No Sertão, o frio como Triunfo Temperatura no município de Triunfo, na Serra da Baixa Verde, fica abaixo dos 20 graus durante o inverno

JAILSON DA PAZ
jailson.paz@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 01/12/2018 03:00

Quando o sol ameaça se por, “o frio é de rachar” no ponto mais alto do estado, o Pico do Papagaio. Os termômetros beiram os 10 graus centígrados. Dos 1.260 metros de altitude dá para ver um pedaço da Paraíba, por um ângulo. Em outra direção, as terras do Sertão do Pajeú se perdem no horizonte. As luzes da rede de iluminação pública, acesas no aproximar da noite, indicam as cidades de Carnaíba e Afogados da Ingazeira. E também Triunfo, cidade onde fica o Pico do Papagaio e o frio virou atrativo turístico.

 Quando o sol ameaça se por, “o frio é de rachar” no ponto mais alto do estado, o Pico do Papagaio. Os termômetros beiram os 10 graus centígrados. Dos 1.260 metros de altitude dá para ver um pedaço da Paraíba, por um ângulo. Em outra direção, as terras do Sertão do Pajeú se perdem no horizonte. As luzes da rede de iluminação pública, acesas no aproximar da noite, indicam as cidades de Carnaíba e Afogados da Ingazeira. E também Triunfo, cidade onde fica o Pico do Papagaio e o frio virou atrativo turístico.
 
As referências às temperaturas amenas de Triunfo estão no centro da cidade, caracterizado por um casario da segunda metade do século 19 e primeira metade do século 20. Em algumas, transformadas em pontos comerciais, vitrines e manequins expõem roupas e acessórios de inverno e propagandas de bebidas que combinam perfeitamente com a baixa nos termômetros. São vinhos e chocolates. Nas margens do açude, um dos símbolos turísticos do município, o relógio e termômetro dá as coordenadas do tempo.
 
Estando baixas as temperaturas, a presença de agasalhados em frente ao relógio e termômetro do açude é certa. Afinal, fotos exibindo o nível do frio comprovam que o frio costuma vencer o calor do Sertão. Vence com folga nos meses de junho e julho. A média histórica de julho é de 19 graus para a menor e 26 graus para a maior. No ano passado, a menor registrou até 16, enquanto neste ano ficou em 19.
 
Com os ventos da Serra da Baixa Verde, tendo Triunfo no topo, a sensação térmica é de temperatura menor e convidativa para o casaco. Os mais friorentos ousam colocar luva, cachecol e touca, o que não tiram sequer para subir a ladeira da Padre Ibiapina, rua de casario da segunda metade do século 19 e da primeira metade do século 20. Na subida, uma das opções de visita é a capela de São Luiz Gonzaga, estreita e com a Via Sacra descrita em espanhol, italiano e francês. Adiante, a rua termina na lateral da Igreja de Nossa Senhora das Dores. As paredes ocres do templo complementam o colorido do casario.
 
Ao subir pela Rua Padre Ibiapina, o andante pode optar. Dobrar pela Rua Coronel Deodato Monteiro ou seguir em direção à matriz, da qual no topo da escadaria se vê a Praça José Veríssimo Júnior, rodeada de prédios antigos. O fórum, com suas 10 portas, sete no térreo e três no primeiro andar, enche os olhos. Bem perto, ladeira abaixo, três imóveis bem preservados. De um deles sai o cheiro de pão fresco e de biscoito da Panificadora São João. Pode entrar, antes veja os azulejos, com o azul em destaque, da fachada.
 
Ladeira acima, aventurando-se pela lateral da Matriz das Dores, os vasos de flores multicoloridas das calçadas atraem para o casario da Rua Clemente Diniz, um dos mais charmosos conjuntos arquitetônicos do lugar. As fachadas de cores fortes surpreendem. Surpreso, cabe ao viajante optar: aciona a câmera e registra a imagem, primeiro, ou, segundo, aceita o convite dos bancos da Praça Monsenhor Eliseu Diniz e senta. Aconselho sentar. Reparar as fachadas, os traços limpos do prédio do Museu da Cidade.
 
Tudo parece se interligar no traçado de Triunfo. A cerca de cem metros da Praça Monsenhor Eliseu Diniz se alcança outra praça, a Dr. Arthur Viana Ribeiro. No centro dela, uma das relíquias do município e da história da eletricidade em Pernambuco, o Andorinha. Traduzindo, o motor a diesel que por décadas, a partir de 1920, gerou energia elétrica para a cidade. O feito coube a Manoel de Siqueira Campos, então prefeito. À frente do Andorinha, a Capela de Nossa Senhora do Rosário e bem perto à Fábrica de Criação Popular do Sesc, instalada no prédio onde funcionou a antiga cadeia do município.
 
O templo devotado à Virgem do Rosário é miúdo. Agradável. Aos habituados ao ouro e ao emaranhado das igrejas barrocas, a capela descansa os olhos com seus bancos de madeira sem luxo, as paredes de acabamento rústico, o telhado alto de madeira e caibros à mostra, o coro de gradil de poucos detalhes e o altar despojado e de nicho único, reservado à padroeira. “Aqui encontro paz”, disse o sacristão. É possível. Dali, ladeira acima, preferível de se percorrer a carro, chega-se ao Cristo Redentor, no Mirante da Boa Vista.
 
Amplo, o mirante recebe em dias frios uma brisa que lembra o Pico do Papagaio, o ponto mais alto do município. Pede agasalho para ver o pôr do sol e os telhados inconfundíveis dos pontos turísticos da cidade: o Cine Teatro Guarany, o teleférico que sobe e desce sobre o Lago João Barbosa, o Colégio Stella Maris, o Convento São Boaventura. Vê-se, vale lembrar, se não houver nevoeiro, fenômeno comum na cidade sertaneja com ares de serra. E que combina com o café de sabor intenso vindo das terras próximas ao pico e adoçado com o açúcar mascavo de engenhos do lugar.

O “Careta” se destaca no mirante do pico do papagaio
Do pico, com mais de 1,2 mil metros de altitude, pode-se ver um dos mais bonitos pôr do sol do semiárido nordestino. Quando o sol desaparece, a paisagem é ponteada pelas luzes noturnas de cidades da Paraíba e de Pernambuco, incluindo o centro urbano de Triunfo  
 
O que visitar
 
CINE TEATRO GUARANY
Construído pelos irmãos Carolino e Manoel de Arruda Campos, o edifício em estilo neoclássico foi inaugurado em fevereiro de 1922. O prédio, tombado em caráter estadual, é onde ocorre o Festival de Cinema de Triunfo desde 2008.
 
PICO DO PAPAGAIO
O lugar, próximo à divisa de Pernambuco com a Paraíba, está a 1.250 metros do nível do mar, chegando a ele por estradas de barro e pedra em meio a plantações de café e banana.
 
FURNA DOS HOLANDESES
O ponto turístico recebeu tal nome por se difundir no passado a história de que o local serviu de esconderijo para holandeses fugidos da Batalha dos Guararapes, ocorrida no litoral pernambucano em meados do século 17.
 
CACIMBA DE JOÃO NECO
Poço com cerca de 25 metros de profundidade e escavado, na década de 1930, para a convivência com as secas do Sertão do Pajeú. A cacimba tem o nome de quem a escavou.
 
MUSEU DO CANGAÇO
O equipamento, desmembrado do Museu da Cidade, foi reinaugurada em julho deste ano no Arruado Dr. Cordeiro. Peças da época do Bando de Lampião, o conhecido Rei do Cangaço, com atuação no Nordeste nas décadas de 1920 e 1930.
 
CASA GRANDE DAS ALMAS
Antiga propriedade do coronel João Timóteo de Lima, o imóvel do século 19 é um museu.  Lampião se hospedou nele diversas vezes em suas passagens por Triunfo.

As referências às temperaturas amenas de Triunfo estão no centro da cidade, caracterizado por um casario da segunda metade do século 19 e primeira metade do século 20. Em algumas, transformadas em pontos comerciais, vitrines e manequins expõem roupas e acessórios de inverno e propagandas de bebidas que combinam perfeitamente com a baixa nos termômetros. São vinhos e chocolates. Nas margens do açude, um dos símbolos turísticos do município, o relógio e termômetro dá as coordenadas do tempo. 

 

Estando baixas as temperaturas, a presença de agasalhados em frente ao relógio e termômetro do açude é certa. Afinal, fotos exibindo o nível do frio comprovam que o frio costuma vencer o calor do Sertão. Vence com folga nos meses de junho e julho. A média histórica de julho é de 19 graus para a menor e 26 graus para a maior. No ano passado, a menor registrou até 16, enquanto neste ano ficou em 19. 

 

Com os ventos da Serra da Baixa Verde, tendo Triunfo no topo, a sensação térmica é de temperatura menor e convidativa para o casaco. Os mais friorentos ousam colocar luva, cachecol e touca, o que não tiram sequer para subir a ladeira da Padre Ibiapina, rua de casario da segunda metade do século 19 e da primeira metade do século 20. Na subida, uma das opções de visita é a capela de São Luiz Gonzaga, estreita e com a Via Sacra descrita em espanhol, italiano e francês. Adiante, a rua termina na lateral da Igreja de Nossa Senhora das Dores. As paredes ocres do templo complementam o colorido do casario.

 

Ao subir pela Rua Padre Ibiapina, o andante pode optar. Dobrar pela Rua Coronel Deodato Monteiro ou seguir em direção à matriz, da qual no topo da escadaria se vê a Praça José Veríssimo Júnior, rodeada de prédios antigos. O fórum, com suas 10 portas, sete no térreo e três no primeiro andar, enche os olhos. Bem perto, ladeira abaixo, três imóveis bem preservados. De um deles sai o cheiro de pão fresco e de biscoito da Panificadora São João. Pode entrar, antes veja os azulejos, com o azul em destaque, da fachada.

 

Ladeira acima, aventurando-se pela lateral da Matriz das Dores, os vasos de flores multicoloridas das calçadas atraem para o casario da Rua Clemente Diniz, um dos mais charmosos conjuntos arquitetônicos do lugar. As fachadas de cores fortes surpreendem. Surpreso, cabe ao viajante optar: aciona a câmera e registra a imagem, primeiro, ou, segundo, aceita o convite dos bancos da Praça Monsenhor Eliseu Diniz e senta. Aconselho sentar. Reparar as fachadas, os traços limpos do prédio do Museu da Cidade.

 

Tudo parece se interligar no traçado de Triunfo. A cerca de cem metros da Praça Monsenhor Eliseu Diniz se alcança outra praça, a Dr. Arthur Viana Ribeiro. No centro dela, uma das relíquias do município e da história da eletricidade em Pernambuco, o Andorinha. Traduzindo, o motor a diesel que por décadas, a partir de 1920, gerou energia elétrica para a cidade. O feito coube a Manoel de Siqueira Campos, então prefeito. À frente do Andorinha, a Capela de Nossa Senhora do Rosário e bem perto à Fábrica de Criação Popular do Sesc, instalada no prédio onde funcionou a antiga cadeia do município.

 

O templo devotado à Virgem do Rosário é miúdo. Agradável. Aos habituados ao ouro e ao emaranhado das igrejas barrocas, a capela descansa os olhos com seus bancos de madeira sem luxo, as paredes de acabamento rústico, o telhado alto de madeira e caibros à mostra, o coro de gradil de poucos detalhes e o altar despojado e de nicho único, reservado à padroeira. “Aqui encontro paz”, disse o sacristão. É possível. Dali, ladeira acima, preferível de se percorrer a carro, chega-se ao Cristo Redentor, no Mirante da Boa Vista. 

 

Amplo, o mirante recebe em dias frios uma brisa que lembra o Pico do Papagaio, o ponto mais alto do município. Pede agasalho para ver o pôr do sol e os telhados inconfundíveis dos pontos turísticos da cidade: o Cine Teatro Guarany, o teleférico que sobe e desce sobre o Lago João Barbosa, o Colégio Stella Maris, o Convento São Boaventura. Vê-se, vale lembrar, se não houver nevoeiro, fenômeno comum na cidade sertaneja com ares de serra. E que combina com o café de sabor intenso vindo das terras próximas ao pico e adoçado com o açúcar mascavo de engenhos do lugar.


O “Careta” se destaca no mirante do pico do papagaio 

Do pico, com mais de 1,2 mil metros de altitude, pode-se ver um dos mais bonitos pôr do sol do semiárido nordestino. Quando o sol desaparece, a paisagem é ponteada pelas luzes noturnas de cidades da Paraíba e de Pernambuco, incluindo o centro urbano de Triunfo  

 

O que visitar

 

CINE TEATRO GUARANY 

Construído pelos irmãos Carolino e Manoel de Arruda Campos, o edifício em estilo neoclássico foi inaugurado em fevereiro de 1922. O prédio, tombado em caráter estadual, é onde ocorre o Festival de Cinema de Triunfo desde 2008. 

 

PICO DO PAPAGAIO 

O lugar, próximo à divisa de Pernambuco com a Paraíba, está a 1.250 metros do nível do mar, chegando a ele por estradas de barro e pedra em meio a plantações de café e banana. 

 

FURNA DOS HOLANDESES 

O ponto turístico recebeu tal nome por se difundir no passado a história de que o local serviu de esconderijo para holandeses fugidos da Batalha dos Guararapes, ocorrida no litoral pernambucano em meados do século 17. 

 

CACIMBA 

DE JOÃO NECO 

Poço com cerca de 25 metros de profundidade e escavado, na década de 1930, para a convivência com as secas do Sertão do Pajeú. A cacimba tem o nome de quem a escavou.

 

MUSEU DO CANGAÇO

O equipamento, desmembrado do Museu da Cidade, foi reinaugurada em julho deste ano no Arruado Dr. Cordeiro. Peças da época do Bando de Lampião, o conhecido Rei do Cangaço, com atuação no Nordeste nas décadas de 1920 e 1930. 

 

CASA GRANDE DAS ALMAS 

Antiga propriedade do coronel João Timóteo de Lima, o imóvel do século 19 é um museu.  Lampião se hospedou nele diversas vezes em suas passagens por Triunfo.