Cada religião tem sua própria Páscoa Palavra de origem hebraica, "pessach", lembra vida e morte de Jesus e representa passagem

Ana Paula Neiva
aneiva@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 31/03/2018 09:00

A morte e ressureição de Jesus Cristo não são lembradas apenas pela Igreja Católica. Embora de formas diferentes, evangélicos, espíritas, umbandistas, judeus e outros cristãos também comemoram a Páscoa. É uma data religiosa, sem dia oficial, que acontece 47 dias após a Quarta-feira de Cinzas, marcando o início da Quaresma. A Bíblia Sagrada relata que a Quaresma é o período em que o filho de Deus jejuou no deserto e foi tentado à exautão pelo satanás. A origem da palavra Páscoa vem do hebraíco “pessach”, que significa passagem. No calendário gregoriano, pode ser festejada entre os dias 22 de março e 25 de abril. Celebrada de pontos de vista diferentes, a festa tem suas peculiaridades em cada religião. O ovo simboliza o nascimento. Já o coelho, animal símbolo da reprodução, representa a fertilidade e a esperança. Na Alemanha, Polônia e Ucrânia costumava-se colorir ovos de galinha cozidos. Eles eram servidos no café da manhã do sábado ou domingo de Páscoa ou presenteados aos amigos. O hábito ainda se mantém em algumas regiões desses países. No Leste Europeu, também se pintam ovos ocos de galinhas em cores vibrantes. Tradicionalmente, eles enfeitam a casa até a segunda-feira após a Páscoa. No Brasil, a tradição dos ovos foi trazida no início do século 20 por imigrantes alemães.

ESPÍRITAS
Os espíritas, apesar de não comemorarem datas consagradas por outras religiões e dogmas, respeitam as manifestações de religiosidade de todas as igrejas cristãs. Mesmo acatando os preceitos do Evangelho de Jesus, na Doutrina Espírita não existe ritualismo. A Páscoa é uma data caracterizada pela evolução espiritual. “Respeitamos a Páscoa comemorada pelos judeus e cristãos e compartilhamos o valor do simbolismo representado”, Marta Antunes, dirigente da Federação Espírita Brasileira. Assim, os espíritas procuram comemorar a Páscoa todos os dias. Embora o espiritismo seja cristão, um  dos pontos divergentes é a ressureição. Para o espiritismo não é possível voltar ao corpo físico após a morte. O espírito sim, é imortal. Este tem condições de se manifestar e retornar à matéria em um novo corpo, seguindo o princípío da reencarnação .

EVANGÉLICOS
Para evangélicos, a comemoração da Páscoa não difere muito do que ocorre com os católicos. Creem na ressureição do corpo e da alma. Os seguidores luteranos têm o hábito de usar o coelho como símbolo de fertilidade e vida. Os pentencostais acreditam que o período seja mais de introversão. Também acreditam no Cristo ressuscitado. Durante a semana, acontecem cultos especiais, chamados de “cantatas”. Neles, ocorrem apresentações teatrais com música. No Domingo de Páscoa, há o culto da ressureição. É o dia que representa a salvação  dos pecados. Evangélicos não acreditam no coelho, nem cultivam a distribuição de chocolates. “A Páscoa é um meio de redimir os  pecados, louvando a Jesus”, disse o ministro da Igreja Batista da Capunga, pastor Ronaldo Rossi. Eles comemoram a vitória da vida sobre a morte e, acima de tudo, a volta de Jesus como o grande salvador.

CATÓLICOS
A Páscoa celebra a ressureição de Jesus, festa mais importante para os cristãos. Representa a vitória sobre a morte, recordando a libertação do povo do Egito em destino à terra prometida. A Bíblia diz que depois de morto na cruz, Jesus foi colocado em um sepulcro, onde permaneceu por três dias até ressuscitar e aparecer na forma viva para apóstolos e seguidores. “A Páscoa é a festa central da fé cristã. O apóstolo Paulo nos diz que se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria nossa fé. Celebramos o mistério em cada missa e no domingo anunciamos a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado. É tempo de renovar a fé e esperança em meio a tantos obstáculos. O sepulcro veio para valorizarmos a vida. Hora de recomeçar”, explicou o padre Rinaldo Pereira. Além do coelho, que representa a fertilidade e esperança de nova vida, os católicos adotam como símbolos litúrgicos, o círio pascal (fogo novo) e a água, que é abençoada. No início da Quaresma, padres usam batinas na cor roxa até o sábado que antecede o Domingo de Ramos. Depois usam o vermelho, que simboliza o martírio de Cristo. No Domingo de Páscoa, adotam batinas brancas. Sexta-feira da Paixão é dia de tristeza e peregrinação. O Sábado de Aleluia é marcado por penitência e espera. E o domingo, dia da Ressurreição, festa pela nova vida.

UMBANDISTAS
Nas religiões de tradições africanas, na sexta-feira que antecede o Domingo de Páscoa, os terreiros ficam fechados. É tempo de renovar as energias. “Isso é um fator histórico para resistir e perpetuar o culto. Nossos ancestrais adaptaram os rituais ao calendário religioso católico. Mas para nós, todas as sextas-feiras são santas, é dia de Oxalá. Vestimos branco em respeito à reverência a esse orixá. Há casas que realizam almoços com toda a comunidade do terreiro. Também há o costume de fazer defumações e banhos de ervas após a Quaresma. Não se faz o jejum, mas não se come e nem se bebe exageradamente”, explicou o babalorixá Edson de Omolu. Umbandistas concentram-se em pensamentos positivos. Edson diz que é preciso lembrar que a Umbanda se constitui num hibridismo de ritos e mitos da religiosidade africana, indígena e católica. “Esse processo tanto se dá por necessidade de resistência, iniciado pelos primeiros negros que chegaram ao Brasil antes da formação do Candomblé e seguiu também na constituição da Umbanda”, observou. Na maior parte dos altares de Umbanda, chamados de Congá, encontra-se no nível mais alto a imagem de Cristo de braços abertos, devido ao fato de Oxalá ser o orixá chamado de “pai de todas as cabeças”.

JUDEUS
A Páscoa Judaica está ligada a acontecimentos ocorridos há mais de 4 mil anos e simboliza a libertação dos judeus do cativeiro do Egito. Para conter o aumento populacional, o governo egípcio ordenou que todos recém-nascidos de origem judia do sexo masculino fossem mortos. Moisés ainda bebê foi colocado num cesto e jogado no Rio Nilo. Encontrado pela filha de um faraó, ele acabou sendo criado como um dos súditos da família real. Na idade adulta, Deus teria surgido em um arbusto ordenando que Moisés libertasse os judeus do Egito. Negando-se a atender ao pedido divino, revelado por Moisés, o faraó viu seu reino ser severamente castigado com dez pragas. Diante da maldição, permitiu que os hebreus saíssem daquela terra e fossem até Canaã. Foram 40 anos de travessia do deserto. Os judeus denominaram a data de Pessach, uma das mais importantes do seu calendário. “É quando se comemora a libertação do povo judaíco. Ou seja 50 dias depois da festa de Pentecostes. Este ano, a abertura das comemorações que levam oito dias, coincide com a sexta-feira da Paixão”, explicou Jáder Tachlitsky, assessor de comunicação da Federação Israelita de Pernambuco. Neste dia, Judeus não comem alimentos com fermentos. À noite, acontece um jantar familiar, o sêder, onde é contada toda história à família e ocorre apresentações teatrais e musicais.