Mistério e assombração Personagens horripilantes e assustadores ajudam a compor ambientes para atrair o público que gosta do universo sobrenatural

Publicação: 22/06/2019 03:00

De acordo com o livro Assombrações do Recife Velho, do renomado escritor pernambucano Gilberto Freyre, a antiga Avenida Malaquias, que margeava o terreno atual do Parque da Jaqueira, tinha fama de mal-assombrada. Era uma rua repleta de velhas jaqueiras e mangueiras e que, ao cair da noite, parecia um resto de mata. Mais de um homem fora assassinado naquela rua no período noturno. Eram comuns também os vultos brancos embaixo de suas árvores, bichos estranhos (seriam lobisomens?) e vozes estranhas. Uma delas pediu para o transeunte “Não me deixes no escuro!” em alusão a não apagar o seu lampião enquanto transitava na rua.

São inúmeras lendas sobre fantasmas e assombrações na nossa cidade, como o Velho Candeeiro, Noiva da Capela, Comadre Florzinha ou Fantasma do Menino Feliz. Quem compareceu ao espetáculo Lenda e Assombrações na Jaqueira, no parque da Zona Norte da cidade, na última quarta-feira, às 20h30, pôde conhecer mais um pouco dessas histórias fantásticas, repletas de suspense e surpresas, incluindo ainda uma caminhada. A peça gratuita foi promovida pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade.

Cerca de 19 pessoas estiveram envolvidas no projeto e todo o elenco foi formado pela equipe de arte-educação da secretaria. A ação buscou estimular a educação ambiental através dos mitos e lendas que habitam o imaginário do povo pernambucano, utilizando as árvores do Parque da Jaqueira como cenário, bem como as lendas e as histórias fantásticas do lugar.

O Velho do Candeeiro, fantasma de um trabalhador do Sítio da Jaqueira (nome antigo da localidade onde atualmente é o parque), foi interpretado pelo poeta Felipe Junior. Ele guiou o público durante o espetáculo, com paradas em espaços estratégicos. Através da linguagem de cordel e expressões bem regionais, ele fez a apresentação dos personagens, das histórias e do parque. O roteiro foi de Álcio Lins e Flávia Gomes, enquanto a direção ficou por conta de Pascoal Filizola. Aldeline Silva, Daniela Albuquerque, Danielson Holanda, Felipe Júnior, Lucas Sotero, Pascoal Filizola, Simone Santos, Talis Ribeiro, Thayse Boldrini também integraram o elenco.

Os fantamas

Conheça mais os personagens assombrados do Recife

VELHO DO CANDEEIRO

O Velho do Candeeiro é uma aparição que guiará o público no roteiro do espetáculo. Em formato popular através da linguagem de cordel e expressões de nossa terra, ele fará a apresentação dos personagens, das histórias e do nosso parque. .

NOIVA DA CAPELA

No fim do século 19 habitantes do Recife tinham visões de uma noiva em cima de um burrico em frente à Capela do Sítio da Capela. Em 1817, Maria Teodora casou com Domingos José Martins, um dos líderes da Revolução Pernambucana de 17, nesta Capela. Após três meses, Domingos morreu na Bahia. No imaginário popular, a noiva do burrico seria Teodora se lamentando pela viuvez.

COMADRE FULOZINHA
A comadre pode assustar quem esteja andando a cavalo na mata sem lhe deixar uma oferenda. Ela amarra o rabo e a crina do animal de tal forma que ninguém consegue desatar os nós. A ela também são atribuídos “causos” semelhantes contados pelos anciãos das regiões rurais, onde os rabos dos cavalos no estábulo amanhecem amarrados. Em algumas regiões também é conhecida como uma entidade que protege a floresta, daí sua semelhança com a Caipora.

FANTASMA DO MENINO FELIZ

No imaginário inglês, existem fantasmas de meninos vestidos de branco com semblantes de felicidade, brincando em jardins, festas, etc. Com a chegada dos ingleses ao Recife no fim do século XIX, essa crença foi reproduzida em nossas terras, principalmente na Zona Norte, local onde boa parte dos ingleses habitavam na cidade. No Recife, dizem que existe um com esse perfil que aparecia no mastro de uma casa nas margens da atual Avenida Rui Barbosa. A casa existe até hoje e fica próxima ao Parque da Jaqueira.