Universitária ficou diante da realidade do Haiti Trabalho voluntário no país da América Central, atingido por grandes terremotos, inclui atividades em um campo de deslocados com mais de 250 mil pessoas

Publicação: 10/11/2018 03:00

A viagem de voluntariado nas férias pode ser combinada com outras experiências, como a realização de cursos de idiomas, visitação a atrativos turísticos locais ou workshops. Pode ser feita de forma individual ou também coletiva, com amigos ou até colegas de trabalho. A estudante de psicologia Bárbara Lima, 21, por exemplo, participou de uma viagem em grupo para o Haiti.  No começo deste ano, ela passou oito dias trabalhando como voluntária em orfanatos e escolas. A VV realiza várias vezes ao ano a Semana VV, dedicada a levar grupos de voluntários ao exterior. Já a CI permite a combinação de viagens com aulas de surf e até a realização de safáris. 

Em janeiro do próximo ano, a VV realizará outra viagem ao Haiti. Dessa vez, além de atuar nos orfanatos de duas comunidades locais, os voluntários participarão de um workshop com o fotojornalista Anderson Stevens. “O intuito é registrarmos todos os pontos da viagem numa visão fotojornalística, contando as histórias. Na volta, a ideia é conseguirmos fazer um livro e uma exposição”, contou Anderson.

Para Bárbara, a experiência do Haiti foi surpreendente em vários aspectos. “Esperava encontrar uma pobreza como no Brasil, mas é muito pior. As pessoas não têm direito à luz e água. O governo só dá acesso à luz de madrugada, quando todos estão dormindo. Fiquei impactada com isso, mas também com o fato de existirem pessoas que transformam coisas ruins em leves, como as que atuam nos orfanatos”, explica. 
 
Como se organizar
  • Comece a pesquisar o destino com, pelo menos, três meses de antecedência
  • Descubra quais documentos necessários para entrar no país escolhido
  • Busque um tipo de trabalho voluntário que seja semelhante às habilidades que você têm
  • Procure informações sobre a necessidade de vacinação prévia
  • Faça cursos preparatórios sobre a cultura local
  • Pesquise informações sobre o trabalho e o impacto local da ONG para a qual você trabalhará
Os programas

Volunteer Vacations
volunteervacations.com.br/

Central de Intercâmbio (CI)
www.ci.com.br/

Student Travel Bureau
www.stb.com.br/
 
Instituições esperam uma mão amiga
 
A viagem ao exterior é apenas mais uma forma de fazer trabalho voluntário, mas é possível dedicar tempo de férias para ajudar o próximo sem precisar sair do país. No Recife, existem dezenas de instituições esperando uma “mão amiga” e iniciativas dedicadas a fazer essa ponte. Na Ilha de Deus, comunidade pesqueira no bairro da Imbiribeira, existe até um hostel onde é possível se hospedar. A experiência de férias, explica Fábio Silva, funciona como uma porta de entrada, um teste para o ingresso definitivo no mundo da solidariedade. 

A forma mais fácil de encontrar uma atividade voluntária para realizar nas férias é ingressar na plataforma Transforma Recife. Com mais de 400 ONGs cadastradas, a ferramenta oferece trabalhos periódicos contínuos e pontuais. Alguns deles, no Sertão, em Fernando de Noronha, outros na Região Metropolitana. 

A segunda opção é participar da ação Mais Pão, promovida pela ONG Novo Jeito. Uma vez por ano, ela reúne um grupo de pessoas para doar alimentos e realizar atividades culturais, de promoção de saúde e direitos no interior do estado. Geralmente, a viagem acontece em julho. Há também um programa de voluntariado nas férias escolares para as crianças. Um grupo de 30 a 40 delas é levado para uma creche na Favela do Papelão, no Recife. 

A incubadora de projetos de empreendedorismo social Porto Social recebe voluntários para uma espécie de “day use”, onde a pessoa pode passar um dia útil doando conhecimento às 85 iniciativas incubadas. “Não há fronteiras para ajudar. Você tem que buscar aquilo por que tem empatia, com a causa que se identifica. No Brasil tem muita gente precisando de ajuda”, explicou Mariana Serra, que oferece viagens de voluntariado para Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo.
 
O que você pode fazer no exterior

1. Atuar com projetos educacionais em orfanatos no Haiti
Nove dias atuando em três orfanatos do país, dois deles na comunidade de Onaville -  o maior campo de deslocados internos do Haiti, com uma população estimada em 250 mil habitantes, formado após o terremoto. O programa inclui um workshop de fotojornalismo para os voluntários. 

2. Dar aulas de inglês e reforço para refugiados na Jordânia
De nove a 36 dias atuando no país, que tem o segundo maior campo de refugiados do mundo. A Jordânia tem 2 milhões de pessoas em situação de refúgio. O voluntário atuará na cidade de Fuheis, ao norte da capital, Amã, num centro comunitário para crianças sírias e iraquianas. 

3. Reformar casas no Peru
Entre 14 e 28 dias atuando na comunidade de extrema pobreza La Ensenada, ao norte da capital Lima. Os voluntários atuam na reconstrução de moradias e cozinham em restaurantes típicos peruanos, para vender doces na comunidade e ajudar a ONG na qual estão trabalhando.  
 
O que você pode fazer em Pernambuco
 
1. Distribuir alimentos no sertão
Uma vez por ano, geralmente em julho, a ONG Novo Jeito promove  viagem para alguma comunidade do sertão pernambucano. Além de levar alimentos, os voluntários reformam casas, prestam serviços de saúde e acesso a direitos. 
 
2. Ajudar na capacitação de artesãs na Ilha de Deus
O voluntário pode se hospedar no hostel da ilha e atuar nas ações do Centro Educacional Popular Saber Viver com empoderamento feminino, colheita e plantação de sementes de mangue, aulas de dança e aulas de inglês. 
 
3. Passar um dia atuando no Porto Social
A incubadora de empreendedores sociais Porto Social abre as portas para receber voluntários para atuar durante um dia, doando seu conhecimento profissional para ajudar na incubação e aceleração de mais de 85 projetos sociais. 
 
Princípios do voluntário de férias

Promover a dignidade
Evite palavras que desmoralizam ou propagam estereótipos. Você tem a responsabilidade e poder para se certificar de que o que escreve e posta não priva a dignidade das pessoas. Tenha em mente que as pessoas não são atrações turísticas.

Pedir permissão para expor 
Respeite a privacidade das pessoas e peça permissão para tirar fotos e compartilhá-las em rede social. Evite imagens de pessoas vulneráveis ou em posições degradantes, incluindo unidades de saúde. O cuidado  é necessário ao tirar e compartilhar fotos de e com crianças, que deve envolver o consentimento dos pais.
 
Questione suas intenções
Pense no porquê de viajar como voluntário. Suas intenções podem afetar como você apresenta suas experiências e arredores nas mídias sociais. Por exemplo, representando o contexto em que você está como mais “exótico” e estrangeiro do que poderia ser. Boas intenções não são desculpas para desconsiderar a privacidade das pessoas ou dignidade. 

Fonte: “How To Communicate The World: A Social Media Guide For Volunteers and Travelers” - Rad-aid