Moda empoderadora Camisetas com frases contra machismo e valorizando o feminismo viralizam nas redes, incentivando a maternidade real

Larissa Lins
larissa.lins@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 30/06/2018 03:00

Nascidas no cenário virtual, as camisetas empoderadoras da Mamahood viralizaram nos últimos meses no Instagram: “Com mãe feminista, eu não cresço machista”, diz a estampa de uma das peças mais populares da marca. “Don’t mess with mama” (em tradução livre, “não mexa com a mamãe”), “Mãe feminista”, “Pequena feminista”, “Mães pela diversidade” e “Lute como uma garota” são outras frases disponíveis no catálogo da Mamahood, criada e administrada pela paulistana Priscila Josefick, uma psicóloga de 31 anos que abraçou a moda ao se tornar mãe.

“Com dois meses para encerrar minha licença maternidade, eu estava desesperada. Não queria me separar do meu filho. Quem cuidaria do Valentim seria o pai dele. Nisto eu estava supertranquila: não existia pessoa melhor no mundo para cuidar dele. Porém, eu não queria estar distante nesta fase tão importante da sua primeira infância. Eu queria acompanhar de pertinho e viver meu sonho de ser mãe”, lembra Priscila. Entre “dúvidas e lágrimas”, como ela recorda, pediu as contas no trabalho e decidiu se aventurar na jornada da maternidade em tempo integral. E deu à luz, em paralelo, a Mamahood. “Eu precisava trabalhar de alguma forma, pois os boletos não paravam de chegar. Pensei em fazer uma marca de roupas infantis, depois comecei a bordar… Em junho de 2017, há exatamente um ano, decidi criar uma marca com foco nas mães. Nós sempre somos esquecidas. Como eu gostava muito de conversar sobre a maternidade real e compartilhar experiências, quis desenvolver produtos que pudessem acolher as mães e fazer com que elas se sentissem especiais”, conta a paulistana.

A viralização das peças foi inesperada: Priscila previu críticas, mas recebeu incentivos. Terminou por contribuir, através da moda, para a criação de uma rede de apoio entre produtoras de conteúdo que estimulam a maternidade real. As crianças, naturalmente, foram integradas ao circuito. “O que mais percebo que viralizou foram as camisetas infantis. Acredito que as pessoas se chocaram um pouco ao verem crianças carregando no peito mensagens tão fortes e importantes. Mas precisamos lembrar que existe uma pessoa dentro de um corpo pequeno, que ela é um individuo pensante e que pode conversar sobre assuntos importantes que muitos adultos consideram como tabu. São as crianças que vão mudar o futuro. É importante que elas sejam questionadoras e empoderadas”, avalia Priscila. Sem nem mesmo haver destrinchado todas as possibilidades de seus planos como empreendedora antes de se lançar no segmento, ela obteve amplo alcance espontâneo nas redes. O empoderamento feminino e a desromantização da maternidade estão entre as tendências político-sociais que ajudam a explicar o fenômeno. A perspectiva, alimentada por especialistas e críticos do setor, de que a moda do futuro seja de maior engajamento e diálogo ainda mais estreito com as demandas da sociedade em geral, lança luz sobre um futuro promissor para o selo Mamahood – e iniciativas afins. A indústria da moda fala mais e mais para pessoas reais. Sobre pessoas reais.

Hoje, o perfil da Mamahood no Instagram acumula mais de 8,4 mil seguidores e gera conteúdo de incentivo à economia criativa e aos projetos de mulheres empreendedoras. As peças, todas idealizadas por Priscila Josefick, têm as estampas desenvolvidas pelo companheiro dela, Shamil Carlos, responsável por criar as artes da marca – cuja confecção é terceirizada por uma oficina de costura e uma estamparia. “Eu coloco tanto amor nos meus produtos! Fico imensamente feliz que o público está sentindo todo esse amor depositado. No início, achei que receberia muitas críticas, mas o que eu mais recebo é carinho de pessoas que se identificaram com a minha mensagem”, diz ela.

Entrevista

Priscila Josefick // idealizadora da Mamahood

De que forma a maternidade te inspira e motiva a criar?
Ser mãe foi totalmente decisivo. Se eu não fosse mãe e nem tivesse escolhido sair do meu trabalho, a Mamahood não teria existido. A maternidade mudou toda a minha forma de ver a vida. Minha ficha caiu de que a vida é muito curta para a gente não ser feliz. Então, eu abracei meu exercício de ser mãe, criei vinculo afetivo com outras mães. A troca de experiências entre mães me motiva diariamente.

Acredita que a moda esteja se fortalecendo como ferramenta política e de transformação social?
A transformação social é algo extremamente necessário. E somos nós, as mães, que estamos criando o futuro: nossos filhos serão o reflexo da nossa criação. Minha luta é por uma sociedade mais justa e igualitária entre homens e mulheres. Nossos filhos já sofrem essa pressão desde a infância, então crio produtos que provocam a conscientização e a liberdade de nossas crianças. É importante a desconstrução do machismo, que é prejudicial tanto para as meninas quanto para os meninos.

Se pudesse enumerar as principais razões para a Mamahood ter viralizado nas redes, quais seriam?
Quanto aos meus produtos voltados para as mães, acredito que muitas se sentiram representadas. Não somos santidades, muito menos  “mães perfeitas.” Somos mães possíveis e que merecem ser respeitadas e incluídas na sociedade como seres com desejos. Existimos sem filhos também.

Pensa em ampliar o catálogo da marca?
Sim, a minha cabeça nunca para de ter ideias. Já tenho projetos que serão lançados no decorrer do ano. Acabamos de lançar nossa coleção de inverno, com três modelos que camisetas infantis e um moletom para as mamas.

Para acompanhar

A pedido do Diario, a criadora da Mamahood listou perfis inspiradores no Instagram. São criadoras de conteúdo que valorizam a maternidade real, quebrando tabus e criando uma rede de apoio entre mães. “São apenas algumas das mães que me inspiram, não apenas no ‘maternar’, mas no sentido de nos enxergarmos como mulheres que são mais do que apenas mães”, explica Priscila.

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Serviço

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