Terreiro, lugar de criança Encontro em Paulista vai reunir meninos e meninas de quatro regiões

EMANNUEL BENTO
emannuelbento@gmail.com

Publicação: 18/05/2019 03:00

O Brasil é um dos países mais ricos em cultura no mundo. Isso também serve para as religiões. Os índios  tinham suas crenças. Depois que descobriram nossas terras, os portugueses trouxeram o cristianismo, construindo igrejas que podemos visitar até hoje. Os africanos, trazidos à força para servir de mão de obra escrava, também tinham suas religiões e deram continuidade a suas tradições. Assim, enquanto algumas crianças crescem indo para missas nos templos católicos, cultos nas igrejas evangélicas ou encontros em centros espíritas, muitas outras são criadas nos terreiros.

E os terreiros não são apenas os lugares onde se praticam as religiões de matrizes africanas, como o candomblé, a umbanda, a jurema sagrada e o tambor de mina. Os terreiros, além de serem espaços para a prática de rituais das religiões, também servem como espaço de brincadeiras, vivências e transmissão de conhecimento para as crianças.

Em cada região do país existem tradições diferentes. Por isso, será realizado o II Encontro Nacional de Crianças de Axé, nos dias 25 e 26 de maio, no Terreiro Axé Talabi (Rua Orobó, 257, Paratibe, Paulista), um espaço reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana. O objetivo do encontro é fazer uma troca entre crianças do Distrito Federal e de 11 estados: Pernambuco, Bahia, Maranhão, Paraíba, Alagoas, Ceará, Rio Grande do Norte, São Paulo, Pará, Acre e Mato Grosso.

“Queremos proporcionar um espaço lúdico, trazendo o corpo como brinquedo. Essa temática boa porque a manifestação cultural é importante para o desenvolvimento da criança enquanto cidadão”, diz o babalorixá Pai Júnior, um dos organizadores do evento. O espaço de terreiro, segundo ele, também é um espaço de brincar, e as crianças aprendem brincadeiras e cultura. “Aqui em Pernambuco se aprende o toque de tambor de uma forma. Lá, no Maranhão, se aprende diferente. Ou seja, o encontro será um espaço para poder proporcionar esse intercâmbio”, completou.

As crianças ainda vão aprender sobre coisas que têm influência das religiões afro-brasileiras. São muitas. No mundo da alimentação temos o acarajé, o milho branco e o doce de Oxum, iguarias influenciadas pelos orixás e oxalás (nomes que usam para se referirem às várias entidades). No universo da dança e da música temos o coco, o afoxé e o maracatu. Estes são os de Pernambuco. Em outros lugares do país existem o ijexá, o jongo, o carimbó, a lambada, o maxixe e o maculelê. Além disso, o encontro vai tratar das origens dos orixás, oxalás e outras divindades, que por tradição os mais velhos transmitem de forma oral para as crianças. São lendas e contos que explicam o princípio de fenômenos da natureza, acontecimentos sociais, entre outras coisas do nosso mundo.

Pai Júnior destaca que, nas comunidades mais carentes, os terreiros acabam sendo espaços de acolhimento social para as crianças e suas famílias. Mesmo que eles não sejam praticantes das religiões. “Muitas vezes os pais trazem as crianças para rezar. É da cultura popular brasileira acreditar nessa coisa do ‘mau- olhado’, então elas chegam no terreiro quando estão com algum problema de saúde, como febre ou dor de cabeça. Os integrantes dos locais dão um banho de folhas, fazem uma reza. Acaba sendo uma promoção de saúde para a comunidade”.

Um dos momentos mais esperados do encontro será o lançamento da Rede Omodé Àse - Rede Nacional de Afeto e Proteção das Crianças de Axé, organismo colaborativo que servirá de instrumento para defesa dos diversos direitos das crianças, sobretudo os relacionados à vida, à família, à educação e ao livre exercício da religião. As inscrições para o evento já foram encerradas.

“Aqui em Pernambuco se aprende o toque de tambor de uma forma. Lá, no Maranhão, se aprende diferente. Ou seja, o encontro será um espaço para poder proporcionar esse intercâmbio ”
Pai Júnior, Babalorixá e organizador do encontro