, diz Gabriel Arthur, que já passou 14, dos 18 anos de idade, lidando com os símbolos do carnaval. Já se acostumou com o desafio de controlar braços com mais de três metros de envergadura, desviados pelos foliões que acompanham o desfile.
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Com apenas 12 anos, Cauã Fábio vai manipular um dos bonecos gigantes pela terceira vez. A avó costureira foi o que levou Gabriel Arthur ao convívio com os bonecos |
Carregar os bonecos não é missão exclusiva aos adultos. Cauã Fábio, de apenas 12 anos, também manipula um deles - adaptado, com um tamanho menor - e não gosta nem de pensar na chance de não desfilar. “Não sei o que eu faria, não teria como. É isso que eu quero fazer pra sempre”, revela inquieto.
Para carregar tanta história nos ombros, ou melhor, na cabeça, a preparação acontece durante o ano todo. Cada boneco pesa, aproximadamente, 22 quilos. Os manipuladores se revezam a cada 40 minutos no sobe e desce das ladeiras. “Cada minuto com eles no corpo faz o peso se multiplicar”, conta Rodrigo Soares, manipulador na Embaixada dos Bonecos Gigantes de Olinda há 19 anos. Para dar conta do recado, foca em uma alimentação regrada e sem extravagâncias. Corridas também fazem parte do cotidiano.
É preciso ter resistência para conseguir manter o molejo de um dos principais símbolos do carnaval pernambucano. “Não vejo a hora de colocar os bonecos para cima e começar o movimento”, afirma, contando os minutos para o grande dia.
Tanto tempo na área faz com que muitas histórias de carnaval lhe acompanhem. Nem sempre tudo sai como planejado. Hoje aliviado, Rodrigo relembra uma história fazendo a quase tragédia se confundir com a gargalhada de quem conseguiu superar momentos de aflição. “Um dia, meu amigo estava manipulando um boneco e uma foliã puxou a mão dele. Fez tanta força que o boneco acoplou o corpo dele e ninguém entendia o que tinha acontecido. Achávamos que ele tinha caído na frente do boneco, mas ninguém conseguia vê-lo, só ouvíamos os gritos abafados pela carcaça. Quando fomos tirar o boneco do chão, ele estava lá”, rememora.
Números
- 3m - largura média dos braços do boneco gigante em movimento
- 20kg - é o peso médio de um boneco gigante
- 4h - é o tempo médio do boneco nas ladeiras
- Entre 30 e 45 dias para um boneco ficar pronto
- 3m - altura média de um boneco gigante fora do manipulador
- 85 anos do boneco gigante mais famoso: o Homem da Meia-Noite
- 98 anos do primeiro boneco gigante: Zé Pereira
- 30 anos do Encontro dos Bonecos Gigantes
- 33 anos do nascedouro dos bonecos gigantes em Olinda
- 8 anos da fundação Embaixada dos Bonecos Gigantes de Olinda
- 36 Bonecos na Embaixada
- + 1.000 bonecos criados por Silvio Botelho