CARNAVAL 2020 » Galeria do Ritmo busca 1º lugar A escola de samba permaneceu, nos últimos 12 anos, com o segundo lugar do concurso e espera voltar a conquistar título

Anamaria Nascimento
anamaria.nascimento@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 11/01/2020 03:00

Os trabalhos no barracão da Escola de Samba Galeria do Ritmo, no Alto José do Pinho, começam pontualmente às 7h. Em uma sala de 20 metros quadrados sem ventilador ou ar-condicionado, mas com um janelão onde é possível observar a rotina do bairro da Zona Norte do Recife, integrantes da agremiação colam penas, lantejoulas, cordões coloridos e tecidos. O cheiro forte de cola se mistura ao de suor. Os preparativos para o desfile da escola – que tem sede no Morro da Conceição, mas concentra a produção dos adereços no bairro vizinho – no dia 24 de fevereiro vão até a madrugada. O descanso dura menos de cinco horas, e os serviços recomeçam na manhã seguinte. Até o carnaval, a rotina será a mesma no galpão.

O último título da escola foi conquistado em 2008. Desde então, a Gigante do Samba, da Bomba do Hemetério, também na Zona Norte da cidade, tem ficado com o primeiro lugar do grupo especial de escolas de samba do Recife. A Galeria do Ritmo permaneceu, nos últimos 12 anos, com o segundo lugar do concurso. “Acho que a gente, em algum momento, se contentou com o segundo lugar, mas isso não acontece mais. Há três anos, a gente tem ido para a avenida pra ganhar”, diz o carnavalesco da escola, José Ricardo Dias, o Xuxa, 48 anos.

Criado no Alto José do Pinho, Xuxa assina a criação do tema “Licença, Amazônia, vou falar de você” com o outro carnavalesco da escola, Romildo Nunes. “Saio como na Galeria desde pequeno. Comecei com 7 anos, na bateria mirim. Se você perguntar a qualquer pessoa da escola, todos têm uma relação de longa data, de amor e dedicação”, afirma Xuxa. Os integrantes creditam ao amor pela agremiação o fato de ela ainda estar na rua. “A gente se sente muito injustiçado. Se considerássemos apenas o resultado do concurso, já tínhamos desistido, mas permanecemos por paixão à Galeria e ao samba”, desabafa.

A concorrência com as outras escolas de samba da cidade, em especial com a Gigante do Samba, fica apenas na avenida, diz o carnavalesco. “Temos a mesma causa, que é o samba. O nosso objetivo é que todas estejam fortalecidas. Há 20 anos, o Recife tinha 12 escolas. Hoje, são cinco. Não podemos ter inimigos no meio. A disputa só acontece na hora do desfile”, garante. Uma das principais bandeiras dos presidentes das escolas é conseguir mais formas de financiamento dos trabalhos. Para o carnaval 2020, a Galeria do Ritmo estima um custo de R$ 250 a 300 mil. “Boa parte a gente tira do próprio bolso e recebe material e doações de amigos da comunidade. Além do poder público, gostaríamos que empresas apoiassem o evento”, afirma.

A falta de dinheiro obrigou a Galeria do Ritmo a reduzir o número de integrantes por ala para o desfile deste ano. Em 2019, com o tema “Arrecifes, segredos e lendas do fundo do mar”, a escola foi para a Avenida Nossa Senhora do Carmo com 50 pessoas por ala. Neste ano, serão 40. “Vamos adaptando à realidade financeira e também às questões que vão surgindo. Pensamos no enredo deste ano antes das queimadas (o aumento na quantidade de incêndios e a destruição da Amazônia levantaram várias discussões nacionais e internacionais), mas resolvemos, mesmo não estando no planejamento inicial”.