Serra Gaúcha muito além do inverno Colheita da uva, que ocorre de janeiro a março, tem atraído cada vez mais visitantes à região

Publicação: 09/03/2019 03:00

O frio da Serra Gaúcha já é um tradicional roteiro de inverno; agora, os turistas descobrem as novas possibilidades na região. A Estação Vindima, a colheita da uva, que ocorre no verão, de janeiro a março e tem atraído cada vez mais visitantes à cidade de Bento Gonçalves, a 120km de Porto Alegre (RS). As opções de passeios são variadas e incluem programas tanto para quem já conhece vinhos quanto para os amadores no assunto. É certeza encontrar vinhos que agradam a todos os paladares e de muita qualidade, mas o destaque é o Merlot, já que essa uva foi a que melhor se adaptou à região.

Do meio para o fim da estação, os produtores realizam a tradicional colheita da uva, após meses de longo preparo. Aos poucos, o que era apenas uma rotina da viticultura se tornou um atrativo turístico. Uma das vinícolas que oferece o roteiro da vindima é a Cainelli, um estabelecimento familiar gerenciado por Roberto e Bernadete Cainelli, e o filho Roberto Junior, enólogo responsável pela produção.

Ao chegar, o turista recebe uma breve explicação de Bernadete sobre a origem da família, que chegou ao Brasil em 1875 para “catare la Cucagna”, expressão que significa a busca pela Cocanha, país do imaginário italiano que seria como um paraíso na terra. Mas as condições no Brasil eram árduas, com pouca estrutura para os recém-chegados, que construíram casas de troncos de árvore e chão de terra batida, com porões de pedra para amenizar os invernos rigorosos do sul. “Com fé, trabalho e família, nossos antepassados superaram as dificuldades”, relata a matriarca.

De chapéu de palha e portando cestos de vime, o turista é liberado, então, para colher as uvas na vasta plantação. A colheita é embalada pelo músico Samuel Pedrotti, no violão, e pelo grupo Recordare e Vivere, coral feminino que engloba várias gerações de descendentes de italianos para manter viva a tradição do canto.

Toda a experiência é desenhada para lembrar a vindima dos colonos e das famílias da região. Como as manhãs eram de trabalho intenso e para evitar longas pausas, o lanche era servido em meio aos vinhedos. É o merendim, também reproduzido nas vindimas de hoje. Conta com polenta frita na hora, queijos, salames, pães, geleias e torta tirolesa com recheio de uva. Para refrescar, são servidos vinho tinto e branco, além de suco.

Ao final da colheita, o turista é levado de tuk-tuk até a entrada da vinícola, onde participa da pisa das uvas. Os cachos colhidos minutos antes são despejados em um grande tonel (nas vinícolas tradicionais, chamado de lagar) para que sejam amassados. A grande vantagem desse método e o motivo pelo qual durou tantos séculos é que ele não resulta na quebra da sementes. Assim, o suco não fica com o gosto forte e amargo presente nessa parte da fruta. O produto da pisa, é claro, não é bebido pelo visitante; todo o vinho consumido nas dependências e comercializado pela vinícola é feito em prensas automáticas.

O roteiro, que é perfeito para casais, famílias e grupos de amigos, tem duração de 150 minutos e custa R$ 130 por pessoa (descontos para crianças), com agendamento prévio. A vinícola também tem outras opções de passeio, que podem ser compradas pelo site. Além disso, você pode buscar um programa mais completo em agências de turismo, que montam excursões para percorrer vários estabelecimentos em um dia.

Em 2018, Bento Gonçalves recebeu mais de um milhão de turistas. Abertas o ano inteiro, as vinícolas são o destino mais procurado por quem quer conhecer essa região da Serra Gaúcha. Calcula-se que a cidade tenha entre 80 e 100 estabelecimentos. Na região adjacente, que conta também com Garibaldi, são mais de 200.

A Salton, fundada em 1910 e um dos nomes mais tradicionais no mercado, é uma das muitas opções de passeio. A empresa, que começou como um negócio de família, hoje vende os rótulos por todo o país e também exporta. Conhecida principalmente pelos espumantes, a vinícola tem produtos premiados no mundo. Para dar conta da produção, 95% das uvas vêm de produtores vizinhos. Além da visita pela vinícola e estrutura, a Salton também oferece degustação e aula de harmonização. O ingresso para o tour custa a partir de R$ 30. Em contraste, a vinícola Marco Luigi produz até 10 mil garrafas de cada rótulo. Mesmo sendo raros no mercado tradicional, os vinhos do estabelecimento têm preços que cabem no bolso, a partir de R$ 30.